Publicado em 27/01/2017 às 16h15.

O Terno: Basile fala sobre show com Maglore, João Dória e Temer Golfista

A banda paulistana traz o disco "Melhor do Que Parece" ao Pelourinho neste sábado (28). Confira a entrevista com o baterista Gabriel Basile

Clara Rellstab
Foto: Divulgação
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No dicionário, o verbete “terno” surge com diversos significados. Caso queira usá-lo como adjetivo, ele quer dizer “inclinado à amizade ou ao amor; afetuoso, meigo, delicado”. Se procurar por um substantivo, há duas opções: vestuário masculino de três peças (paletó, colete e calça) ou um grupo de três coisas ou pessoas; trio, trindade. Formada em 2012, a banda paulistana “O Terno” mistura todas essas definições. Mistura, aliás, é a palavra que dá o tom ao trio formado por Tim Bernardes, Guilherme D’Almeida e Gabriel Basile.

No site oficial do grupo, eles se definem como um power-trio-de-canção-rocknroll-pop-experimental. O que quer que isto queira dizer, agradou. Depois de dois álbuns elogiados pela crítica – o “66”  (2012) e “O Terno” (2014) –, em 2016 a banda se consolidou com o disco “Melhor do que parece”, que entrou nas principais listas de sites e revistas de música como um dos melhores do ano.

As composições, todas de Tim Bernardes (filho de Maurício Pereira, do grupo Os Mulheres Negras), são uma síntese bem humorada e satírica da geração millenium. Nas letras, ele reconhece a posição privilegiada da “classe média enjoada com pinta de artista”, diz que “o que toca na novela não tem graça e vai pro rádio pra tocar mais uma vez”, o que faz com que ele corra para internet, como todo garoto antenado, e baixe um embalo quente de 1966.

Com clara influência dos Beatles, Beach Boys e Os Mutantes, a banda vem a Salvador neste sábado (28) para dividir palco com a baiana Maglore, no evento “Maglore Convida”, que acontece na Praça Tereza Batista, no Pelourinho. A apresentação começa às 20h, com ingressos a R$ 20 e R$ 40. Em entrevista ao bahia.ba, o baterista Gabriel Basile comentou a parceria com Tom Zé, com duas músicas escritas por Tim para o cantor – “Papa Francisco perdoa Tom Zé” e “Zé a zero” – e repercutiu o projeto “Cidade Linda”, de João Dória. Sem esquiva, o baterista falou ainda sobre a forma que “Temer Golfista”, termo que estampa uma camiseta usada por eles, encara a cultura.

Confira abaixo a entrevista na íntegra:

Foto: Divulgação
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bahia.ba – No site da banda, vocês se definem como um “power-trio-de-canção-rocknroll-pop-experimental de São Paulo”. Como assim?

Gabriel Basile – Sinceramente, não sei se o termo é tão bom. Todo mundo pergunta: ‘Qual é o gênero?’, ‘O que vocês cantam?’. Mas é tão difícil essa demanda de ter que dar um nome para a coisa. Acho que seriam muitos rótulos, porque a cada disco a gente está se atualizando e remodelando os rótulos. De fato, tocamos rock. Mas também tocamos samba e outros gêneros. Somos um liquidificador.

.ba – Você entrou para a banda em 2015, e de o “O Terno” (2014) para o “Melhor do que parece” (2016), é notável que as músicas e arranjos ganharam uma “pegada” mais otimista. Tem a ver com a sua chegada?

GB – Espero que sim (risos). Acho que faz parte da trajetória da banda, formada por três pessoas. É uma coisa que tem a ver com o caminhar do próprio Tim, que é o compositor de todas as letras. É fato que eu contribuo sim, mas não sou o único responsável. Sempre fomos muito amigos, mesmo quando eu não fazia parte da banda eu tava por dentro, dava opinião, pitaco. Acho que foi um processo natural.

.ba – Na música “66”, há um trecho que diz que “tudo o que é novo hoje em dia falam mal”. Vocês acham que existe, atualmente, uma tentativa de parecer antigo e, assim, diferente ou cult?

GB – Uma banda surgir agora e querer entoar suas referências, que são antigas, não quer dizer que ela quer soar diferente. Agora acho que foi uma tendência, de uns tempos pra cá, essa retomada de sons antigos, o que eu acho bacana até. Mas este não pode ser o único pretexto da banda, criar uma música como uma imitação é insustentável. Usar o timbre antigo de uma forma criativa, é superlegal e interessante.

.ba – A canção “O Cinza” acabou se tornando bem propícia para esse momento de São Paulo com o João Dória. O que a banda acha do projeto Cidade Linda?

GB – Eu acho um programa ignorante, no sentido que ignora uma parte da cidade que é importante. Ignorar no sentido de esquecer o espaço físico e muita gente que está envolvida nisso. É simbólico, não é simplesmente pelo grafite, mas é uma forma de perceber que este prefeito não entende diversidade cultural. O grafite transforma coisas concretas em arte. E se um gestor não consegue enxergar isso, ele é ignorante. Na música, a gente fala nesta cor da cidade, mas que não é essa cor da intolerância, mas uma cor que exemplifica a cidade que é conhecida como uma cidade do concreto, a terra da garoa. Mas pegar um lugar colorido e passar cinza por cima, é uma visão – no mínimo – restrita.

.ba – Rola de emprestar aquele uniforme laranja que vocês usam no show para ele?

GB –  (Risos) O cara é um cosplay.

.ba – E a camisa do Temer Golfista, veio de onde?

GB – A Alasca Filmes, uma produtora que fez o clipe da ’66’ e da ‘Ai ai como eu me iludo’, produziram a camiseta, a gente gostou para caramba e decidimos usar em shows.

Temer Golfista (Foto: Reprodução/Instagram)
Temer Golfista (Foto: Reprodução/Instagram)

 

.ba – A banda atua de forma independente. O único lugar que os fãs podem ter acesso às produções do grupo é a plataforma online. Com a ascensão latente – indicações em listas criadas por revista especializadas como a Rolling Stones – vocês pretendem mudar a política da banda?

GB – Ser independente é uma forma de existir. Não ser independente é o quê? Estar em uma gravadora? Mesmo assim você precisa andar com as próprias pernas. Não existe mais esse velho de modelo de gravadora, que você pensa na música e eles pensam em todo o resto. A gente fez esse disco com ajuda de edital, o Natura Musical, mas mesmo assim a energia artística é nossa. A gente vai achando formas de financiar o nosso trabalho, porque ser independente é um momento da cultura.

.ba – A banda gravou, como você disse, o último disco por meio da política de editais. Neste novo governo, liderado por Michel Temer, uma das primeiras medidas foi a extinção do Ministério da Cultura. Vocês acham que a instabilidade no setor pode prejudicar, de alguma forma, a banda e outros grupos que necessitam da política de editais?

GB – A gente tem muitos problemas há muito tempo. O sistema de editais é muito falho em vários sentidos. O necessário seria que o Estado pudesse criar instrumentos para financiar as várias produções artísticas. A Lei Rouanet, por exemplo, é boa, mas também é muito falha, porque deixar na mão das empresas a escolha de quem apoiar acaba sendo um truque de marketing. No governo Temer, a coisa que ele fez no primeiro dia foi extinguir o Ministério da Cultura, e foi uma atitude simbólica – assim como o ato de cobrir os grafites em São Paulo – que quer dizer que a cultura não é prioridade e pode ser cortada assim que preciso. É importante todo mundo entender o poder da cultura no nosso país, tão forte em tantas áreas. Ela não deve ser tratada à margem, faz parte da educação, até da saúde do cidadão.

.ba – O Tim compôs duas músicas para o Tom Zé: “Papa Francisco perdoa Tom Zé” e “Zé a zero”. Como surgiu a parceria?

GB – Foi naquela época em que o Tom Zé fez uma locução para a Coca-Cola. A galera caiu para cima julgando o Tom, dizendo que ele tinha se vendido, falando absurdos. Marcos Preto, um jornalista e produtor, decidiu fazer um disco dele com a galera nova e chamou ‘O Terno’. Daí, depois disso, o Tom ficou próximo da banda, é um cara que vira e mexe a gente entra em contato. [A faixa ‘Papa Francisco Perdoa Tom Zé’ tem trechos como ‘Sou a garotinha ex-tropicalista/Agora militando em um movimento/Já não penso mais em casamento/Mas se tomo Coca-Cola acho que estou me vendendo’ e ‘Papa francisco vem perdoar/O tipo de pecado que acabaram de inventar’].

.ba – Ainda sobre Tom Zé, ele fez um comentário bem interessante sobre o último disco de vocês. Vou ler: “Tinindo os agudos de sua preciosa voz de tenor, Tim do Terno enternece com ternos tentáculos nosso tímido coração em um CD de ternura que treme turmalinas nas transas e nos testículos!”. Eu quera saber qual disco tem esse mesmo efeito em você?

GB – Só o Tom Zé consegue brincar assim (risos). Vários discos de Jorge Ben, o ‘Tábua de Esmeralda’, é um disco que eu acho foda. Tem disco pra caramba. O Jorge Mautner é um cara que eu gosto para cacete. Dá pra ficar falando a vida inteira falando sobre o disco, música boa é o que não falta.

Foto: Reprodução/Instagram
Foto: Reprodução/Instagram

 

.ba – As listas dos melhores álbuns nacionais de 2016, divulgadas pelas revistas e sites do gênero têm sido bem parecidas. Junto com”O Melhor do Que Parece”, d’O Terno, aparecem Céu, com “Tropix”, o disco póstumo homônimo do Sabotage, Mano Brown com o “Boogie Naipe”, o “Duas Cidades” da Baiana System, Metá Metá com o “MM3” e o “Princesa”, da Carne Doce. Você ouviu os trabalhos? 

GB – A gente ficou muito feliz em estar em várias delas. O disco do Metá Metá e da Céu eu gosto para caramba. O do Baiana [System] eu ouvi recentemente e tô com muita vontade de ouvir de novo, gostei bastante. É um baita disco e me disseram que o show é incrível (risos). Sabotage eu não ouvi o disco ainda. Outro disco que apareceu bastante é o da Carne Doce, que tem um clipe lindo. Mas se algum ficou de fora, não to conseguindo lembrar. Até porque tem várias listas, as vezes com 50 artistas. 

.ba – Como surgiu o convite para tocar com a Maglore? Vocês já dividiram palco antes?

GB – A gente nunca dividiu um palco com a Maglore, mas é uma banda que tem tudo a ver com a gente, por ser tudo a ver. E esse projeto deles, do Maglore Convida. Assim que eles convidaram, foi uma unanimidade entre a gente. O show é muito legal, em um lugar muito bacana. Eles chegaram para nós de uma forma muito organizada. Além do mais, vir a Salvador estava na nossa cabeça, fazer um show legal, em um lugar bacana. Então, essa foi a oportunidade que a gente estava esperando.

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