A queda de Temer ajuda ou atrapalha os planos de ACM Neto?
Ex-governador e secretário Jaques Wagner acusa prefeito de Salvador de “tramar” para derrubar presidente; democrata nega
A crise política no governo do presidente Michel Temer (PMDB) que estourou com a colaboração premiada do dono da JBS, Joesley Bastista, e se aprofundou com a denúncia da Procuradoria Geral da República (PGR) e a prisão do ex-ministro da Secretaria de Governo, Geddel Vieira Lima (PMDB), deixou uma incerteza sobre se o chefe do Palácio do Planalto conseguirá permanecer até final de dezembro de 2018.
Para o ex-governador e secretário estadual de Desenvolvimento Econômico, Jaques Wagner (PT), a situação de Temer se tornou tão insustentável que parte do próprio grupo do peemedebista, inclusive, o prefeito de Salvador, ACM Neto (DEM), “trama” para que ele deixe o governo e o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM), assuma. O chefe do Palácio Thomé de Souza negou a movimentação e ironizou a declaração do petista.
Aliados do prefeito rechaçam também que o democrata “articule” contra Temer, mas afirmam que Neto “torce” pela sua substituição. A maioria dos deputados federais da ala do gestor municipal ainda não declarou como vão votar sobre a denúncia contra o comandante do Palácio do Planalto. No entanto, uma eventual queda de Temer ajuda ou prejudica ACM Neto, que já deixou claro cogitar a disputa ao governo da Bahia em 2018?
Na avaliação de Joviniano Neto, cientista político e professor da Universidade Federal da Bahia (Ufba), diante da tentativa da oposição de “colar” a imagem “desgastada” do mandatário nacional ao prefeito de Salvador, o afastamento pode ajudá-lo a se “desvincular”. “Temer tem uma imagem muito negativa na Bahia. E tem aquele ditado, não é: ‘me digas com que tu andas, que eu te direi quem tu és’”, afirmou o especialista, em entrevista ao bahia.ba, ao ressaltar que ACM Neto deve frisar na campanha de 2018 as suas obras e “não assumir discussões ideológicas”.
Levantamento do Instituto Paraná Pesquisas divulgado em junho deste ano aponta que 85,1% dos baianos reprovam a gestão Temer. Para Paulo Fábio Dantas Neto, também cientista político e professor da Ufba, é difícil dizer se o fim do governo ajuda mais o prefeito ou os aliados do PT. Parte dos petistas entende que o melhor é deixar Temer “sangrar” até 2018 para vencer o pleito.
“Depende de quem ficar no lugar [se o presidente cair]. Se no lugar do governo Temer vier um governo mais fraco do que Temer só faz ajudar o PT. Se no lugar de Temer ficar um governo mais forte, que consiga passar as reformas, fortalece o grupo do prefeito”, observou.
Ainda segundo Dantas Neto, não dá para negar que há um “desgaste público” do peemedebista, que “afeta fortemente” os seus apoiadores, entre eles o prefeito de Salvador. “Se a eleição fosse realizada agora, o resultado seria um desastre para as forças do governo. O que não significa que seria um passeio para a oposição. O quadro que está hoje é de desgaste do governo e descrédito da oposição”, pontuou, em entrevista ao bahia.ba.
O professor da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB) e cientista político, Mauricio Ferreira da Silva, entende que o melhor para Neto é se “manter neutro” no processo. Para ele, tentar uma articulação para tirar Temer é uma “jogada arriscada”.
“É mais fácil, do ponto de vista político, arrastar o mandato de Temer até o ano que vem. Mais fácil para todo mundo e, dentro da impopularidade, divulgar políticas estratégias e dizer que batalhou pela reforma política e que apoiou Temer, até determinado momento, em nome das reformas trabalhista e da Previdência”, pontuou.
Ressalta o professor da UFRB que um possível governo Maia poderia ter dificuldades para aprovar projetos, já que, com a eventual queda do presidente, o PMDB poderia abandonar o grupo em bloco. “E perder o PMDB significa não conseguir maioria nenhuma na Câmara”, salientou.
Para Maurício Silva, apesar do cenário, é “razoável” supor que Neto pense mais no horizonte. Ou seja, articule um governo federal mais forte que consiga viabilizar a sua candidatura ao Palácio de Ondina e, se perder o pleito, ficar com um cargo federal.
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