‘Compadre de Lula’ que indicou serviços em sítio, diz topógrafo
O agrimensor Claudio Benatti, identificado pela Polícia Federal como responsável pelas medições e plantas do Sítio Santa Bárbara, em Atibaia (SP) – frequentado pelo ex-presidente Lula -, afirmou ao jornal “O Estado de S. Paulo” que o advogado Roberto Teixeira, compadre do petista, era o responsável por determinar os serviços a serem prestados na propriedade, no ano de 2011. A Operação Lava Jato investiga se uma reforma feita no local, no mesmo ano, foi executada pela OAS – uma das líderes do cartel que fatiava obras na Petrobrás – a pedido do ex-presidente, como compensação por contratos da empreiteira no governo.
“Quem indicou tudo, quem arrumou para eu fazer o serviço lá foi o Roberto Teixeira. Que é o advogado, que é o compadre do Lula”, afirmou Benatti. “Eu fui lá fazer um serviço. Eu fiz a topografia do sítio, fiz o levantamento.”
O advogado amigo do ex-presidente não aparece nos registros de propriedade do sítio. Oficialmente, o imóvel está em nome de dois empresários ligados à família de Lula. Ambos compraram a propriedade – que têm duas matrículas no Cartório de Registro de Imóveis de Atibaia – em 29 de outubro.
A PF determinou na terça-feira, 12, que Benatti seja ouvido no inquérito da OAS. Ele foi identificado pela Lava Jato após o Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (Crea) de São Paulo localizar registro de seus serviços no sítio Santa Bárbara, em 2011. O órgão localizou a Anotação de Registro Técnico (ART) do levantamento planialtimétrico, assinado por Benatti, após ser intimado a buscar dados sobre obras no local.
Pelo documento, os serviços do agrimensor foram contratados em 18 de dezembro de 2010, com início de vigência dos serviços em 20 de janeiro de 2011 – logo após a compra do imóvel.
“Todos os serviços que foram executados, meus, de topografia, sempre foram o Roberto Teixeira. ‘Ó fulano está precisando que você faça isso’. Teve até um serviço envolvendo a (Polícia) Florestal, que cortaram uma árvore que não era para cortar, fui eu que fiz. Mas todo serviço foi sempre o Roberto que pediu.”
Benatti mora em Monte Alegre do Sul, no interior de São Paulo. É de lá que ele diz conhecer o compadre de Lula. “Roberto Teixeira eu conheço ele desde 1972. Ele tem sítio aqui em Monte Alegre. Foi aqui que o Lula vinha tomar as pingas dele, em Monte Alegre ”
O topógrafo afirma que guarda os mapas do serviço prestado. “Eu faço serviço para o Roberto Teixeira há uns 40 anos. É, conheci ele de muito tempo, acho que bem antes dele conhecer o Lula.”
Compra sob suspeita – A Lava Jato passou a investigar a obra no sítio Santa Bárbara, após a informação de que a propriedade teria passado por grande reforma, em 2011, executada supostamente pela OAS. Os serviços atenderiam a pedido de Lula ao ex-presidente da empreiteira José Aldemário Pinheiro – preso em novembro de 2014 e solto em abril de 2015 -, segundo reportagem da Revista Veja, em abril de 2015
Na cópia da ART enviada pelo Crea para a Lava Jato, com data de 4 de janeiro, o contratante dos serviços é o empresário Jonas Leite Suassuna Filho – dono do Grupo Gol de editoras e ligado a um dos filhos do ex-presidente Lula.
Levantamento feito pelo jornal no Cartório de Registro de Imóveis, em Atibaia, mostra que Suassuna é o dono oficial de uma parte do sítio. A propriedade, no bairro Portão, pertencia ao casal Adalton Santarelli e Neusa Santarelli. No dia 29 de outubro de 2010, eles venderam a maior fração do imóvel para Suassuna – pelo valor declarado de R$ 1 milhão. Outra parte, de menor tamanho, foi vendida para Fernando Bittar – por R$ 500 mil Bittar é filho do ex-prefeito de Campinas Jacó Bittar (PT), amigo de Lula desde o período de movimento sindical. A família Bittar também tem relações de negócios com os filhos do ex-presidente.
Na entrevista ao jornal, o agrimensor diz que não chegou a conhecer pessoalmente Suassuna, mas apontou seu nome como um dos proprietários. “Não conheci (Suassuna). Eu fui no escritório desse proprietário, que eu acho que é o Suassuna, ali em uma travessa da Paulista.”
Os empresários Jonas Suassuna e Fernando Bittar não foram localizados.
Procurado, o advogado Roberto Teixeira, por meio de sua assessoria de imprensa, não se manifestou sobre o assunto.
Procurada, a empreiteira OAS informou, por meio de assessoria de imprensa, que “não tem nada a declarar sobre esses temas”.
Procurado via assessoria de imprensa do Instituto Lula, o ex-presidente Lula não comentou o caso.
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