Cervejaria intermediou repasse da Odebrecht a Rui, diz delator
André Vital relatou reivindicações da companhia que quase impediram a empreiteira de contribuir com a campanha do PT
A Odebrecht usou o grupo Petrópolis, da cerveja Itaipava, para fazer um repasse à campanha do então candidato Rui Costa (PT) em 2014, em uma espécie de “lavagem de dinheiro”, relatou o delator André Vital, ex-funcionário da empreiteira.
Em dezembro de 2016, a Istoé já havia antecipado que a cervejaria intermediava o pagamento de propina a políticos, segundo delações da Odebrecht.
“Na sexta-feira antes da eleição, recebi uma ligação do governador Jaques Wagner, no final da tarde, nos cobrando a contribuição de campanha. [Benedicto] Junior aprovou liberar R$ 5 milhões para a campanha do candidato a governador do PT e depois retornou dizendo que tinha sido feito via grupo Petrópolis. Pesquisei nas doações de campanha do grupo Petrópolis e identifiquei um pagamento de R$ 3,5 milhões no dia 3 [de outubro], dos quais R$ 3,225 milhões repassados ao diretório do PT na Bahia”, disse.
No depoimento, Vital apresentou ainda com detalhes quais eram as reivindicações da companhia que quase impediram a Odebrecht de contribuir com a campanha de Rui.
O delator contou que, em fevereiro de 2013, se reuniu em audiência com o então governador Jaques Wagner para tratar de um assunto pendente, que eram os custos adicionais do consórcio OAS-Odebrecht em virtude da aceleração das obras da Arena Fonte Nova, que deveria estar em operação já para a Copa das Confederações naquele ano. Conforme Vital, também esteve presente a este encontro Leo Pinheiro, da OAS.
“Ocorreu a Copa das Confederações e nesse período não houve avanço nenhum. Depois da Copa, houve outro encontro, participamos eu e Cláudio Melo Filho. o governador manifestou o seu desconforto em resolver esse assunto via litígio contratual, já que as obras da Copa estavam sendo muito questionadas, e manifestou a possibilidade de uma forma heterodoxa resolver esse assunto”, afirmou Vital.
Conforme o delator, em conversa posterior com Benedicto Júnior, os dois ex-funcionários da Odebrecht avaliaram que era possível retomar um outro assunto que já era pendente, “já transito em julgado, relativo à Cerb, da ordem de R$ 390 milhões, que atualizando pelo índice mais conservador, daria entre R$ 1,5 e R$ 2 bilhões”.
“Quando chegou em 2014, na época do planejamento de campanha, Marcelo Odebrecht pediu que eu procurasse Cláudio Melo Filho para dar um recado a Wagner, dizendo que qualquer apoio ao candidato do PT estaria relacionado à resolução do assunto da CERB. […] Ficou acertado R$ 290 milhões dividido em oito anos, e que seria feito um pagamento de R$ 100 milhões em 2014. Também ficou acordado que a companhia apoiaria as campanhas do PT ao longo desse desembolso, em um montante de R$ 30 milhões, dos quais o governador pediu R$ 10 milhoes em 2014. Foi um acordo firmado muto perto da eleição”, acrescentou Vital.
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