Publicado em 10/06/2019 às 17h38.

Geraldo Jr.: ‘Tenho interesse em governar minha cidade’

Ao bahia.ba, o presidente da Câmara Municipal não descarta a possibilidade de entrar na disputa já em 2020, mas pondera que isso tem que vir 'da vontade popular'

Marina Aragão
Foto: Reginaldo Ipê/CMS
Foto: Reginaldo Ipê/CMS

 

“É uma luta diária”, diz o presidente da Câmara Municipal de Salvador, vereador Geraldo Jr. (SD), sobre o exercício da chefia do Legislativo. Em entrevista ao bahia.ba, ele afirma que a marca de sua gestão “é a participação ativa da sociedade civil”. De acordo com o presidente, “cuidar de gente é vocação”, e isso está atrelado à necessidade de aproximação com a população.

Neste sentido, embora diga que é cedo para fazer prospecções, Geraldo Jr. manifesta seu interesse em governar Salvador. Ele não descarta a possibilidade de ser candidato a prefeito já em 2020, mas pondera que isso deve vir “da vontade popular”.

Geraldo Jr. relativiza suposta vantagem do vice-prefeito Bruno Reis (DEM) na disputa pela sucessão de ACM Neto (DEM), devido à grande exposição de sua figura na mídia e da intensificação de entrega de obras da prefeitura. “Se entregar e obras fosse o que faz a diferença, Bolsonaro não seria presidente da República”.

O vereador comparou sua proposta com a do presidente da República. “A expectativa é de um governo de mudanças e alterações, e eu me encaixo em um conceito semelhante a esse”.

Geraldo falou ainda sobre os convites que tem recebido para trocar de partido, como os “diversos convites” do vice-governador João Leão para o Partido Progressista (PP).

Confira a íntegra da entrevista.

Foto: Max Haack/ Ag. Haack/ bahia.ba
Foto: Max Haack/ Ag. Haack/ bahia.ba

 

Como tem sido o exercício da presidência da Câmara?

Uma luta diária. Minha responsabilidade é muito maior em função da minha eleição, diferentemente dos outros presidentes que aqui me antecederam. Presidentes que fizeram um trabalho diferenciado nesta Casa.
O fato de ter sido aclamado por toda a casa, pelos vereadores da situação e da oposição, me leva a uma responsabilidade muito maior. Porque quando se tem vencidos e vencedores, você sabe a fatia daquilo que é de responsabilidade sua, do que você tem que gerenciar e administrar. Mas a Casa toda está neste processo. Não falo isso em relação a cargos, porque não conduzi a minha presidência com divisão de cargos, falo em relação a espaços políticos. Aqui, a gente tem partidos que pensam de forma diferente, ideologicamente diferente, e vereadores que representam a cidade na sua forma. Eu sou vereador da base do prefeito ACM Neto, mas tenho uma relação de amizade, parceria, cumplicidade, de ordem política das decisões com a oposição. Todos sabem que eu não atropelo o processo político nesta Casa. Obedeço os ritos regimentais, respeitando o contraditório, respeitando os prazos regimentais de tramitação dos projetos, então, a responsabilidade é muito grande para mim. É uma missão árdua ser presidente por aclamação. Dá-lhe a satisfação pessoal, mas, ao mesmo tempo traz um poder de responsabilidade muito maior.

Neste sentido, o senhor, por ser da base do prefeito ACM Neto, acaba tendo uma ligação e um alinhamento com ele. Existe alguma queixa, de um vereador ou da bancada como um todo? Já chegou ao seu conhecimento alguma insatisfação da oposição?

Não, de forma alguma. Se tem vereadores que têm demonstrado satisfação a título de excelência com o presidente são os vereadores da oposição. Se você fizer uma enquete, acho que é o melhor momento que esta Casa vive, onde os vereadores vivem em perfeita harmonia. Porque eu pratico a gestão, como chefe do poder Legislativo, com harmonia, decência, lisura e transparência.

O senhor avalia que já teve sua prova de fogo no plenário?

Com certeza! A cada dia é um desafio, a cada projeto é um desafio. Vocês conseguiram acompanhar o compromisso que tinha, na época em que eu ainda era candidato à presidência desta Casa, de entregar à cidade o Estatuto da Igualdade Racial e do Combate à Intolerância Religiosa. Nós temos no cenário nacional, no cenário estadual, e por que uma capital como Salvador não tem um estatuto como esse? Um projeto que está tramitando há mais de 10 anos nesta Casa. Nós conseguimos, junto com os vereadores. Eu agradeço a confiança que eles me deram. É aquilo que eu sinalizei no plenário: quem quer gestos precisa dar gestos, quem quer ser servido precisa servir. É preciso ter gratidão, lealdade, e o poder da decência de entender que a vida é construída por gestos e em você ceder. Isso foi o que fez esse projeto ter sido aprovado na Casa, aguardando apenas a sessão por parte do prefeito ACM Neto.

O que o senhor quer deixar como marca na presidência da Câmara, na passagem pela chefia do poder?

A nossa logo deixa muito bem claro que o futuro da cidade passa pela Câmara Municipal do Salvador. Tenho dito que cuidar de gente é vocação, mas quando eu falo isso quero dizer da necessidade da aproximação com a sociedade como um todo. O que a gente espera é que essa missão fique para a sociedade. Que a sociedade entenda qual é o papel do vereador e que o vereador possa ter uma relação muito mais próxima. Eu posso citar alguns instrumentos: a TV Câmara, a Rádio Câmara, o nosso portal, a Comissão Permanente de Legislação Participativa. A população pode participar ativamente do processo da Casa, sugerindo ideias, sugerindo proposições. Mas a Lei Orgânica do Município estabelece que para o cidadão propor algo para o Legislativo municipal, precisa colher 5% das assinaturas da cidade do Salvador. Pelo censo, já ultrapassamos mais de 3 milhões de pessoas. Seria uma média de 150 mil assinaturas. Então seria impossível alguém propor algo a esta Casa. A Comissão Permanente de Legislação Participativa tem como escopo receber essas ideias da sociedade civil, empresarial, sindical, da população como um todo. Essa comissão formata esse entendimento, esse encaminhamento, submete à Mesa Diretora em ato contínuo, eu submeto à Comissão de Constituição e Justiça para que ela possa ter a livre tramitação nesta Casa. Ou seja, como marca da nossa gestão, queremos deixar muito bem claro, não só no discurso, que as pessoas podem participar desse processo. Que as pessoas possam entender que quando elegem um vereador, ele tem a representação institucional da Legislação da sua cidade e o futuro da cidade vai continuar passando por aqui.

Foto: Luiza Lopes/bahia.ba
Foto: Luiza Lopes/bahia.ba

 

Vai chegando o fim de um governo de oito anos de ACM Neto. Dá para fazer um balanço? O que não foi feito e precisa ser tratado como prioridade? Ainda dá tempo de fazer ou vai ficar para o próximo prefeito?

É um balanço muito positivo. O prefeito ACM Neto está no ranking dos grandes prefeitos, principalmente das capitais, como uma grande referência. A cidade tem uma nova roupagem. Logicamente que existem coisas que precisam ser repensadas e reestruturadas. Eu acho que o prefeito ainda tem muitas entregas a fazer até o final deste mandato. Nós precisamos dar uma atenção ainda maior à área da saúde e da educação. Precisamos ver de que forma a população pode ter o serviço da saúde com maestria e mais celeridade. Temos alguns entraves ainda institucionais que devem ser vencidos. E a expectativa do prefeito ACM Neto, além de fazer essas entregas, é fazer o seu sucessor. O prefeito tem a preocupação de ter um sucessor que dê continuidade àquilo que ele vem fazendo. Porque ele sabe que se assim não o fizer, o que ocorrer em 2020 terá um reflexo extremamente necessário em 2022.

Parece que o senhor também está no meio desses possíveis sucessores e candidatos.

Ele citou meu nome e o de Guilherme Bellintani. E fez uma sinalização que, quando se fala da política da cidade do Salvador e da sucessão, sempre os nomes que eram citados eram os nomes ligados a ele, o que era um motivo de alegria e regozijo. ACM Neto sinalizou, inclusive, que a relação que tem comigo e com Bellintani é uma relação pessoal, social, e que os nossos nomes não estavam descartados para esse processo. Em uma entrevista, Zé Eduardo perguntou ao prefeito se a minha relação de amizade e cumplicidade com Bellintani o incomodava, e ele disse que não, o que me deixou muito feliz. Todo mundo sabe que Bellintani é o meu melhor amigo no cenário político. Uma amizade que extrapola a vida política. Mas eu tenho dito que é muito cedo para falar das eleições de 2020. Eu preciso fazer entregas e realizar aquilo a que eu me comprometi na presidência desta Casa. Eu quero deixar muito bem claro que eu tenho interesse em governar minha cidade, mas isso tem que vir da vontade popular assim como veio a presidência pela vontade dos vereadores desta Casa.

Existe uma articulação real de chapas com o senhor e o vice-prefeito Bruno Reis?

Bruno é um amigo da vida pública. Mas ele é um homem de grupo. Já deixei isso muito bem claro: não posso dizer ‘desta água não beberei’. O processo político tem que ser aberto, consciente e democrático. Eu posso configurar numa chapa como essa, mas vai depender de entendimentos políticos, da vontade popular, do meu desempenho. Como Bruno pode ser um candidato a vice-prefeito na minha chapa, pela experiência que já tem como vice-prefeito da cidade do Salvador, por aquilo que ele já oferece à cidade. Se lá na frente meu nome aparecer melhor que o de Bruno, ele entendendo que é um grupo político, e sei que ele entende, porque sempre fez da sua vida pública isso, ele pode declinar da condição de ser candidato e me apoiar a prefeito da cidade do Salvador, e quem sabe, ser, um dia, o meu vice-prefeito na chapa.

Mas parece que Bruno leva certa vantagem. Ele tem uma exposição grande na mídia. A prefeitura intensificou a entrega de obras. Não é fácil vencer isso nas prévias.

As últimas eleições demonstraram que a população não pensa mais dessa forma. A população entende, e há uma maturidade tão grande dela, que a entrega de obras é de obrigação do poder público. O povo não individualiza ou sistematiza, não coloca a entrega vinculada ao ente público, a um agente público, que, no caso, somos nós. A população mostrou nas eleições tanto para deputados estaduais, federais e até para o cenário nacional que, se entregas e obras fossem o que faz a diferença, Bolsonaro não seria presidente da República. Porque não tinha entregas nem obras, mas ele tinha o que a população esperava: a expectativa de um governo de mudança e alterações, e eu me encaixo em um conceito semelhante a esse. O que a população quer é um agente público que tenha compromisso com a sua cidade, que cuide da gente, porque cuidar de gente, eu reitero, é vocação. Que olhe a cidade com um drone, e quando eu digo isso na imprensa dá um rebuliço danado. Olhe a cidade de cima, veja os aspectos, seja uma caixa de ressonância e consiga absorver aquilo que pensa a população. Então, entregar obras é bom, é fantástico, mas as pessoas conseguem enxergar, hoje, a dimensão política de forma diversa.

Foto: Reginaldo Ipê/CMS
Foto: Reginaldo Ipê/CMS

 

O vice-governador João Leão fala até com certo entusiasmo de um namoro entre o senhor e o partido dele, o Partido Progressista (PP). Já se especula que o senhor seja candidato a prefeito pelo PP. Especula-se também que o senhor já tenha a aprovação de Rui Costa, e que ele não se opõe de aceitá-lo no PP mesmo que se mantenha na base do prefeito. No entanto, dizem que o prefeito não é muito simpático à ideia. O que há de verdade nisso?

Eu tenho excelente relação com o vice-governador João Leão, é uma relação pessoal e familiar. Ele já me fez diversas vezes o convite para ingressar no partido. Nesta mesma esteira, o presidente estadual do PSD, o senador Otto Alencar, outra figura humana de caráter inconteste, amigo também da minha família, em quem eu confio e tenho como uma grande referência da vida pública, no estado e no cenário nacional. O PSB da ex-prefeita da nossa cidade, senadora, agora deputada federal, Lídice da Mata, também estabeleceu esse convite, mas eu estou satisfeito no meu partido. É cedo e prematuro, mesmo porque a legislação eleitoral me impede de mudanças partidárias. Eu não posso estabelecer um desejo pessoal da mudança desse ou daquele outro partido, mas tenha a certeza que em março de 2020 direi se fico no Solidariedade ou se vou para outro partido. Eu, particularmente, tenho uma relação excelente com a presidência nacional do meu partido, com o deputado Paulinho da Força, com o presidente estadual, Luciano Araújo, e me deixa feliz ser enamorado. Isso é bom para que eu consiga continuar lutando, sabendo que faço um bom trabalho e que os resultados estão aparecendo. Os partidos enxergam uma esperança ou uma expectativa de poder fazer mais, uma referência no município, no estado e no cenário nacional.

Como o senhor avalia o governo de Rui Costa neste segundo mandato?

Um bom governo. Não falo apenas como vereador da cidade, falo como cidadão e agora como chefe de um poder. As pesquisas indicam que a cidade do Salvador quer ACM Neto como prefeito e Rui Costa como governador do Estado. Dois grandes gestores, diferenciados e cada um com seu perfil. Eu não falo aqui por questões partidárias ou ideológicas, e sim o que vejo da minha cidade, e a minha cidade reverbera isso. As últimas eleições mostraram que, no estado da Bahia, Rui Costa tem feito a diferença. Salvo o melhor juízo, apenas perdeu em três municípios. Então, é isso que eu estou lhe traduzindo: a população, hoje, dá a resposta. A população responde o que ela quer da cidade e do estado.

E a avaliação do governo Bolsonaro? Como dá para avaliar o presidente nesses quase seis meses?

É um governo de extrema instabilidade e que não passa para o cenário político e para a sociedade como um todo a segurança das decisões que devem ser efetivadas. Há reformas necessárias que precisam ser delineadas com a Câmara dos Deputados, com o Senado Federal, com o Congresso Nacional. Resumindo de forma muito objetiva, nós temos a reforma da Previdência, uma reforma amplamente discutida, mas que requer uma atenção especial. Eu estive em Brasília, no cenário nacional das decisões, na Câmara dos Deputados, e o que poderia daquela relação é que não há um entendimento. O que se fala hoje, amanhã se desfaz, e isso dá uma estabilidade a todo o cenário e a todo o processo político.

Foto: Tiago Cruz/bahia.ba
Foto: Tiago Cruz/bahia.ba

 

Qual a sua avaliação sobre a PEC da unificação das eleições?

É extremamente necessário. Há uma corrente favorável. Eu participei de um evento do movimento da marcha da UVB [União dos Vereadores da Bahia], com a presença de muitos vereadores, prefeitos do interior do estado da Bahia, do governador Rui Costa, do senador Otto Alencar, de deputados federais. Essa unificação das eleições tem vários aspectos favoráveis. Automaticamente, a unificação dessas eleições que muita gente vê, a prorrogação do mandato, como unificar as eleições para que a gente possa ter uma forma que atenda a evolução dos tempos.

Se o senhor quiser acrescentar alguma coisa…

A expectativa que eu fico, que a cidade do Salvador continue confiando no presidente Geraldo Júnior. Nós iremos a cada dia, a cada momento, desbravar as fronteiras da burocracia, dos obstáculos, e fazer com que Salvador possa ter um entendimento melhor do que a gente pensa e quer para a nossa cidade, fazendo com que o nosso cidadão possa resgatar a autoestima, bater no peito e dizer que existe uma casa do povo, um parlamento que orgulhe e que pensa e discuta a sua cidade.

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