Publicado em 06/11/2017 às 08h40.

Centro de Convenções: ‘Duvido que haja acordo com governo’, diz Isaac

Ao bahia.ba, o presidente da Empresa Salvador Turismo (Saltur) fala sobre a Maratona da Cidade de Salvador, do Réveillon 2018 e do Carnaval do próximo ano

Evilasio Junior
Foto: Fernando Valverde/ bahia.ba
Foto: Fernando Valverde/ bahia.ba

 

O presidente da Empresa Salvador Turismo (Saltur), Isaac Edington, disse, em entrevista ao bahia.ba, não acreditar na possibilidade de um acordo entre o governo do Estado e a prefeitura para construir apenas um Centro de Convenções na capital baiana.

Com a decisão do Palácio Thomé de Souza de erguer um próprio empreendimento, a capital baiana pode ter dois complexos, já que a gestão estadual mantém a posição de construir um espaço no Parque de Exposições. O que, na visão do trade turístico, significa um risco de prejuízo para um dois lados do poder público. “Duvido muito que exista um acordo”, frisou.

Na opinião do chefe da Saltur, os empreendedores devem pensar duas vezes antes se vale a pena investir em um Centro de Convenções, após o anúncio do prefeito ACM Neto (DEM). Isaac Edington evita falar sobre a hipótese de um dos dois virar uma espécie de “elefante branco”, sem inutilidade, mas diz que tem se movimentado para que o do Município “rode full grande parte do tempo”.

Ainda na entrevista, Edington falou sobre a Maratona da Cidade de Salvador, do Réveillon 2018 e do Carnaval do próximo ano. Sobre o evento esportivo, antecipou ao bahia.ba que vai mudar o mês da corrida de rua.

Segundo o presidente da Saltur, a ideia é antecipar o evento para o mês de maio ou setembro. Também garantiu que tem trabalhado para aumentar os prêmios, queixa de parte dos atletas. “Nós vamos dar voos mais altos”, prometeu.

Foto: Fernando Valverde/ bahia.ba
Foto: Fernando Valverde/ bahia.ba

 

Confira a entrevista na íntegra:

bahia.ba – O trade turístico tem dito que Salvador não comporta dois centros de convenções. O governo já disse que não abre mão de ter o seu próprio complexo. Pode haver um acordo com o Estado para que se construa apenas um espaço? Ou a gente corre o risco de ter dois?

Isaac Edington – Confesso que essa não é uma parte que me cabe. Esse é um projeto que foi capitaneado pelo prefeito [ACM Neto] com Guilherme Bellintani [secretário municipal de Desenvolvimento e Urbanismo], que é o coordenador do Salvador 360, óbvio, interagindo com todo mundo e o trade. Mas duvido muito que exista um acordo [com o governo]. O prefeito ACM Neto administra uma cidade, teve muita paciência de esperar, vendo a cidade definhando em relação ao calendário de eventos, e resolveu tomar uma decisão proativa e empreendedora. Se o governo vai fazer ou deixar, até agora, ninguém viu e ninguém sabe que projeto é esse. Quem tem que falar do projeto do centro de convenções do governo é o próprio governo. O prefeito não anda a fazer promessas vazias e falando o que não pode cumprir. Se disse que vai fazer, já mostrou que tem projeto, não tenho dúvida que esse centro de convenções vai sair. Agora, se lá na frente vai ter dois centros de convenções, vamos esperar para ver o que vai acontecer.

.ba – Na elaboração do projeto, os senhores discutiram com empresas que poderiam ficar com o centro de convenções municipal. Já tem uma empresa definida?

IE – Não. Não estou envolvido nesse projeto direto. Não posso falar algo que não é do meu conhecimento. Foi capitaneado pelo prefeito, com Guilherme Bellintani e a Casa Civil. Cabe a nós, na Saltur, elaborar a plataforma de eventos da cidade. Estamos trabalhando para dinamizar os espaços públicos da cidade, fortalecer os eventos que já existem e criar novos produtos.

“Eu não acredito que esse outro centro de convenções [do governo] saia, pelo menos, da forma que está sendo dito.”

.ba – Agora, com dois centros de convenções, um não pode virar uma espécie de elefante branco? O trade turístico não levantou essa possibilidade?

IE – O que o trade quer é ver as coisas acontecerem. Eu não sei se vai ter um elefante branco, porque não sei se vai ter outro centro de convenções. Eu não acredito que esse outro centro de convenções [do governo] saia, pelo menos, da forma que está sendo dito. Eu não acredito. Mas os possíveis empreendedores, talvez, tenham que pensar duas vezes agora, depois da notícia do prefeito ACM Neto, se vale fazer outro centro de convenções. Isso cabe aos empreendedores e o governo responder a essa pergunta.

.ba – Por que o governo diz que o centro de convenções dele será para eventos internacionais? O do Município não será?

IE – É isso que estou dizendo. Eles devem falar pelo deles. O prefeito foi lá, disse que tem um projeto, a área da cidade, a modelagem, a infraestrutura, a forma tecnológica para desenvolver. Ou seja, nós mostramos tudo. Quem tem que mostrar agora se vai ser um elefante branco ou não vai, é o governo do Estado. É uma pergunta que tem que fazer a ele. Eu não estou me movimentando sobre essa questão para desenvolver uma plataforma de eventos da cidade. Queremos atrair novos eventos contando agora com um equipamento. Nosso objetivo agora é que o equipamento rode full grande parte do tempo.

Foto: Fernando Valverde/ bahia.ba
Foto: Fernando Valverde/ bahia.ba

 

.ba – Na maratona que aconteceu em Salvador no mês passado, os atletas reclamaram que os prêmios foram poucos atrativos. Pensam em melhorar isso?

IE – Nós distribuímos mais de R$ 100 mil em prêmios. Em dinheiro, distribuímos R$ 20 mil. No total, foram R$ 100 mil para uma prova que era o primeiro ano. Fizemos apenas com quatro meses de antecedência. Limitamos a três mil atletas e tive que fazer de última hora mais 500 inscrições devido à grande pressão. Mas foi uma prova coberta de êxito. Nós vamos dar voos mais altos, mas temos que começar as coisas de forma bastante responsável. É dinheiro público. Tivemos patrocinadores, mas ainda não é uma prova, como a maratona de Boston, que atrai de US$ 3 milhões a US$ 4 milhões em investimento. Mas onde a gente quer chegar. Não é uma prova de rua que tem 20 mil participantes, mas todas as provas começaram dessa forma. A maratona de Salvador já começou como a maior prova da cidade. É a prova para se tornar o terceiro maior produto da cidade.

.ba – Salvador tem um problema em relação a espaço para eventos. Há críticas à acústica da Fonte Nova, não tem casa para grandes shows, não tem ginásio… Vocês pensam em algo nesse sentido?

IE – Nesse projeto novo do Aeroclube tem duas coisas para áreas de eventos que é fantástica. Terá um espaço lá dentro do próprio novo Centro de Convenções para 20 mil pessoas.

.ba – Mas ainda é pequeno para um show do porte de Paul McCartney, por exemplo…

IE – Além disso, você tem o Parque dos Ventos, onde será o Réveillon. É possível abrigar vários eventos. Quando o Réveillon acabar aquele espaço será requalificado para se tornar um local para receber eventos de várias categorias. Agora, vão ter vários equipamentos para diversas modelagens de eventos. Vamos ter que mostrar agora para os empreendedores que temos esses espaços.

“[A Stock Car] é um evento que vem 80% patrocinado, cabe ao poder público fornecer infraestrutura. Não poderia chegar aqui e colocar nas costas do governo ou da prefeitura para viabilizar o evento. […] A cidade não perdeu nada. As empresas é que não investiram.”

.ba – Os eventos esportivos são alternativas para o período de baixa estação? Teve a questão da Stock Car que não emplacou.

IE – A crise é devastadora. A crise não tem cor. Na Stock Car, aconteceu uma coisa muito simples. O evento é essencialmente privado. Na hora que o privado recua, não tem como o público [bancar]. Eu estava recém chegado na Saltur, entrou esse pessoal da Stock Car. É um evento que vem 80% patrocinado, cabe ao poder público fornecer infraestrutura. Não poderia chegar aqui e colocar nas costas do governo ou da prefeitura para viabilizar o evento. É um evento que tem bilheteria, mas que depende das marcas. Quando as marcas tiram o tapete, não dá para os governos financiarem 80%. Isso não existe nos dias de hoje. A cidade não perdeu nada. As empresas é que não investiram.

.ba – Mas os eventos esportivos são alternativas?

IE – Sim. Muito interessantes. Em outubro, tem a maratona. No próximo ano, a gente deve puxar para frente. Não tem sentido fazer uma maratona na alta estação, quando a rede hoteleira está ocupada. Qual o desafio da maratona? Encontrar uma brecha no calendário para que a gente não fique tão perto de outras provas já tradicionais e ocupe um espaço. Definitivamente não será em outubro. Será mais para frente. Mas não pode ficar no período de alta estação.

Foto: Fernando Valverde/ bahia.ba
Foto: Fernando Valverde/ bahia.ba

 

.ba – Seria quando então?

IE – Existem duas perspectivas. Ou setembro ou maio. Foi ótimo fazer agora, porque foi um teste. Foi bem sucedido. Estamos estudando uma nova data. Ainda em novembro deste ano, devemos anunciar a maratona de 2018. Já estou pensando em 2019 que tipo de atividade a gente pode articular. Estou me movimentando porque a gente vai ter um equipamento para ter eventos diferenciados tanto para esporte quanto culturais e entretenimento. Vai facilitar muito o trabalho da gente.

.ba – Sempre se fala em um artista internacional no Réveillon. No ano passado, não teve. Esse ano pode ter?

IE – Artista internacional depende de duas coisas. Dinheiro, ou seja, patrocinado, e agenda das atrações. É muito difícil pegar uma atração internacional de um lugar e trazer. É mais fácil quando artista faz um turnê e aparece a oportunidade de atraí-lo. Depende muito dessa oportunidade para trazer uma oportunidade dessa. Pegar e trazer um.

.ba – Então, dificilmente esse ano vai ter?

IE – Não está no nosso plano fazer um investimento para trazer uma grande atração internacional. Ao mesmo tempo, sempre deixo a brecha, porque se tiver uma oportunidade, surgir o recurso, a gente pode trazer. Quem sabe a gente não consegue fazer nesse meio tempo, mas não está no nosso plano.

“Não está no nosso plano fazer um investimento para trazer uma grande atração internacional [para o Réveillon].”

.ba – As atrações do Festival do Verão coincidem com as do Réveillon, hoje chamado de Festival da Virada. Por quê?

IE – A gente segue o nosso passo. Aí o pessoal vê a gente se movimentando e vai. É difícil fazer uma grade melhor do que essa [do Réveillon]. É por isso que tem coincidências. De fato, os melhores a gente tem conseguido trazer para cá.

.ba – Vai ter novamente zona de restrição de venda de bebidas no Réveillon?

IE – Sim, tem um patrocinador que é Ambev, o principal. Essa é uma questão dinâmica que a cidade faz desde 2013. É por isso que a gente tem recursos para viabilizar uma festa como essa. Teremos o mesmo modus operandi.

.ba – O que vai ser diferente do Réveillon do Comércio para o do Parque dos Ventos?

IE – Lá teremos uma área de convivência maior. Até a chegada, será diferente. Vai ficar muito mais agradável poder vir tanto por Itapuã quanto pela Pituba. Terá freira criativa. O portão deve abrir às 13h para as pessoas participarem. Então, vai ter mais espaço. Será muito mais agradável.

Foto: Fernando Valverde/ bahia.ba
Foto: Fernando Valverde/ bahia.ba

 

.ba – Sobre o Carnaval, todo ano há críticas sobre o circuito do Campo Grande. O que vocês pensam para revitalizar o local?

IE – A gente está negociação com vários artistas, em especial aqueles artistas que se dispõem a contribuir com aquele espaço. Vamos contratar grandes atrações para dinamizar. Existe uma coalização para equilibrar os dois circuitos.

.ba – Ainda há uma resistência dos artistas ao percurso do circuito do Campo Grande?

IE – Não vejo essa resistência. O que acontece com o Carnaval é que ele não é imune à crise. As pessoas seguram a grana. Antes, havia também menos opções. Há uma fadiga de material também. E lógico, a seleção natural. Antes, tinham dois ou três camarotes, agora tem 10. Então, é natural ter a seleção. Mas no próximo ano terá a cidade lotada de gente. Vai ser um grande carnaval.

“Em 2018, certamente não vai ter uma cédula com meu nome.”

.ba – O senhor filiou no ano passado no PTB. O senhor continua na Saltur ou sai candidato em 2018?

IE – Não saio candidato a nada. Não tenho nenhum plano. Estou na Saltur. O que vou fazer dia 1º [de janeiro de 2018], é com o prefeito ACM Neto. Não tenho nenhum plano de entrar na política, pelo menos, por enquanto. Não estou dizendo também quem nunca vai ser. Mas, em 2018, certamente não vai ter uma cédula com meu nome.

.ba – Tem convite para ser candidato?

IE – Convite sempre tem, né?

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