Publicado em 07/03/2016 às 16h40.

Pedalada pelada pode ter nova edição em Salvador

Para organizadores, objetivo da manifestação realizada no sábado foi alcançado: dar visibilidade aos ciclistas

Redação
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Homens e mulheres usaram a nudez para chamar a atenção sobre os riscos do trânsito Fotos: Marcel Lopes

 

O movimento ainda foi tímido, reunindo pouco mais de 50 pessoas, mas, na avaliação dos organizadores, o objetivo da I World Naked Bike Ride (Pedalada pelada, em tradução livre)/Salvador, no sábado (5), foi alcançado: chamar a atenção da população para a necessidade de uma convivência pacífica entre motoristas e ciclistas. O circuito desenvolvido foi o trecho Barra-Rio Vermelho, entre o final da tarde e início da noite. O cortejo de pessoas seminuas sobre bicicletas de modelos e cores variadas atraiu a atenção de curiosos, rendendo comentários entre surpresos e maliciosos.

Para Marcella Marconi, uma das ativistas, uma frase resume o ato de protesto: “Nossa capa da invisibilidade caiu. E Salvador vai ter de nos enxergar”. Em nota divulgada nesta segunda-feira (7), a organização local da Pedalada Pelada avalia que, ainda que por mera curiosidade ante a nudez dos manifestantes, o movimento alcançou o objetivo: “Sim, nós fomos vistos. E ouvidos. Chamamos atenção. Nossos corpos, nossos peitos e bundas e, porque não, nossos pênis e vaginas nos deram voz. As frases escritas em nossa pele são nosso próprio grito engasgado. Não me mate. Meu corpo não tem airbag. Não sou de ferro. Mais respeito. Menos CO2. Mais amor. Menos motor”.

Além de Salvador, a pedalada aconteceu nas cidades do Rio de Janeiro-RJ, São Paulo-SP, Recife-PE, Fortaleza-CE, Belo Horizonte-MG e Vitória-ES.

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Ativistas exibem mensagens de alerta nos próprios corpos Foto: Marcel Lopes

 

Confira a nota na íntegra:

 

 

 “O que foi apenas uma ideia se tornou realidade porque foi abraçada por tantas pessoas.
Salvador, finalmente, realizou pela primeira vez a World Naked Bike Ride, ou Pedalada Pelada, protesto em que ciclistas pedalam sem roupa como forma de chance atenção para a sua fragilidade no trânsito.
Sim, nós fomos vistos. E ouvidos. Chamamos atenção. Nossos corpos, nossos peitos e bundas e, porque não, nossos pênis e vaginas nos deram voz. As frases escritas em nossa pele são nosso próprio grito engasgado. Não me mate. Meu corpo nao tem airbag. Não sou de ferro. Mais respeito. Menos CO2. Mais amor. Menos motor.
Sim, nossa capa da invisibilidade caiu. E Salvador vai ter de nos enxergar.
Com roupa ou sem, estaremos circulando por aí, e continuaremos batalhando para sermos vistos e ouvidos sem que precisemos gritar palavras de ordem.
Se fomos alvos de celulares ávidos por capturar aquele momento inusitado,  também recebemos palmas e apoios daqueles a quem talvez tenha faltado um pouco de coragem para se despir de seus pudores.
Tem nada, não.
Mas nós apenas começamos. Esperamos que vocês se juntem a nós até o momento em que não tenhamos de mostrar a nossa fragilidade tirando a roupa. Porque não seremos mais frágeis. Não seremos mais invisíveis. Não seremos mais cidadãos de segunda categoria.
Teremos nossos direitos garantidos e preservados. Seremos vistos em nossa vivência cotidiana em nossa cidade. Teremos atendidas as demandas que não são apenas dos ciclistas, uma vez que dizem respeito a toda a mobilidade soteropolitana.
E mais. Nós, mulheres, não sentiremos medo em estar sozinhas. Até porque estar sozinha não pode, jamais, significar um estado de vulnerabilidade que justifique as violências diárias a que somos submetidas inclusive no trânsito, inclusive em uma bicicleta. Porque à mulher sequer a invisibilidade é garantida. A ela, apenas o assédio, a violência, a humilhação e o medo.
Tirar a roupa é um ato extremo em uma sociedade que se diz liberal, mas que em essência é machista e conservadora.
Esse ato se justifica quando aquilo que nos é negado é mais forte do que os nossos pudores.
Então,  enquanto não houver segurança,  infraestrutura e comprometimento com os meios ativos de transporte, ciclistas pelados nas ruas serão rotina, tanto quando as violências que sofremos diariamente nas ruas.”

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Manifestante avisa: ‘Cuidado, frágil’. Afinal, peito não é airbag… Foto: Marcel Lopes

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