Publicado em 11/07/2016 às 09h20.

Hospitais filantrópicos pedem socorro. O dinheiro é curto

Temer diz que vai tomar medidas impopulares. Tirante as mudanças na Previdência, os acenos incluem redução de gastos com saúde e educação

Levi Vasconcelos

Frase da vez

“O verdadeiro patriotismo é o que concilia a pátria com a humanidade”

Joaquim Nabuco, jurista, diplomata e historiador (1849-1910)

 

(Foto: Manu Dias/GOVBA).
(Foto: Manu Dias/GOVBA).

 

Michel Temer, o interino, tem certeza de que a partir de agosto será efetivado como o 37º presidente do Brasil. Tanto que, intramuros, elabora uma agenda para tirar a economia do buraco com 28 medidas focando o financiamento da infraestrutura, os marcos regulatórios e o ambiente de negócios.

Muito justo. A questão é que, noutra vertente, Temer diz que vai tomar medidas impopulares. Tirante as mudanças na Previdência, os acenos incluem redução de gastos com saúde e educação.

De educação falaremos adiante, mas de saúde é questão de emergência. Nossos hospitais filantrópicos, todos dependentes do SUS, a começar por Irmã Dulce, estão à beira de um ataque de nervos, com razão.

O SUS já não reajusta procedimentos desde 2014, o que sufoca a todos.

Seria bom Temer mudar o olhar sobre o setor. Por uma questão elementar: promover ações para empregar desempregados é altamente salutar. Cortar mais do pouco dinheiro da saúde é matar como política oficial.

O estrago

Está deflagrada na mídia a campanha SOS Saúde da Bahia. O pedido de socorro tem tudo a ver. Itabuna pode acabar 66 mil procedimentos mensais, Conquista reduzir os seus 34 mil e Valença, os seus 20 mil, sem falar que Cruz das Almas, desde 2014, fechou.

O drama do Espanhol

Fechado em setembro de 2014, após sucessivas tentativas fracassadas de mantê-lo ativo, o Hospital Espanhol, a quantas anda?

Vai indo, à beira de uma definição, para o bem ou para o mal, como se diz nos meios empresariais do ramo hospitalar.

Para o bem ele irá, se for fechado o negócio com um grupo local (provavelmente a Promédica, que tem a opção preferencial) consorciado com outro de fora. Eles topam pagar aos fornecedores, encargos e uma dívida trabalhista estimada, dois anos atrás, em mais de R$ 84 milhões, e aí está o xis da questão, que pode fazer tudo rolar ladeira abaixo.

No bojo do passivo trabalhista, há pendências com 30 médicos, com casos em que a cobrança chega até a R$ 30 milhões.

Dizem os que conhecem o caso de perto, que os candidatos a compradores aceitam pagar tais dívidas, mas em patamares razoáveis. Na exorbitância, não.

Perda

Com o fechamento do Espanhol, a Bahia perdeu um dos seus mais bem equipados hospitais, principalmente no setor neurológico, um dos mais complexos.

Com ele, foram-se 270 leitos, dos quais 60 de UTI e outros 12 de UTI pediátrica.

Uma perda lamentável.

O novo Couto Maia

O secretário Fábio Vilas Boas (Saúde) espera concluir em 18 meses o novo Hospital Couto Maia, que está sendo construído em Águas Claras. Ele diz que o atraso aconteceu porque, na formação da PPP (Parceria Público-Privada), o modelo adotado (o mesmo do Hospital do Subúrbio), a MRM, uma das empresas do consórcio, não conseguiu dar as garantias, mas o problema foi solucionado.

No lugar entrou a Metro Engenharia.

O destino do velho

O velho Couto Maia, no Bonfim, está mal, com problemas de toda ordem, de hidráulicos a elétricos.

Fábio diz que as obras são paliativas, até porque, com a construção do novo, não faz sentido gastar muito dinheiro lá.

Todavia, o velho Couto Maia terá um destino nobre. Vai se transformar num laboratório de pesquisa do setor infectocontagioso.

Hotéis em crise

Enoque Almeida, presidente da Associação de Pequenos Hotéis (abaixo de 40 apartamentos), diz que o setor vive o pior momento da sua história: existem 4.800 na Bahia, 406 em Salvador (fora os não registrados) e está fechando uma média de um por semana, algo nunca visto:

— É a crise. Os grandes dizem que tiveram 38% de ocupação em junho. Deve ser menos, porque tivemos o pior junho de todos os tempos.

Efeito cascata

Enoque diz que o problema acontece em efeito cascata. No caso de Salvador, por exemplo, o fechamento do Centro de Convenções prejudica a todos, de cabo a rabo. E a crise econômica também dá boa vitaminada. A fuga de representantes comerciais afeta muito o setor.

Enoque pilota no zap o grupo Pequenos Hotéis Nota 10. É nele que eles desabafam.

(Foto: Raul Golinelli/GOVBA).
(Foto: Raul Golinelli/GOVBA).

 

Primos pobres

Maria Quitéria (PSB), prefeita de Cardeal da Silva e presidente da UPB, foi a Brasília, liderando uma comitiva de municipalistas, dizer ao ministro Eliseu Padilha (Casa Civil) que os estados receberam benesses federais, mas os municípios foram esquecidos.

— Somos os primos pobres do poder.

Os prefeitos querem “encontro” de contas das dívidas previdenciárias e regularização nos repasses de saúde e educação em atraso.

Epigrama da boquinha

Para manter-se no poder, Michel Temer não mede esforços para distribuir cargos, além dos pacotes de bondades. A disputa por uma “boquinha” é acirrada, com deputados e senadores indicando seus apadrinhados para a construção do futuro do Brasil. O poeta Antônio Lins atacou com o epigrama:

Pedro, no céu, justiçoso
Abre as portas às almas belas.
Mas Temer é mais generoso
Abre as portas e as cancelas.

Obras da Estação Iguatemi (Foto: Pedro Moraes/GOVBA).
Obras da Estação Iguatemi (Foto: Pedro Moraes/GOVBA).

 

Penicão na rua

No rastro da construção do metrô, para além das obras que fulguram no ambiente, a área do Iguatemi-Rodoviária ganhou um ingrediente novo e também complicador. É lá, no rio podre que corta a área, que os caminhões limpa-fossa fazem os seus despejos. É por isso que o local foi batizado pelo bom humor do povão com o apelido de penicão.

Como as obras do metrô impedem que os caminhões desçam, eles agora fazem os despejos estacionados na calçada.

No mínimo, complica mais o trânsito.

Levi Vasconcelos

Levi Vasconcelos é jornalista político, diretor de jornalismo do Bahia.ba e colunista de A Tarde.

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