Indústria do suco em risco: baixo estoque com alta demanda
O cenário é positivo para o setor citrícola em 2016, mas o Brasil terá limitações para aproveitar o potencial de demanda. A indústria brasileira de suco de laranja terá de conciliar os baixos estoque da bebida e a expectativa de melhora na demanda, principalmente na Europa, maior cliente do País. A Associação Nacional dos Exportadores de Sucos Cítricos (CitrusBR) estima em torno 300 mil toneladas o estoque ao final da atual safra, em junho. O volume é considerado muito baixo, principalmente diante da expectativa do mercado de um crescimento de 2% a 5% na demanda europeia, fato raro nos últimos anos com seguidas quedas no consumo.
O diretor-executivo da CitrusBR, Ibiapaba Netto, avalia que 2016 “não será um ano ruim” para o setor, porque outros sucos concorrentes estão muito valorizados, o que favorece a competitividade do de laranja. Enquanto o suco de laranja está cotado em torno de US$ 1.700 a tonelada, o de abacaxi, por exemplo, varia entre US$ 3.500 e US$ 3.900 a tonelada e teve uma alta recente causada pelas seguidas quebras na safra tailandesa. Já o suco de maçã, maior concorrente da bebida brasileira, também ficou caro, mas por outro motivo: a dificuldade dos europeus em conseguir uma fruta mais ácida, de melhor qualidade para a bebida. O suco de maçã é cotado em torno de US$ 1.500 a tonelada.
Outro fator positivo para o Brasil é a concorrência cada vez menor da Flórida, segunda maior região produtora mundial da fruta e do suco de laranja. O estado norte-americano deve produzir na atual safra apenas 70 milhões de caixas (de 40,8 quilos) de laranja, menos de um terço das 230 milhões de caixas produzidas no começo da década passada. Para efeito de comparação, o parque comercial citrícola brasileiro, entre São Paulo e Minas Gerais, tem uma produção de 280 milhões de caixas.
A Flórida sofreu com furacões que espalharam o cancro cítrico e destruíram pomares e, principalmente, com a disseminação do greening. A praga é considerada a mais devastadora da laranja por não ter cura e só pode ser controlada com um manejo rígido nos pomares com erradicação de plantas doentes, aplicação de inseticidas para combater o inseto transmissor e ainda vistorias periódicas. “Esse cenário na Flórida abre espaço para exportar mais aos Estados Unidos”, disse Netto.
No Brasil, as rígidas ações de controle do greening fazem com que São Paulo, maior região produtora de laranja, “não seja hoje a Flórida de amanhã”, segundo Antonio Juliano Ayres, gerente geral do Fundo de Defesa da Citricultura (Fundecitrus). Ele lembra que, apesar de 18% das plantas na região terem a doença, apenas cerca de 5% apresentam sintomas severos. “A perda aqui é de 3% da produção potencial, enquanto que na Flórida a perda é de 50%”, comparou.
Ayres avalia, ainda, que, apesar da incerteza sobre a oferta de laranja para o próximo ano nos pomares comerciais brasileiros, por causa do clima imprevisível, o cenário é positivo para a indústria e o produtor. Ele lembra que o suco é cotado em dólar e que a valorização cambial de 2015 ajudou a receita das companhias, já que alguns custos, como mão-de-obra e arrendamento, não acompanharam a alta na moeda norte-americana.
Entre os produtores, as perspectivas também são boas para 2016. Marcos Antonio dos Santos, citricultor e presidente do Sindicato Rural de Taquaritinga (SP), avalia que os estoques pequenos das indústrias devem obrigá-las a pagar preços mais altos pela laranja na próxima safra, a partir do segundo trimestre de 2016. “Ainda é cedo para cravar, mas o mercado tem estoque de suco raso e equilibrado com a demanda. As indústrias precisarão comprar mais frutas e, por isso, o produtor deve ter mais liquidez no próximo ano”, concluiu.
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