Publicado em 26/07/2017 às 08h24.

Chove no litoral, mas no sertão a seca está fazendo estragos

Se no litoral a chuva não dá tréguas, no sertão baiano, elas sumiram tanto que começou a instalar calamidades

Levi Vasconcelos

Frase da vez

“Enquanto o poço não seca, não sabemos dar valor à água.”
Thomas Fuller, historiador britânico (1608-1661)

Ponto Novo, um pequeno município da região de Senhor do Bonfim, é um retrato do flagelo. A barragem construída em 1998 por Paulo Souto para atender ao consumo humano de lá, Filadélfia e Caldeirão Grande, além do uso para animais e alguns projetos de irrigação, levou água também Itiúba, Bonfim, Jaguarari e Andorinhas. Não aguentou.

Orlando Viana, chefe de gabinete da prefeitura de Ponto Novo, diz que 282 famílias reassentadas que plantavam coco, manga e mamão vivem em grande dificuldades.

E o Sítio Barreiras, um grande empreendimento de cultivo de bananas, que empregava 700 pessoas diretamente e outras 1,5 mil indiretas, demitiu todo mundo e tirou o time:

– É uma situação muito ruim. As pessoas estão indo embora, a população está visivelmente diminuindo.

Apreensão geral

O deputado Eduardo Salles (PP), ex-secretário da Agricultura, diz que o caso é grave e preocupante:

— O Rio São Francisco está mal, com a Barragem de Sobradinho em vias de entrar no volume morto, a cada dia mais reduzindo a vazão. No projeto Pedra Branca, em Curaçá, a apreensão é grande.

Diz Eduardo que hoje a produtividade de frutas na região de Juazeiro já baixou bastante:

– A preocupação agora é manter as plantações vivas, para não acontecer como em Ponto Novo, onde os bananais morreram. Aí, a recuperação demanda um longo tempo e o estrago é inimaginável.

Sobradinho agoniza

Em circunstâncias normais o Lago de Sobradinho tem uma vazão de 2,3 mil metros por segundo. Hoje está com 600, disparadamente a pior da história, e a previsão é que caia ainda em agosto para 550.

Essa é razão do medo que ronda a vida de mais de 2,5 mil produtores.