Publicado em 07/08/2018 às 18h51.

Mais de 34 mil mulheres foram agredidas somente nesta terça-feira

Criadora da Ronda Maria da Penha na Bahia, major Denice Santiago alerta as mulheres sobre relacionamentos abusivos: "Prestem atenção no corpo"

Rayllanna Lima
Imagem: reprodução/Youtube
Imagem: reprodução/YouTube

O Instituto Maria da Penha (IMP) alerta: a cada 2 segundos, uma mulher é vítima de violência física ou verbal no Brasil. Até as 18h51 desta terça-feira (7), de acordo com os dados da entidade, 34,4 mil mulheres haviam sido agredidas. No Nordeste, 3 em cada 10 mulheres já sofreram violência doméstica.

Também hoje a Lei Maria da Penha completa 12 anos. Na análise da major major Denice Santiago, que fundou a Ronda Maria da Penha na Bahia, os avanços precisam ser celebrados, mas ainda há muito o que fazer.

“Da mesma forma que temos que celebrar, porque a lei possibilitou a visibilidade desse tipo de violência, a gente tem que entender que essa ainda é uma lei muito recente, que vai tratar de um crime que é cultural, que está normalizado nas nossas relações. Então vai precisar ainda de mais tempo, empenho, atuação em rede, atividade para que consiga ser atendida na sua plenitude”, disse em entrevista ao bahia.ba.

A operação na Bahia acompanha mulheres vítimas de violência doméstica desde 8 de março de 2015. No acumulado dos três últimos anos, 2.389 mulheres passaram a ficar sob os cuidados de Denice. No período, pelo menos 134 homens foram presos por violência doméstica. “Eu costumo dizer que são 134 feminicídios a menos”, define a major.

Recomendações – Na maioria da vezes é difícil perceber que se está em um relacionamento abusivo. Às vezes até para o agressor. Para ajudar a identificar a violência doméstica, a comandante da Ronda Maria da Penha faz um alerta: “Mulheres, prestem atenção no corpo”.

“A mulher precisa estar atenta a essas violências cotidianas que nós estamos suscetíveis, que às vezes vêm mascarada de cuidado, carinho e amor. Mas, ao final, é uma violência doméstica, é um controle. Um exemplo que eu sempre passo é para elas prestarem atenção no corpo delas. Se quando receberam uma ligação ou mensagem do seu companheiro, a sensação não for de felicidade, mas de um frio na barriga, de angústia – e se tiver que mentir onde está, com quem está e o que está fazendo – ela está vivendo um relacionamento abusivo”, explica.

Após identificar, se o diálogo não resolver, a vítima pode entrar em contato com a Central de Atendimento à Mulher, pelo número 180. “Identificou? Converse com seu companheiro, explique que aquilo não está fazendo bem, para tentar uma solução. Se essa solução não for possível, ou caso essa violência já esteja instalada, o ideal é que ela denuncie. Temos casa de passagem e abrigo com endereço sigiloso que podem e devem ser utilizados pelas mulheres que se encontrarem em situações  de não ter para onde ir”, detalha a major Denice Santiago.

Avanços – Entre as principais medidas para avançar na redução de violência doméstica, de acordo com a criadora da Ronda Maria da Penha na Bahia, é trabalhar a cultura do machismo.

“Nós precisamos trabalhar mais com os homens. Ainda que seja uma lei plena, completa, que pensou na ressocialização do agressor, que pensou em diversas nuances desse crime, a teimosia masculina ainda faz com que mais mulheres sejam vítimas dessa violência. Acredito que a gente precisa trabalhar mais na educação, nessa re-significação cultural, de homens em específico, mas de mulheres também, sobre relacionamentos abusivos”, afirma.

Para celebrar a data, foi realizada nesta terça-feira, no Centro de Operações e Inteligência (COI) da Secretaria de Segurança Pública da Bahia, o workshop “Nivelamento de Ações no Enfrentamento à Violência Doméstica e Familiar Contra a Mulher: Fortalecendo a Rede”. Estiveram presentes representantes de 16 cidades baianas. “Nossa operação, nossa atuação hoje é muito precisa, mais divulgada nacionalmente. Viramos uma tropa de referência”, declara  major Denice.

A PM-BA foi a única no Brasil a ser premiado no Fórum Brasileiro de Segurança Pública devido as práticas inovadoras no enfrentamento da violência contra a mulher.

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