Publicado em 19/07/2019 às 10h11.

Sérgio Furio: ‘Definitivamente, a Bahia é um mercado incrível’

O CEO da Creditas contou como foi empreender no Brasil e falou das possibilidades para o mercado baiano

Daniel Lyra
Sérgio Furio.Foto: divulgação.
Sérgio Furio. Foto: divulgação.

Há quem diga: “Em lugar estranho, é bom ter cautela”. Essa expressão serve de conselho para quem vai se aventurar em um lugar desconhecido. A sugestão é manter-se discreto até conhecer como as coisas funcionam. Indiscutivelmente, não foi assim que Sérgio Furio se comportou ao empreender no Brasil.

O espanhol, de 42 anos, não teve medo de encarar o sistema financeiro brasileiro e tentar mudar o cenário de juros altos que beneficia os bancos da Terra Brasilis. Ele abriu uma fintech, startup que visa inovar e otimizar serviços financeiros, em 2012. Com juros mais baratos e programas para refinanciar dívidas, a Creditas já conta com 700 funcionários e deve contratar mais 300 até o final do ano.

Confira o bate-papo da coluna Tipo Assim com o empresário.

Você teve a coragem de empreender no Brasil, sem, na época, ao menos falar português. Como foi esse desafio?

Bom, na verdade, partiu de uma ideia, um propósito e uma realização. Pelas taxas de juros estarem num nível absurdo no Brasil e se ter muito pouco acesso ao crédito. Foi não pensar muito. Se lança para frente que vai dar certo. O começo foi bem difícil. Comecei em abril de 2012. Juntei um time de quatro/cinco pessoas e a gente ficou com essa equipe bem pequena por um ano e meio. Demorou quase um ano para abrir a empresa.

Tinha que pagar a conta dos funcionários, pegar dinheiro no caixa eletrônico. Fui encontrando o jeitinho brasileiro…. Muita dificuldade desde o começo, muita burocracia, incredulidade do mercado. Falavam: isso não vai dar certo, os bancos nunca vão deixar. Entre 2015 e 2016, quase quatro anos depois de começar a caminhada, o mercado começou a ver que era possível. A gente começou a atrair investidores.

Ao começar com a Bankfacil, você esperou oito meses para faturar o primeiro real. Qual lição de persistência você pode passar para os novos empreendedores?

Definitivamente, a nossa história não foi algo que aconteceu de um dia para o outro. A gente apanhou para caramba. E não só esperar oito meses pelo primeiro real, mas provar que o modelo de negócio realmente funcionava. Até hoje, a gente continua tendo perdas, sete anos depois da empresa ter começado. Se você quer criar uma empresa grande e com impacto, vai ser um caminho longo. Não existe sucesso de um dia para o outro e a resiliência é uma qualidade que o empreendedor tem que ter.

Acho que tem duas grandes coisas que o empreendedor precisa ter, assim como as pessoas na vida. Uma é resiliência, saber que as coisas demoram e que normalmente tudo dá errado e, então, tem que seguir e seguir avançando. E tem que ter paixão.

Começamos 2019 com 60,1% das famílias brasileiras endividadas. Quais dicas você tem para essas famílias saírem dessa situação?

O endividamento em si não é ruim. Tem um grande mito que o brasileiro está endividado. Nós achamos que o brasileiro está mal endividado. O problema não é ter dívida ou não, mas qual a qualidade dessa dívida. Acontece que o brasileiro está endividado no cheque especial, no rotativo do cartão, no empréstimo pessoal. Na realidade, precisam pensar por que tem essa dívida.

Tem dívida que se toma por motivos bons e dívida que se toma por motivos ruins. Tomar uma dívida porque um pequeno empresário quer fazer um investimento é ótimo, pois ele está investindo no futuro. Tomar uma dívida porque a pessoa quer ter uma melhor educação pode ser bom. É preciso ver qual o custo dessa dívida e comparar com o retorno que ele vai ter. O que nós fazemos na Creditas é refinanciar dívidas caras com dívidas baratas. Se o nosso cliente entra pagando pela dívida 5%, 6% ao mês ou até mais, com a gente ele paga 1,5%. Afinal, o importante é: para que é a dívida e qual a finalidade dela.

Você enxerga potencial no mercado baiano?

Definitivamente, a Bahia é um mercado incrível que precisa de muito investimento e qualquer mercado que precisa de investimento precisa de capital. O baiano é alguém que tem ativos. Ele tem definitivamente carros, casa própria…. Se o baiano conseguisse pegar seus ativos e extrair dinheiro deles e reinvestir, aí você conseguiria crescer a economia baiana muito mais.

Qual a importância de oferecer conteúdo de qualidade aos consumidores, além do serviço?

Hoje, você começa com o problema do cliente. O problema, acreditamos, é muito uma falta de educação financeira. O que nós fizemos foi antes de criar um produto, criar a educação, para mostrar ao cliente como ele pode sair dessas dívidas, criar um melhor endividamento e economizar. Nossas primeiras contratações foram dois jornalistas e dois desenvolvedores. Os jornalistas escreviam conteúdo de educação financeira e os desenvolvedores criavam a plataforma de tecnologia. Com isso, há o conceito moderno de mercado digital, em que se cria uma audiência com base em um conteúdo de qualidade.

Quais os próximos planos da nave Creditas?

Durante sete anos, a gente focou em dois produtos, que foram crédito com garantia de imóvel e veículo. Chegou o momento no qual que esses produtos estão testados e geram dinheiro. Agora, chegou o momento da expansão, que vem acontecendo. Nos últimos cinco anos, a gente dobrou o número de funcionários. Hoje estamos com 700 pessoas e vamos acabar o ano com 1000 pessoas. Então, a expansão vai continuar, mais especificamente expansão de produtos.

Vamos entrar com um serviço de garantia da folha, um consignado privado; a indústria de placas solares e plataformas multiprodutos, pois recebemos uma licença do banco central para operar como instituição financeira. Estamos entrando em pagamentos também, e carteira digital e wallet. Temos um segundo bloco que não é de serviços financeiros. A gente quer poder oferecer educação e equipamentos para os nossos clientes. Isso quer dizer: usar nossa plataforma de clientes para conectar ele ao mundo com um produto mais barato.

O terceiro quesito de expansão é o internacional. Falamos sempre que esse momento chegaria e provavelmente ainda não vai ser este ano, mas nos próximos dois anos a gente vai estar fazendo isso. Então, para conseguir fazer tanto crescimento e tanto investimento em tecnologia, a gente está fechando uma rodada de investimentos que nos ajude a fazer todos esses planos.

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