Publicado em 09/05/2017 às 08h58.

Gil sorri diante da morte: ‘Com a morte avança-se para além’

O cantor e compositor participou do programa "Conversa com Bial" nesta segunda-feira (8) e refletiu sobre um dos assuntos mais mistificados da humanidade

James Martins
Foto: Reprodução TV Globo
Foto: Reprodução TV Globo

 

Gilberto Gil participou do programa “Conversa com Bial” nesta segunda-feira (8), na TV Globo. Após cantar um de seus clássicos mais recentes, “Não Tenho Medo da Morte” (2008), o compositor baiano conversou sobre o assunto com o apresentador. “Muitas sociedades humanas têm o culto à morte. A maneira de encarar a morte como um momento importante, de transcendência, de transformação, e diria mesmo, em certas civilizações, um momento de avanço: com a morte avança-se para uma coisa além”, disse o cantor.

Filho de médico (tropicalista!), Gil lembra que convive com a morte desde a infância, com seu pai sendo requisitado para socorrer pessoas que nem sempre escapavam de passar. Ele reflete ainda sobre a transformação do assunto em tabu, no Ocidente, uma derivação do anseio de eternidade alimentado pelo avanço da mesma medicina a que seu pai se dedicou: “A civilização ocidental, com o aprofundamento da medicina, a ampliação da idade, a longevidade… que todas essas coisas aumentaram… aumentou também o mito da vida eterna, da eterna juventude. […] A partir da modernidade a morte virou tabu!”.

Pedro Bial, então, pergunta quantos dias ele passou internado no ano passado. “Fiquei oitenta e tantos…”, responde. E o apresentador conta que, desses, uns 20 dias ele mesmo esteve internado ao lado de Gil, no mesmo hospital, sem que ambos soubessem. “Naquela ocasião eu pensei muito na morte”, confessa o entrevistador. E Gil, mantendo sempre a serenidade e o sorriso: “Você ainda é menino, comparado comigo. Eu vou fazer 75! Você ainda está na casa dos 50. Acho que só depois dos 60 essa meditação se aprofunda. Com a velhice, a meditação sobre a morte se torna mais impositiva, mais necessária mesmo”.

Por fim, ele cita a eutanásia, o “direito à morte”, e conta o caso de um médico seu amigo que auxiliou um colega a evadir-se, a “ir embora”, mesmo sendo um procedimento proibido no Brasil. “Durante 15, 20 dias ele foi diminuindo a alimentação, as condições de sobrevivência etc. etc. até que o colega dele foi embora…”, concluiu, sorrindo. Um sorriso sem deboche, mas com alegria e, podemos mesmo dizer, com humor. Uma risada na cara da morte, mas que não a desfeiteia e sim a cumprimenta. Como São Francisco de Assis, Gil cumprimenta a irmã morte. Como só aos sábios é dado fazer. Veja:

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