Publicado em 10/05/2016 às 22h46.

Discursos políticos roubam a cena em palestra com Duvivier e Xico Sá

Evento “Você é o que você lê”, aconteceu na noite desta terça-feira (10), na Livraria Cultura do Salvador Shopping

Clara Rellstab
Foto: Clara Rellstab
Foto: Clara Rellstab

 

“Nada de política!”, ordenou uma das assessoras do evento “Você é o que você lê”, que aconteceu na noite desta terça-feira (10), na Livraria Cultura do Salvador Shopping. O bate-papo reuniu o jornalista Xico Sá, a atriz e diretora Maria Ribeiro e o “multimídia” Gregório Duvivier – o trio “esquerda caviar”, como eles próprios se denominaram. Não é preciso ser gênio para descobrir que não teve jeito: com perdão do trocadilho, mas a pauta política entrou pela porta da frente.

Ao cumprimentar o público soteropolitano, Sá, conhecido por sua paixão pelo futebol, saudou os torcedores rubro-negros, campeões baianos de 2016. “Eu não acredito nessa tal maldição de vice do Vitória. Agora, a outra maldição de vice…”, deixando em aberto a clara referência ao vice-presidente da República, Michel Temer (PMDB). Depois de um passeio rápido sobre as experiências literárias de cada um dos entrevistados e de suas mais recentes obras lançadas, o debate foi aberto ao público e as perguntas sobre o cenário político brasileiro predominaram.

O discurso do deputado federal Jair Bolsonaro (PSC-RJ), de saudação ao coronel torturador da ditadura Carlos Alberto Brilhante Ustra, foi imediatamente lembrado pelo trio. “Essa brincadeira pode custar caro! A forma perversa como ele falou não é brincadeira nem para se fazer em um bar. Será que esse povo não lê nem um livro sequer? Nem um Paulo Coelhozinho [sic]?”, brincou o pernambucano, que arrancou gargalhadas da plateia. Gregório completou: “Este exército de ‘Bolsominions’ é, sobretudo, ignorante. Eu não acho que essas crianças sejam, de fato, a favor da tortura, elas só não sabem o que é”, apostou.

Na despedida do público, o carioca retomou o tema “ausência de memória” do brasileiro. “A gente teve uma ditadura onde ninguém foi preso. Como é que a gente vai aqui no Pelourinho e não tem uma placa dizendo que ali era um lugar de comércio de escravos? A gente não olha para o passado e acaba ficando com aquele clichê: quem não estuda história está fadado a repeti-la”, deduziu.

Depois de muita conversa, ficou claro, nas próprias palavras de Xico Sá que, no cenário da literatura nacional, “a crise é de leitores e não de autores”.

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