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Publicado em 14/08/2025 às 16h17.

MD Chefe e Major RD lançam faixa contra a Lei Anti-Oruam

Em entrevista ao portal bahia.ba, MD Chefe explicou que o rap, historicamente, sempre serviu como canal de denúncia e resistência

Vitor Silva
Foto: Divulgação

 

A nova faixa Reunião de Matuto, lançada nesta quarta-feira (13) por MD Chefe e Major RD, chegou às plataformas digitais com videoclipe e um forte posicionamento político: a música é uma crítica direta à chamada “Lei Anti-Oruam” — proposta legislativa que visa impedir a injeção de verbas públicas em eventos com artistas que abordem temas considerados “inadequados”, como o rap e o funk. A faixa, no entanto, vai além da crítica pontual à prisão do rapper Oruam e busca refletir sobre a marginalização constante da cultura periférica.

Em entrevista ao portal bahia.ba, MD Chefe explicou que o rap, historicamente, sempre serviu como canal de denúncia e resistência. “O rapper sempre falou o que acha errado, o que acha certo, sempre deu voz pra quem não tinha voz. Então é natural que a gente se posicione quando vê um grupo sendo marginalizado. Se o rap não se pronuncia, tá deixando de ser rap”, declarou o artista.

Para ele, a tentativa de censura atual não é apenas contra Oruam, mas parte de um movimento mais amplo contra o crescimento e reconhecimento do rap. “A música não fala só sobre essa lei. Ela fala sobre qualquer tipo de tentativa de silenciar o nosso mercado, nossa arte, nossa cultura. E o Major RD, que é um dos mais autênticos do nosso mercado, foi o parceiro ideal pra essa mensagem.”

Além da crítica social, Reunião de Matuto também aborda a realidade periférica com outro olhar: o da autoestima. MD deixou claro que não vê seu trabalho como ostentação, mas como uma forma de afirmação de identidade. “Eu, em particular, não falo sobre ostentação, falo sobre autoestima. Quando vem do nosso povo, dizem que é ostentação. Mas é sobre mostrar que a gente pode também.”

Sobre a escolha estética do clipe, que remete ao Velho Oeste, MD revelou que foi uma construção conjunta com Major RD. “Esse universo conversa com o nosso. Isqueiro, charuto, cavalo, cowboy… tudo combina. O chapéu que eu usei foi o Major que me deu. É uma linguagem visual que traduz essa mistura entre nossos estilos e reforça a identidade do projeto.”

A parceria entre os dois não surgiu do nada. Segundo MD, ele e Major se conhecem há muitos anos, desde as batalhas de rima. “A gente tem uma coletividade muito boa. Desde que nos reaproximamos, eu queria fazer uma música com ele, só estava esperando o momento certo. E esse som, com essa pegada política e sonora, era o momento ideal.”

A valorização da diversidade musical dentro do entretenimento também foi destacada. “É um prato cheio pro público. Ouvir MD hoje, Major amanhã, Oruam no outro dia, Ariel no outro. Ter essas variações, essas vibes diferentes, é bom pro entretenimento. E o rap e o funk têm essa missão de atender também esse público, mesmo com toda a censura rolando.”

MD ainda falou sobre a importância de manter a autenticidade nas letras, especialmente em tempos de tentativas de silenciamento. Ele reforçou que artistas como Don L, Hariel, BK, MC Marks, Haridina e o próprio Major RD são nomes que ele acompanha por sua postura e originalidade. “Eu sou admirador do trabalho bem feito. Esses são artistas que eu paro pra ver e sempre aprendo algo.”

Na cena baiana, MD citou a recepção calorosa que teve recentemente ao visitar o estado e elogiou artistas locais, apesar de manter o nome do “parceiro Polêmico” em segredo. Sobre se aventurar em outros gêneros, como o pagode baiano, deixou a resposta no ar: “Quem sabe? Vamos deixar no mistério.”

O artista também compartilhou seus planos de expansão internacional. Com viagens frequentes a trabalho, MD revelou o desejo de levar o rap para outros continentes. “Já fui pra Europa, mas quero muito ir pra África — Moçambique, Angola, Cabo Verde. Também penso na América Central. A gente quer romper fronteiras.”

Por fim, MD Chefe reforçou a mensagem central do novo trabalho: usar o rap como ferramenta de conscientização, resistência e inteligência. “A gente quer levar o rap pra outro nível. Mostrar que podemos agir com inteligência, crescer como mercado e cultura. O objetivo é elevar o nível, sem perder nossas raízes.”

Assista ao clipe

Vitor Silva
Repórter de entretenimento, mas escrevendo sobre política, cidade, economia e outras editorias sempre que necessário; tem experiência em assessoria, revista, produção de rádio e social media

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