Publicado em 12/11/2025 às 18h55.

Ativistas atribuem morte de animais marinhos à sondagens da ponte Salvador-Itaparica; entenda

Nos últimos dias, tartarugas-marinhas foram encontradas mortas em região onde foram realizados estudos para implementação do equipamento

Otávio Queiroz
Foto: Leitor/bahia.ba

 

Uma das obras mais aguardadas da Bahia, a ponte Salvador-Itaparica, ainda nem começou a ser construída e já está no centro de uma polêmica ambiental. Ativistas têm denunciado nas redes sociais que as sondagens realizadas pelo Governo do Estado na Baía de Todos-os-Santos estariam provocando a morte de tartarugas-marinhas que circulam na região. As publicações viralizaram em perfis ambientais no Instagram e vêm sendo replicadas por simpatizantes que acusam o governo de “promover a matança”. Para entender melhor o caso, o bahia.ba ouviu moradores, especialistas e representantes do poder público.

Sondagens da ponte Salvador-Itaparica

As sondagens são etapas técnicas de investigação do solo e do fundo do mar, essenciais para determinar a viabilidade e segurança da estrutura da ponte. De acordo com o Governo da Bahia, o estudo foi iniciado em 2024 e concluído em abril deste ano, após 12 meses de execução. O trabalho foi o primeiro no país a atingir 200 metros de profundidade, o que representa mais de duas vezes e meia a altura do Elevador Lacerda.

As perfurações começaram em Vera Cruz, seguiram por águas rasas e chegaram a áreas mais profundas, com até 67 metros sob a superfície. No total, foram feitos 105 furos ao longo do traçado previsto para a ponte, com análise das amostras em um laboratório montado no próprio canteiro de apoio. A operação envolveu três balsas, uma plataforma de perfuração e um sistema de compensação de ondas importado da China, garantindo precisão mesmo em condições climáticas adversas.

Segundo o governo, a etapa gerou cerca de 300 empregos diretos, mobilizou 20 empresas baianas e contou com investimento de R$ 200 milhões.

Mortes de tartarugas na região

Seis meses após a conclusão das sondagens, moradores da Praia de Taipoca, em Itaparica, registraram a morte de várias tartarugas-marinhas. Ativistas associaram os casos às perfurações realizadas meses antes. Segundo relatos, o primeiro animal foi encontrado em 19 de outubro, e outros quatro surgiram nos dias seguintes.

O estudante Felipe Teles, morador da região, afirmou, em conversa com o bahia.ba, ter encontrado duas tartarugas mortas na areia. “Eu estava caminhando e logo avistei um animal morto. Mais à frente, vi outro. Mas, pelo que os pescadores comentam, foram cinco no total”, relatou.

Tem relação?

O biólogo e pesquisador da Universidade Federal da Bahia (Ufba), José Amorim, considera improvável que as sondagens tenham causado as mortes. “É muito difícil estar associado à obra da ponte. Primeiro porque não há obra em andamento, e segundo porque as sondagens terminaram há meses. O potencial de impacto dessas atividades é mínimo. Qualquer ruído ou movimentação faria as tartarugas se afastarem naturalmente”, explicou.

Para o especialista, a hipótese mais plausível é que os animais tenham morrido por afogamento em redes de pesca, o que é comum na Baía de Todos-os-Santos. “As tartarugas costumam se enroscar nas redes e acabam morrendo. Quando o pescador recolhe, o animal já está sem vida”, completou, ressaltando que o problema não decorre de negligência, mas de um acidente recorrente nas atividades pesqueiras.

O que diz o Inema

Procurado pelo bahia.ba, o Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Inema) informou que não recebeu nenhuma denúncia oficial sobre o aparecimento de tartarugas mortas na Praia de Taipoca.

“Com base nas informações que circulam sobre o caso, uma equipe técnica foi acionada e seguirá até o local para realizar vistoria e adoção das medidas cabíveis, visando esclarecer a situação e garantir a proteção da fauna marinha”, informou o órgão, em nota.

Otávio Queiroz
Soteropolitano com 7 anos de experiência em comunicação e mídias digitais, incluindo rádio, revistas, sites e assessoria de imprensa. Aqui, eu falo sobre Cidades e Cotidiano.

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