Publicado em 19/04/2016 às 11h30.

Rui Costa chama ex-aliados de ‘escravocratas’ e ‘hipócritas’

Governador citou caso do marido de deputada homenageado em votação do impeachment e contou dúvida de uma empregada: “não posso escolher se Dilma vai sair?”

Evilasio Junior
Foto: Manu Dias/GOVBA
Foto: Manu Dias/GOVBA

 

O governador Rui Costa (PT) utilizou o seu discurso, durante a cerimônia de autorização de obras no Centro Antigo de Salvador, nesta terça-feira (19), para atacar antigos aliados que hoje são favoráveis ao impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT).

Embora boa parte da bancada na Câmara que votou “sim” seja de partidos que participaram do governo até a semana passada – a exemplo do PP, PR e PSD (aliados ainda hoje na Bahia), além do PMDB –, e cujos votos eram contabilizados pelo Palácio do Planalto, o petista partiu para a ofensiva, ao defender a tese de que a “disputa não é meramente partidária”.

Segundo ele, as forças que tentam derrubar Dilma integram um “movimento histórico” que “insiste em reacender e voltar” promovido por “aqueles que têm pensamento escravocrata”. “Daqueles que têm o pensamento de que o Nordeste, o Norte e as regiões periféricas do nosso país não merecem atenção. […] Quem quiser se enganar que se engane”, afirmou.

O chefe do Executivo baiano homenageou os 24 parlamentares baianos que se posicionaram contrários ao impedimento e disse ter “vergonha” do que foi noticiado em jornais estrangeiros sobre a votação. “Disseram que um criminoso presidiu a sessão para afastar uma mulher de 69 anos que foi torturada e que não tem um só crime. Que não tem um só depoimento que vincule ela a uma atividade criminosa”, afirmou Rui, sem mencionar as delações do senador Delcídio do Amaral, ex-líder do governo, e de executivos da Andrade Gutierrez, ambas homologadas pelo Supremo Tribunal Federal (STF).

Delcídio acusou Dilma de tentar interferir na Operação Lava Jato mais de uma vez, afirmou que a petista sabia do esquema de superfaturamento na compra da refinaria de Pasadena e atribui a ela a manutenção do executivo Nestor Cerveró no comando da Petrobras, ao indicá-lo para a diretoria financeira da BR Distribuidora. Já o ex-presidente da Andrade Gutierrez Otávio Marques de Azevedo e o ex-executivo Flávio Barra afirmaram que a empresa pagou propina em forma de doações legais para as campanhas de Dilma em 2010 e 2014.

Em seu discurso, Rui também fez referência ao caso do prefeito de Montes Claros (MG), Ruy Adriano Borges Muniz (PSB), saudado no voto da deputada Raquel Muniz (PSD). “Qual o crime que essa mulher [Dilma] cometeu? O crime de não fazer as negociatas que aquela deputada que fez homenagem ao marido e no outro dia o marido estava preso, algemado, porque desviava dinheiro da saúde para as suas clínicas particulares. Esse tipo de negociata que a presidenta não se curvou e muitos dos deputados foram ali de forma hipócrita falar de honestidade e falar em nome da família. Defender tortura, defender racistas, defender quem não respeita o direito dos outros seres humanos de escolher a sua sexualidade, escolher a sua religião. Alguém acha que não tem nada a ver com isso?”, indagou o governador, sem considerar que o acusado ainda não está condenado – principal argumento dos petistas quando alguém do partido é detido em operações da Polícia Federal.

O governador também citou um depoimento de um amigo que lhe relatou uma conversa com a sua empregada, como forma de corroborar a tese de suposta disputa de classes. Segundo Rui, a trabalhadora perguntou se Dilma “ia sair ou ficar”, ele explicou que dependia da votação dos deputados e ela se espantou. “Ué, eu votei para Dilma entrar e agora não posso escolher se ela vai sair?”, contou.

O PT tem se manifestado favorável à convocação de novas eleições e até plebiscito para discutir o regime político do país.

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