Seria possível construir uma cidade no mar? Ativistas estão desenvolvendo o projeto
Ideia já foi colocada em prática por um casal na Tailândia
Seria possível construir uma cidade em alto mar? Provavelmente, muitas pessoas digam que não, mas empresários ativistas resolveram desafiar a probabilidade e revolucionar o conceito de civilização que conhecemos. “Reimaginando a civilização com cidades flutuantes”, esse é o lema do Seasteading Institute, que se define como uma organização sem fins lucrativas que promove a criação de cidades oceânicas flutuantes como uma solução revolucionária para alguns dos problemas mais urgentes do mundo: aumento do nível do mar, superpopulação e má governança.
O desejo de viver em uma sociedade autônoma, livre do controle estatal, é o que moveu o anarcocapitalista e neto do economista Milton Friedman, ganhador do prêmio Nobel, Patri Friedman, em 2008. Enquanto ele trabalhava como engenheiro de software do Google conseguiu atrair o financiamento do bilionário do PayPal Peter Thiel para a criação do instituto.
Como grande parte do oceano nunca foi reivindicada por nenhum país ou organização, essa parecia ser a escolha mais fácil e óbvia para realizar o sonho de estabelecer comunidades permanentes e autônomas. Os avanços, no entanto, têm sido instáveis. Patri garante haver tecnologia suficiente para a realização da grande empreitada, mas busca viabilidade econômica para os seus testes.
Em janeiro de 2017, após anos de estudo de viabilidade técnica e negociações políticas, o Seasteading Institute assinou um acordo com o governo da Polinésia Francesa para construir as primeiras bases do mar em suas águas. Os projetos são ousados e incríveis, parecendo resorts de luxo. A escolha da localização não foi por acaso. A Polinésia é uma grande interessada, pois está ameaçada de um grande desastre, em caso de aumento do nível do mar, como consequência do aquecimento global.
No entanto, não houve um alinhamento dos interesses. Enquanto o instituto desejava criar um projeto focado em uma sociedade autônoma, a Polinésia Francesa procurava algo para lidar com a elevação do nível do mar. Desde então, diversas outras organizações e projetos paralelos passaram a surgir, inclusive, com ideais diferentes.
O ex-ministro do Turismo da Polinésia Francesa, co-fundador da empresa Blue Frontiers, se mudou para Nova York e passou a desenvolver com o escritor Joe Quirk um projeto intitulado Oceanix City. Em entrevista ao jornal inglês, The Guardian, ele contou que percebeu “que o futuro real desse tipo de projeto precisa estar mais próximo das cidades”.
Segundo ele, nas próximas quatro décadas, o mundo deverá construir 230 bilhões de metros quadrados em novas construções, o que equivale a cidade de Nova York. Para Frontiers, essa é uma oportunidade para reconfigurar a forma urbana e diminuir os efeitos devastadores da terra, alocando e movendo construções de acordo com a necessidade. Assim, seria possível flutuar uma quadra da cidade e colocar em outro lugar, quando surgisse uma necessidade como escola ou hospital.
Apesar de parecer distante da nossa realidade atual, um casal já conseguiu colocar em prática essa ideia e morar em alto mar. O estadunidense Chad Elwartowski e a namorada tailandesa Supranee Thepdet, lançaram em abril de 2019, o que eles chamaram de “primeiro seasteading do mundo”. Os ativistas libertários, criaram uma plataforma com 20 metros quadrados, erguida a 19 quilômetros da costa de Phuket, uma ilha tailandesa.
No entanto, foram forçados a fugir de sua primeira casa flutuante na costa da Tailândia, momentos antes de ser invadida pela marinha tailandesa. As autoridades estatais da Tailândia declararam que a cabine de fibra de vidro de seis metros de largura, no topo de um poste flutuante, representava uma ameaça à soberania do país. Devido a isso, o casal corre o risco de ser condenado à pena de morte.
Chad Elwartowski e a sua namorada conseguiram, depois de semanas se esquivando da patrulha tailandesa, fugir para Cingapura. Atualmente o casal vive no Panamá e estão relançando a sua empresa, Ocean Builders, com o apoio financeiro de Rüdiger Koch, um engenheiro aeroespacial alemão aposentado. Em um comunicado publicado na internet, o grupo disse que o ocorrido dobrou os seus esforços. “Todos nós podemos ver claramente que a destruição do mar precisa acontecer agora, à medida que a tirania se infiltra cada vez mais profundamente em nossos governos, a ponto de estarem dispostos a caçar um casal de residentes que residem em uma casa flutuante no meio do nada”.
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