Empresário admite que ex-presidente da Eletronuclear pegou propina
Carlos Gallo, dono da CG Consultoria, diz ter atuado como intermediário para que Othon Luiz Pinheiro da Silva recebesse dinheiro da construtora Andrade Gutierrez
O empresário Carlos Gallo, dono da CG Consultoria, admitiu nesta quarta-feira (27) ter atuado como intermediário para que o ex-presidente da Eletronuclear Othon Luiz Pinheiro da Silva, investigado por um esquema de corrupção nas obras da usina de Angra 3, recebesse dinheiro da construtora Andrade Gutierrez quando já estava à frente da estatal. Em audiência aberta na 7ª Vara Federal Criminal do Rio de Janeiro, Gallo admitiu que a CG recebeu quase R$ 3 milhões por meio de três contratos com a empreiteira, dinheiro que foi repassado à Aratec Engenharia, empresa de Othon.
“O Dr. Othon, em 2008, me solicitou… ele disse que tinha feito um serviço para a Andrade Gutierrez na área de energia, anterior a ele como presidente da Eletronuclear. Como ele foi nomeado presidente, esse serviço não havia sido efetivamente cobrado, e ele, até para ajudar em negócios futuros (ele era obcecado por um projeto de turbinas), ele precisava receber da Andrade Gutierrez. Ele perguntou se eu poderia, através da minha empresa, receber esse dinheiro para ele”, contou Gallo.
O executivo disse ainda que aceitou o negócio em função da amizade com Othon, a quem conhecia havia 10 anos, e da qualificação profissional do almirante. Afirmou ainda que não se sentiu enganado, mas tampouco teria admitido o negócio se soubesse que o dinheiro era fruto de propina.
“Ele alegou que, como era presidente da Eletronuclear, não queria fazer direto para a empresa que ele tinha com a filha (Ana Cristina Toniolo, também investigada na ação). Eu levantei esse problema (de ocultação de recursos), questionei. Mas ele disse ‘nunca envolveria minha filha se eu não estivesse bem seguro sobre esse serviço'”, acrescentou Gallo.
Havia ainda a expectativa de que a CG Consultoria atuasse em serviços de projeto e execução na concepção das turbinas idealizadas por Othon. Essa perspectiva também pesou para que o executivo aceitasse o negócio.
Fachada – A CG Consultoria é uma das empresas acusadas de receber dinheiro de propina de empreiteiras que operavam na obra de Angra 3 por meio de contratos de fachada. Esses recursos teriam sido repassados posteriormente a Othon por meio de pagamentos à empresa Aratec Engenharia. As outras duas são a JNobre e a Deutschebras. Seus sócios também vão depor à Justiça nesta quarta.
A JNobre Engenharia, inclusive, entrou no círculo por intermediação de Gallo. Foi ele quem apresentou Othon ao sócio da empresa, Josué Augusto Nobre, também réu no processo.
“Eu disse ‘Othon, eu gostaria de parar com esse tipo de coisa, isso está me atrapalhando’. Ele perguntou se conhecia alguém para fazer esse tipo de serviço. Falei com o Josué, expliquei, e disse que eu ficaria responsável pelo projeto das turbinas e que ele participaria junto”, afirmou Gallo.
Ao todo, a CG Consultoria recebeu R$ 2,93 milhões da Andrade Gutierrez, em valores brutos. De acordo com o Ministério Público Federal (MPF), R$ 2,045 milhões foram repassados à Aratec. A diferença corresponde a impostos pagos e a despesas operacionais, alegou o executivo.
Os contratos com a Andrade Gutierrez foram firmados entre Gallo e Olavinho Mendes, funcionário da empreiteira. Em depoimento na última segunda-feira (25), Mendes, que firmou acordo de delação premiada, afirmou que forjava objetos para que os contratos fictícios parecessem reais. “Ele me passou os termos do contrato e os elementos para eu discutir um estudo em cima daquilo. Olavinho passou o que precisava para caracterizar o contrato”, disse Gallo.
Na Aratec, o contato de Gallo era Ana Cristina Toniolo, filha de Othon e sócia na empresa do pai. Segundo o executivo, o objeto do contrato era decidido em comum acordo. “Eram serviços (para Aratec) que eu combinei com a Ana Cristina”, afirmou o executivo da CG.
A advogada Ana Beatriz Saguas, que defende Ana Cristina, afirmou que o depoimento confirma que a filha de Othon apenas secretariava o pai. “Ela não teve participação ativa, sequer imaginava”, disse.
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