Antonio Jorge Ferreira Melo é coronel da reserva da PMBA, professor e coordenador do Curso de Direito do Centro Universitário Estácio da Bahia e docente da Academia de Polícia Militar.
Dois espectros rondam o Brasil: fim da impunidade e guerra civil
A indignação e o rancor não são contra a condução coercitiva, mas por ser vista como um balão de ensaio de uma futura prisão de Lula, de desfecho imprevisível
Na manhã da última sexta-feira (4), o Brasil e o mundo acompanharam a operação da Polícia Federal com a condução coercitiva do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para depor, e, como era de se esperar, a medida que integrou a 24ª fase da Operação Lava Jato gerou diversos questionamentos sobre a sua natureza, circunstâncias e necessariedade.
Duramente criticada não só por militantes do PT e do campo popular, mas também por juristas e operadores do direito de diferentes tendências, a condução coercitiva do ex-presidente, por outro lado, também foi louvada e justificada, sendo considerada legal e legitima por outros setores do nosso mundo jurídico e político.
A despeito das controvérsias particulares inerentes ao campo jurídico, sem entrar no mérito da discussão sobre a legalidade e a constitucionalidade dessa medida, bem como de sua conveniência e oportunidade, confesso que me chamou atenção o fato de que, apenas agora, mesmo com o clima de polarização política que vive o país, tenha havido tal clamor.
O fato de já terem sido cumpridos mais de uma centena de mandados de condução coercitiva, nesta e em fases anteriores da mesma operação, tendo como conduzidos integrantes do alto escalão político e econômico nacional, entre os quais o senador Fernando Collor de Mello, representa um claro indicativo de que a indignação e o rancor que geraram raivosas convocações para futuras manifestações e protestos a serem promovidos pela militância partidária, com o apoio dos movimentos populares e sindicais, em verdade, não são dirigidos contra a forma como o instituto da condução coercitiva está sendo aplicado, nem se insurgem contra o tratamento dado a um ex-presidente da República, pois, como visto, há precedente bem recente, mas por ser vista como um balão de ensaio de uma futura decretação da prisão de Luiz Inácio Lula da Silva, de desfecho e consequências ainda imprevisíveis.
Nunca antes na história deste país vivemos tempos como os da ‘Operação Lava Jato’
Sinceramente, parece estéril argumentar com a militância de esquerda e parte da intelectualidade brasileira que tem se comportado de forma acrítica com relação ao que foram os governos Lula e Dilma, de que ninguém pode estar acima da lei, pois, em lugar de assumir a verdade da vergonhosa corrupção que frustrou o sonho de todos aqueles que acreditaram nos seus esforços para construir um novo Brasil, preferem adotar a postura de avestruzes, enquanto seu líder posa de jararaca ferida, em lugar de buscar substituir o velho broche da desgastada e cada vez mais solitária estrela vermelha pelo da fênix, sendo consumida pelo fogo purificador.
Como nos alerta Leonardo Boff, ao adotar os hábitos e as atitudes das velhas elites que tanto criticavam e combatiam, as lideranças do Partido dos Trabalhadores parecem que perderam o sentido originário do poder como meio de transformação em benefício das grandes maiorias para utilizá-lo, apenas como fim em si mesmo.
Nunca antes na história deste país, com absoluta certeza, vivemos tempos como os da “Operação Lava Jato”. Alea jacta est! O certo é que, mesmo com a falta de neutralidade que caracteriza qualquer julgamento, ela está tendo o mérito de ajudar na elucidação dos mecanismos que alimentam as entranhas da histórica corrupção neste país, porém não podemos vê-la como uma panaceia que, curando todos os nossos males, possa nos levar ao melhor dos mundos, pois, é apenas um meio de fazer justiça, não um fim. Assim, não é sem sentido que seu espectro, atualmente, ronda o Brasil como um arauto esperançoso do fim da impunidade, mas, ao mesmo tempo, apocalíptico, prenunciando o início de uma guerra civil na qual, como em toda guerra, os poderosos serão os generais e nós, o povo, seremos os soldados armados ou não, amados ou não, quase todos perdidos de armas na mão…
Mais notícias
-
Política
10h00 de 04 de maio de 2024
Convidada por Eduardo Paes, Janja pode se encontrar com Madonna no Rio de Janeiro
Segundo Lauro Jardim, existe a expectativa do encontro, embora não haja confirmação oficial
-
Política
09h00 de 04 de maio de 2024
Sem quórum na Alesc, emperra PL que prevê título de cidadão catarinense a Bolsonaro
Projeto rendeu alvoroço, pois norma editada em 2021 para retaliar Lula (PT) impede a concessão de honraria a pessoas que estão inelegíveis
-
Política
22h00 de 03 de maio de 2024
Lula sanciona marco legal dos jogos eletrônicos no Brasil
Pelo texto, a indústria do setor, por meio dos desenvolvedores de games, deve proteger crianças e adolescentes da exposição a jogos violentos ou abusos
-
Política
21h00 de 03 de maio de 2024
Advogado diz que Cid admitiu que ‘pisou na bola’ ao criticar investigação da PF
Tenente-coronel Mauro Cid foi solto nesta sexta-feira (3)
-
Política
20h40 de 03 de maio de 2024
TSE mantém inelegibilidade de Bolsonaro e Braga Netto por oito anos
Bolsonaro foi declarado inelegível pela segunda vez em 2023 e como a penalidade não é cumulativa, o prazo de inelegibilidade permanece
-
Política
19h17 de 03 de maio de 2024
Presidente Lula prorroga GLO em portos e aeroportos por mais 30 dias
Decreto é publicado em edição extra do Diário Oficial da União
-
Política
17h45 de 03 de maio de 2024
Kassab filiou papa Francisco ao PSD, brincam assessores durante encontro em Roma
No Palácio dos Bandeirantes, assessores brincaram que Kassab havia filiado um quadro importante ao PSD
-
Política
16h57 de 03 de maio de 2024
Câmara Federal terá audiência pública sobre reconhecimento facial
Proposta da audiência visa debater as variáveis que envolvem a temática, especialmente, trazendo a realidade vivenciada na Bahia, onde a tecnologia encontra-se em funcionamento
-
Política
16h37 de 03 de maio de 2024
Prefeito de Salvador critica impactos do veto à desoneração da folha
"Quando você veta a desoneração da folha, já há um aumento imediato de encargos que incidem no transporte público", pontuou Bruno Reis
-
Política
16h33 de 03 de maio de 2024
Partido Novo denuncia Lula no MP por abuso de poder em “campanha” para Boulos
Discurso foi transmitido pelas redes sociais