Juristas divergem sobre legalidade dos grampos nas ligações de Lula
A conversa de Lula com Dilma foi apontada como indício de que o ex-presidente estaria se beneficiando do cargo de ministro para obter o foro privilegiado
A legalidade das interceptações telefônicas do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva pela Polícia Federal e sua posterior divulgação divide a opinião dos juristas entrevistados pelaAgência Brasil.
Professor de direito penal da PUC do Rio Grande do Sul (PUCRS), Marcelo Peruchin entende que não houve falhas na atuação do juiz federal Sérgio Moro, da 13ª Vara Federal de Curitiba. Para o professor de processo penal da Universidade de São Paulo (USP) Gustavo Bardaró, a divulgação das gravações podem levar o magistrado a responder, inclusive, na esfera criminal.
“Não consigo ler na lei nenhum dispositivo que autorize o levantamento do sigilo, mesmo na linha de argumentação dele [Moro] de que, em casos de crimes contra a Administração Pública, o cidadão precisa fiscalizar o que os governantes estão fazendo”, afirmou Bardaró em referência à Lei 9.296/96, que regulamenta a interceptação de comunicações telefônicas. Para o especialista, a ação torna o juiz passível de responsabilização pelo crime de violação do sigilo profissional.
Peruchin não compartilha do entendimento de Bardaró. “A Constituição traz como princípio do processo penal a publicidade dos atos. E foi esse princípio que o juiz utilizou para levantar o sigilo”, avaliou o professor da PUCRS. Segundo ele, o princípio constitucional tem mais peso que a regra estabelecida em lei.
Nas conversas divulgadas na quartaJuristas divergem sobre legalidade dos grampos nas ligações de Lula (16), Lula fala com diversas pessoas, entre elas a presidenta Dilma Rousseff e o então ministro-chefe da Casa Civil Jaques Wagner, que gozam de foro privilegiado por prerrogativa de função e, portanto, só podem ser investigados pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Conforme Marcelo Peruchin, a participação dessas autoridades nas gravações não invalida juridicamente as provas.
“A interceptação foi válida, porque o alvo era o ex-presidente. Dilma e Wagner foram interlocutores fortuitos. A partir do momento em que eles surgem [nas gravações] e há indícios da prática de crime, ele [Moro] precisa enviar a gravação para o Supremo. E foi exatamente o que ele fez”, ressaltou Peruchin.
Gustavo Bardaró reconhece que as gravações não precisariam ser interrompidas pela PF em função da participação da presidenta e do ministro. Entretanto, ele afirma que não caberia ao juiz federal qualquer decisão posterior sobre esse material. “Se ao Moro pareceu criminoso [o conteúdo da gravação], ele deveria ter se reconhecido incompetente e encaminhado [a gravação] ao STF sob segredo de justiça”, afirmou o professor da USP.
Gravações atrasadas
A gravação da conversa de Lula com a presidenta Dilma foi apontada como indício de que o ex-presidente estaria se beneficiando do cargo de ministro para obter o foro privilegiado. Essa interceptação foi feita às 13h32 de quarta-feira (16) — duas horas após o juiz Sérgio Moro determinar a suspensão das interceptações, o que acontecera às 11h12 do mesmo dia.
Para Bardaró, Moro falhou ao não descartar essas gravações “Ele deveria ter reconhecido as receptações posteriores como ilícitas e não permitido sua divulgação”. O jurista disse ainda que a atitude correta teria sido a destruição imediata do material.
Peruchin manteve-se neutro sobre a validade ou não da conversa interceptada entre Lula e Dilma como prova nas investigações. “Pode até ser que o Supremo entenda que a origem da interceptação seja legal e salve o conteúdo. Mas esse certamente será um ponto de grande discussão no tribunal”, concluiu o professor.
Mais notícias
-
Política
16h25 de 27 de novembro de 2024
Prefeito, vice e vereadores eleitos serão diplomados dia 18 de dezembro
No interior, o prazo final para a diplomação dos eleitos é 19 de dezembro, conforme o Calendário Eleitoral das Eleições Municipais
-
Política
16h16 de 27 de novembro de 2024
Lula e Orsi, presidente eleito do Uruguai, se encontram em Brasília nesta quinta (28)
Orsi é pupilo do ex-presidente Pepe Mujica e integra a coalizão de Frente Ampla no Uruguai
-
Política
15h33 de 27 de novembro de 2024
Por 35 votos a 15, deputados aprovam proposta que restringe aborto legal no país
O texto agora será encaminhado para a análise de uma comissão especial
-
Política
15h32 de 27 de novembro de 2024
Vice-líder do governo, Bacelar chama Bolsonaro de ‘traidor da pátria’
Deputado repercutiu o inquérito da PF que desvendou a trama para realização de golpe
-
Política
15h05 de 27 de novembro de 2024
Haddad anunciará isenção de IR para quem ganha até R$ 5 mil durante pronunciamento na TV
Ministro da Fazenda fará anúncio de pacote de gastos e isenção do Imposto de Renda em rede nacional, nesta quarta-feira (27), às 20h30
-
Política
14h48 de 27 de novembro de 2024
PEC que barra militares da ativa na política tem pouca chance de ser pautada, diz coluna
Para o líder do governo no Senado, Otto Alencar, pautar o tema agora significaria um “revanchismo” qual Lula já falou não querer
-
Política
14h30 de 27 de novembro de 2024
PF aponta envolvimento de presidente do PL no MS em trama golpista
O presidente do diretório, Aparecido Andrade Portela, é suplente no Senado
-
Política
14h28 de 27 de novembro de 2024
Relatório da PF revela minuta de golpe apresentada por Bolsonaro a militares
Conteúdo era idêntico ao documento apreendido em janeiro de 2023 na residência do ex-ministro da Justiça, Anderson Torres
-
Política
13h45 de 27 de novembro de 2024
Lula diz que oposição da França não influenciará acordo com a UE: ‘não apitam mais nada’
Segundo o presidente, quem "apita" nesta questão é a Comissão Europeia
-
Política
13h23 de 27 de novembro de 2024
Parlamentares terão mais de R$ 50 bilhões em emendas orçamentárias em 2025
Emendas individuais no ano que vem tiveram redução de 1,6%