Publicado em 20/06/2023 às 15h03.

2 de Julho: Maria Felipa, heroína de Itaparica que incendiou navios e virou símbolo de liderança

Apesar dos pouquíssimos registros históricos a seu respeito, Maria Felipa permanece no imaginário popular como uma das grandes inspirações de luta pela liberdade

Redação
Foto: Alberto Henschel

 

Não se sabe ao certo quando ela nasceu. O que se conta mesmo é que ela morreu em quatro de julho de 1873 e teria vivido na Ilha de Itaparica como uma das mais inspiradoras heroínas da luta pela Independência do Brasil.

Na época em que Maria Felipa vivia por lá, o lugar era chamado de Arraial da Ponta das Baleias, e ela própria teria sido responsável por tornar a região fundamental para as batalhas pela libertação do território brasileiro do poder português.

Mulher negra, marisqueira e pescadora, Maria Felipa teria conseguido “tomar o protagonismo desse cenário, agregar povos diferentes em prol de um ideal” por causa da “sua ancestralidade africana”, conforme afirma a professora Viviane Carla Bandeira, historiadora e pesquisadora da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB).

“Nas sociedades africanas era muito comum, o matriarcalismo, onde as mulheres exerciam o controle local, cuidando de toda comunidade”, observa a professora, que atribui à própria Maria Felipe o poder de agregar pessoas ao seu redor.

Pesquisadora de gênero e raça no período colonial e imperial, Viviane Bandeira lamenta que a História tenha insistido por muito tempo em utilizar “fontes escritas como método para a compreensão dos fatos históricos”. Segundo ela, só a partir do uso de outras ferramentas como a oralidade e a cartografia, perfis históricos como o de Maria Felipa passaram a fazer a ganhar a notoriedade que a personagem merece, retirando o peso do caráter ficcional de sua vida.

Em sua pesquisa, Viviane Bandeira destaca que Maria Felipa liderava um grupo de mulheres e acabou se transformando em um símbolo após a morte, uma espécie de exemplo a ser seguido por grupos femininos que buscavam “ar para respirar” em uma sociedade marcada pela cultura do patriarcado.

“Além de mulheres, ela exercia a liderança sobre a população pobre da ilha de Itaparica, inclusive agregando índios tupinambás e tapuias. O que nos faz ainda mais admirar essa mulher que num contexto onde essa deveria estar reclusa ao lar, consegue liderar outras mulheres negras e um grupo bem diversificado”, ressalta a pesquisadora da UFRB.

A heroína de Itaparica – Maria Felipa de Oliveira foi uma mulher brasileira, marisqueira, pescadora, que exercia o trabalho braçal na Ilha de Itaparica e atuou na luta pela Independência do Brasil, na Bahia.

Do povo, ela liderou um grupo para lutar contra os soldados portugueses, agregando mulheres e homens da cidade. Queimou inúmeras embarcações portuguesas, apesar da grande diferença de poder armamentista, superou a ação dos militares que representavam o país colonizador no decorrer da batalha.

Sem muitos recursos, enfrentou os portugueses usando folhas de cansanção, uma planta muito conhecida no Nordeste por deixar marcas vermelhas e sensação de queimação na pele após o contato.

Segundo relatou o escritor baiano Ubaldo Osório Pimentel, avô do romancista João Ubaldo Ribeiro, a atuação de Maria Felipa e seu grupo resultaram na derrota e debandada de soldados da tropa portuguesa na região, fazendo dela um ícone a ser reverenciado nas comemorações do Bicentenário da Independência do Brasil, uma das “Mulheres da Independência”.

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