Publicado em 30/10/2018 às 09h02.

Elza Soares relembra ditadura: ‘Tomaram nossa casa, foi metralhada’

Em entrevista ao "Programa do Porchat", cantora lembra que ficou "apavorada" e admite insegurança com possível retrocesso: "Estamos vivendo tempos tenebrosos"

Redação

Conhecida por sua trajetória de luta pessoal, a sambista Elza Soares relembrou os tempos sombrios da ditadura militar de 1964 , quando teve a sua casa “metralhada” por militares. Sem citar o presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL), ela admitiu ter medo de possível retrocesso no futuro em entrevista ao “Programa do Porchat”, exibido na Record TV – emissora de Edir Macedo, que apoiou publicamente o capitão reformado.

“Tomaram nossa casa, foi metralhada e a gente foi embora para a Itália. Eu brincava com as crianças, entrei, começamos a ouvir barulho de tiroteio. O Botafogo [clube em que Mané Garrincha, então seu marido, jogava] mandou um guarda tomar conta da casa que morávamos no Jardim Botânico, ele foi baleado no braço. Fiquei completamente apavorada por causa dos filhos. Eu tinha um piano na sala, ele foi aberto no meio”, recorda.

Na época, fugiu para a Itália e recebeu a ajuda de Chico Buarque: “Chico soube que eu cheguei na Itália e foi um grande amigo, aquele companheiro. Fiquei feliz nesse período”.

Elza cita Cazuza ao dizer que vê o “futuro repetir o passado” e se preocupa com o atual cenário político no Brasil. Para a cantora, a sociedade estava “indo mais ou menos bem”, mas “deu um revertério”. Questionada por Porchat sobre as pessoas que enaltecem a ditadura militar, a artista foi enfática.

“Que horror, ninguém pode dizer isso, não […] Nada mudou. A gente tem que ter muita coragem para passar por esse momento. A gente pede a Deus para que esse momento seja rápido”, disse ela. O apresentador acrescentou: “O futuro é perigoso”.