Publicado em 18/02/2019 às 17h06.

Brumadinho e Sobradinho, a semelhança que é pouco mais que mera coincidência

Brumadinho é uma coisa, Sobradinho é outra, mas o jornalista é o mesmo e a interpretação também. A mãe de Schvartsman não estava lá

Levi Vasconcelos
Foto: divulgação/Corpo de Bombeiros de Minas Gerais
Foto: divulgação/Corpo de Bombeiros de Minas Gerais

 

Fábio Schvartsman, presidente da Vale do Rio Doce, a dona da Barragem de Brumadinho, que matou 166 e deixou outros 155 desaparecidos (até agora), produziu a pérola da tragédia: disse que a Vale é uma joia brasileira e não deveria ser condenada ‘por um acidente’. Mais:

— A Vale humildemente reconhece que, seja lá o que vinha fazendo, não funcionou.

Singelo, não? Remonta aos anos 70, quando o governo implantava a Barragem de Sobradinho, hoje o maior lago artificial do mundo. O projeto forçou o realocamento de quatro cidades, Remanso, Casa Nova, Pilão Arcado e Sento Sé, com a imensa gritaria dos realocados por conta das baixas indenizações.

Dom José

Fomos entrevistar o presidente da Chesf, Eunápio Peltier de Queiroz. Ele com a palavra:

— Às vezes fico na dúvida: é justo sacrificar 80 mil pessoas (as populações das quatro cidades na época) em benefício de 20 milhões de nordestinos? E concluo: é.

Dom José Rodrigues, bispo de Juazeiro, o arauto dos revoltados, voz tão mansa quanto contundente, com a palavra:

— Dr. Eunápio fala isso porque a família dele não está entre as 80 mil.

— O senhor está querendo dizer que ele fala assim porque a mãe dele não está lá.

— A interpretação é do nobre jornalista.

Brumadinho é uma coisa, Sobradinho é outra, mas o jornalista é o mesmo e a interpretação também. A mãe de Schvartsman não estava lá.

Levi Vasconcelos

Levi Vasconcelos é jornalista político, diretor de jornalismo do Bahia.ba e colunista de A Tarde.

Mais notícias

Este site armazena cookies para coletar informações e melhorar sua experiência de navegação. Gerencie seus cookies ou consulte nossa política.