Publicado em 03/12/2018 às 09h31.

Chilenas questionam batismo de aeroporto com o nome de Pablo Neruda

Homenagem ao poeta chileno está sendo contestada por conduta ofensiva às mulheres; ele abandonou filha que nasceu doente e teria confessado um estupro

Redação
Foto: Reprodução/Twitter
Foto: Reprodução/Twitter

 

Nem um dos maiores escritores e poetas do século XX está a salvo de uma revisão sobre sua obra pelo seu comportamento machista e ofensivo às mulheres. Este é o caso do chileno Pablo Neruda, prêmio Nobel de Literatura, que pode virar o nome do aeroporto de Santiago, capital do país.

A proposta, já aprovada pela Comissão de Cultura do Congresso, precisa ser analisada pelo plenário. No entanto, muitos críticos contestam o merecimento de Neruda, diante dos relatos de uma conduta pouco amistosa com as mulheres. No livro sobre suas memórias, “Confesso que Vivi” (1974), o escritor chega a confessar um suposto ato de estupro a uma moça que limpava o seu banheiro, na época em que era embaixador do Chile no Sri Lanka.

“Certa manhã, determinado a tudo, peguei-a com firmeza pelo punho e olhei-a no rosto. Não havia idioma em que eu pudesse falar com ela. Se deixou ser conduzida por mim sem um sorriso e logo estava nua na minha cama (…)O encontro foi de um homem com uma estátua. Permaneceu o tempo todo de olhos abertos, impassível. Fazia bem em me desprezar. A experiência não se repetiu”, diz o trecho escrito pelo poeta.

A socióloga Claudia Dides questiona:”Por que colocar nomes de homens nos espaços públicos? Temos que reivindicar pelas mulheres”, disse à AFP, de acordo com matéria do UOL.A deputada Pamela Jiles, que conheceu o escritor comunista ainda na infância por ser neta do advogado do poeta que foi responsável pela sua mudança de nome, é uma das opositoras ao batismo do aeroporto.

“Me oponho ao fato do nosso aeroporto levar esse nome, porque considero que esses não são tempos de homenagear alguém que maltratava as mulheres, que abandonou sua filha doente e que confessou um estupro”, declarou ela.

“Temos outro prêmio Nobel com mais méritos estéticos do que Neruada e sem seus graves defeitos. Preferiria que se chamasse ‘Aeroporto Professora Lucila Godoy Alcayaga”, acrescentou ela. Lucila Alcayaga foi uma poetisa chilena, diplomata e feminista, vencedor do Nobel de Literatura em 1945.

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