De mala e cuia na praia: banhistas vão de cooler e quebram comerciantes
Mesmo com as praias lotadas, comerciantes lamentam prejuízo nas vendas; alternativa é alugar cadeiras e sombreiros
Se ao longo do ano as praias de Salvador estão sempre movimentadas, durante o verão o número de banhistas é ainda maior. Em plena segunda-feira (11), as praias da capital baiana estavam lotadas de soteropolitanos e turistas.
Mas ao contrário do que se pode imaginar, a elevação no fluxo de banhistas não reflete em aumento no lucro dos comerciantes. Em entrevista ao bahia.ba, o vendedor Ivan dos Santos, que trabalha na Barraca do Malhado, na praia do Porto da Barra, explicou o motivo.
“O banhista mudou o comportamento. Eles estão trazendo cooler. Trazem cerveja, refrigerantes, alimentos. Vez ou outra até fazem churrasco na praia”, disse.
A prática já está sendo adotada inclusive pelos visitantes. “O turismo está bem maior esse ano, a cidade e a praia estão cheias. Mas eu já ganhei muito mais com muito menos turista na cidade. Hoje eles estão trazendo suas coisas. O turista já sai sendo avisado pelas pessoas do hotel para não comprar nada na praia porque é caro. Muitas vezes nem é. E isso tem nos dado muitos prejuízos”, comentou o vendedor Geovane de Jesus, de 30 anos, que trabalha na área há 12.
A maior parte da renda destes comerciantes, aparentemente, é decorrente do aluguel de sombreiros e cadeiras. “O que tem nos dado lucro é o aluguel dos sombreiros. Não fosse isso, estaríamos ainda mais quebrados. Ainda assim, a gente paga R$ 120 todo mês para a prefeitura, porque eles cobram licença para trabalhar. E mais R$ 600 de aluguel do depósito para guardar as coisas”, disse.
Os sombreiros são passados para os banhistas por R$ 5 ou R$ 10, a depender do tamanho. Já o valor da cadeira é fixado em R$ 5. Há ainda promoções, a depender do tamanho e quantidade dos materiais. Com isso, no período de uma semana, somado às vendas de bebidas comercializadas nas barracas, o lucro semanal varia entre R$ 1200 e R$ 1500.
Para quem não trabalha com o aluguel de mesas e cadeiras, a saída é a criatividade. Após ficar desempregado em 2014, Jo Cervanio, de 37 anos, encontrou na venda de óculos uma garantia para levar o sustento para casa. Segundo ele, o importante é “ter lábia para conquistar o cliente”.
“Com esse solzão quente, todo mundo quer um oculozinho para curtir o passeio. Nas praias turísticas e pelo Centro Histórico é onde costumo passar vendendo, e vendo bem. Sabendo vender, não há tempo ruim. Hoje trabalho pra mim e sou muito mais feliz. Trabalho sexta, sábado, domingo e segunda. O resto dos dias tiro para descansar”, afirmou.
Durante os quatro dias em que trabalha, Jo consegue lucrar uma média de R$ 600, vendendo peças que variam entre R$ 20 e R$ 30. E assim vai chegando próximo do seu sonho: “Meu objetivo é colocar uma loja de óculos para mim. Nela vou vender óculos e mais outras coisas, como havaianas”, contou.
O “jeitinho” baiano
Se quem vende consegue conquistar o cliente com um bom marketing, quem compra também tem seus truques. O que se vê pelas praias é que, com uma boa pechincha, todo preço pode ser negociado.
Estudante de dança, a jovem Jamile Pinto não perde uma oportunidade de comprar mais barato. Segundo ela, uma das suas melhores compras foi conseguir adquirir dois pedaços de queijo de coalho por R$ 5.
“Ele [o vendedor] passou falando que o queijinho era R$ 4. Conversamos, conversamos e ele fez esses dois por R$ 5. Ele já estava encerrando e queria acabar logo. Costumo sempre brincar com os vendedores e acabo tirando pelo menos R$ 1 em cima do valor que anuncia”.
Outra baiana que sabe bem como aproveitar um dia de sol sem gastar muito é a administradora Maurilha de Paula, de 46 anos. “A gente sabe que aumenta um pouquinho o preço nessa época [verão], mas quem já tem a manhã faz pechincha, traz seu kit, sua cadeira de casa”, afirmou.
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