Publicado em 12/04/2019 às 12h00.

‘Se isso é normal, o que é anormal?’, questiona Elza Soares sobre músico fuzilado

Cantora, que se apresenta nesta sexta (12) no TCA, pela turnê "Deus é Mulher", rebateu fala de Sérgio Moro sobre carro fuzilado no Rio de Janeiro

Luiz Felipe Fernandez
Foto: Patrícia Lino
Foto: Patrícia Lino

 

“Dura na Queda”, tal qual a música de Chico Buarque feita sua homenagem, Elza Soares acumula em sua trajetória uma série de lutas pessoais. Desde cedo precisou lidar com a fome, com a morte de filhos e a casa fuzilada durante a ditadura militar, mas encontrou na música e na voz a oportunidade de gritar contra os problemas sociais no país.

Aos 88 anos, Elza volta a Salvador depois de um 2018 inteiro sem se apresentar na cidade. Em papo com o bahia.ba por telefone, a carioca que sobe ao palco do Teatro Castro Alves (TCA) nesta sexta-feira (12), às 21h , para show do CD “Deus é Mulher”, conversou sobre sua ligação com a Bahia, sobre feminismo e a situação política do Brasil.

Nascida e criada no Rio de Janeiro, a artista comentou a fala do ministro Sérgio Moro sobre o músico morto após ter o carro fuzilado por militares na capital carioca, a caminho de um chá de bebê. O ex-juiz federal classificou os oitenta disparos de “incidente”, e afirmou que “lamentavelmente esses fatos podem acontecer”.

“Deus me livre. Não consigo nem falar! O mundo tá vendo isso, todo mundo tá vendo isso. Não é possível se contentar com uma coisa dessa, ficar calado com uma cosias dessas, achar normal. Se isso é normal, o que é o anormal?”, questionou a cantora, que teve a própria casa fuzilada pelo exército durante a Ditadura Militar, quando foi casada com o jogador Garrincha. Na época, precisou fugir do país e foi abrigada por Chico Buarque na Itália. Para ela, ainda é difícil entender quem apoia e pede a volta do regime.

“Eu fico pasma. Era um carro de trabalhadores. A minha casa [no período da Ditadura] era casa de trabalhador também. O Mané [Garrincha] também era trabalhador, a gente nunca parou de trabalhar. Não entendo a postura do pessoal que pensa o contrário, não”.

Eleita pela BBC em 1999 como a voz do milênio, Elzinha, como é conhecida entre amigos, se orgulha de outro título conquistado 10 anos depois, o de cidadã soteropolitana, concedido pela Câmara Municipal de Salvador em 2009.

“Sou soteropolitana, ganhei o título com muito orgulho. Amei Mãe Stella a vida toda, amei Caetano a vida toda, Bethânia… O baiano é tudo para mim. A Bahia é tudo para mim”, resume a artista.

Em recente entrevista, Elza se referiu a Mãe Stella como sua “mãe” dentro do candomblé. No álbum “Deus é Mulher”, ela interpreta a canção “Exu nas Escolas”, que fala sobre a cultura e a religiosidade de matriz africana dentro do contexto educacional do Brasil.

“Exu no recreio/Não é Xou da Xuxa/Exu brasileiro/Exu nas escolas”, diz trecho da canção composta pelo rapper Edgar e por Kiko Donucci, responsável pela produção do disco junto a Guilherme Kastrup.

A faixa será uma das 11 que integram o álbum “Deus é Mulher”(2018) e que faz parte da apresentação desta sexta-feira (12) . O disco traz nas letras o discurso anti-racista, feminista e de valorização da figura feminina, o que para Elza, está muito mais perto da sua construção pessoal do qualquer aprendizado teórico.

“Só faço parte deste trabalho porque eu grito, porque desde criança eu vivo o feminismo. A mulher é a mãe do mundo, é tão claro isso”.

Depois de alguns anos sem lançar um disco com inéditas, Elza emendou em três anos dois álbuns muito bem recebidos pela crítica. Em 2015, “A Mulher do Fim do Mundo” rendeu a ela o Grammy Latino de Melhor Álbum de Música Popular Brasileira. Em 2018, “Deus é Mulher” também foi indicado ao prêmio na categoria. E para quem acha que ela está cansada, ledo engano. A cantora já está em estúdio para gravação de mais um disco.

Questionada pelo bahia.ba se o próximo trabalho deve seguir com a “mulher” como o principal mote, a cantora respondeu que “é muito difícil” parar de falar sobre o assunto. “É muito difícil parar de falar, o CD é o mesmo. A gente vai conseguir mais ainda, a gente tá buscando ainda alguma coisa”.

Os ingressos para o show no TCA custam entre R$ 45 (meia-entrada paras as filas Z7 a Z11) e R$ 150 (inteira para as filas A a W), e podem ser adquiridos na bilheteria do teatro, nos SAC’s dos shoppings Shopping Barra e do Shopping Bela Vista ou pelos canais da Ingresso Rápido.

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