Partido Trabalhista conquista maioria absoluta no parlamento e vai comandar o Reino Unido
Resultado é a vitoria mais expressiva do partido em quase um século e encerra 14 anos de domínio do Partido Conservador
O Partido Trabalhista britânico alcançou nesta sexta-feira (5) uma vitória histórica nas eleições parlamentares, conquistando assentos suficientes para garantir a maioria absoluta no Parlamento do Reino Unido. Na madrugada desta sexta-feira, 5, O partido assegurou 412 das 650 cadeiras, enquanto os conservadores alcançaram 120 assentos, conforme resultado parcial e retornam ao poder do país após 14 anos de domínio do Partido Conservador.
Segundo matéria do Estadão, 0s trabalhistas conquistaram 214 assentos a mais do que na última eleição, enquanto os conservadores perderam 251 cadeiras, a pior derrota do partido desde a 2ªa Guerra Mundial. Com o resultado, o líder do Partido Trabalhista, Keir Starmer se prepara para se tornar o próximo primeiro-ministro e formar um governo majoritário.
“A todos os que fizeram campanha pels trabalhistas nestas eleições, a todos os que votaram em nós e depositaram a sua confiança no nosso novo Partido Trabalhista – obrigado”, escreveu Starmer no X, o antigo Twitter, minutos depois do fechamento das urnas. Caso as projeções se confirmem, será um avanço de 209 cadeiras.
A vitória, entretanto, não é novidade para os analistas politicos, e até mesmo pelos conservadores, que já a consideravam garantida antes mesmo da votação. Na véspera, a revista Economist afirmava que as chances da oposição conquistar a maioria absoluta eram de quase 100 % — Sunak, que chegou a criticar publicamente alguns de seus ministros considerados pessimistas, fez um apelo no meio da tarde: “Evite a supermaioria trabalhista. Vote nos Conservadores”, escreveu no X, o antigo Twitter, em uma tentativa de contenção de danos.
A derrocada dos conservadores
Em segundo lugar veio o Partido Conservador, com 131 cadeiras. O agora futuro ex-premier Rishi Sunak, pode ver o cenário piorar em vista da longa lista de integrantes do partido que podem ficar sem vaga no Legislativo, e inclui Jeremy Hunt, ministro das Finanças, e Grant Shapps, ministro da Defesa. Sunak reconheceu a derrota e telefonou para Starmer para parabenizá-lo pela vitória. Em um cenário de desgaste econômico e crescente desconfiança nas instituições, o novo governo enfrentará grandes desafios para atender às expectativas de mudança da população.
Sunak convocou as eleições em maio, de forma até inesperada, em uma decisão que até hoje intriga analistas políticos e é questionada por aliados, especialmente os que foram derrotados nesta quinta-feira. No Reino Unido, os eleitores escolhem um único candidato em seus distritos e o mais votado é eleito, mesmo que com menos de 50% dos votos. Os primeiros resultados oficiais já confirmam as projeções, com um bom desempenho dos trabalhistas e escorregões dos conservadores.
A derrota é mais um capítulo da conturbada trajetória dos conservadores à frente do governo britânico nos últimos 14 anos. Entre a decisão de convocar o referendo sobre a saída do Reino Unido da União Europeia, o Brexit, que fez do premiê David Cameron uma espécie de persona non grata no meio político, a crise sanitária, considerada a maior em um século e a pandemia de Covid-19, ambas durante o governo de Boris Johnson, que protagonizaria ainda escândalos de vários tipos, desde reformas indevidas até festas proibidas durante o período de isolamento social, até a curta e não menos conturbada estadia de Liz Truss— cujo mandato durou 44 dias e foi marcado pela morte da Rainha Elizabeth II — na residência de Downing Street, chegando finalmente em Sunak.
Em entrevista à BBC, Jacob Rees-Mogg, ex-deputado conservador, disse que o partido considerou que os votos de algumas áreas “já estavam garantidos” e não trabalharam para mantê-los, mesmo diante da sucessão de crises no país e na própria sigla, que teve três líderes desde a última eleição, em 2019. “Não temos o direito divino sobre os votos”, concluiu.
A extrema direita conseguiu um grande resultado também, com Partido Reformista Britânico, o Reform UK, liderado por um dos rostos mais conhecidos da campanha pela saída do país da União Europeia, Nigel Farage, conseguindo 13 cadeiras. Tentando espelhar o sucesso de Marine Le Pen, do Reagrupamento Nacional, na França, Farage falhou em não conseguir amenizar o seu discurso e os de muitos de seus aliados. O partido acumula polemicas e vários candidatos foram expulsos após falas racistas.
“Esse é o nosso passo mais significativo rumo a um objetivo de longo prazo, focado em 2029 [ano das próximas eleições gerais], e também na criação de um movimento pelo senso comum neste país”, disse Farage, em entrevista à Reuters na quarta-feira. Os Liberal-Democratas retomaram o posto de terceira força, com 61 cadeiras (+53), se recuperando da série de péssimos resultados desde as eleições gerais de 2015, e se aproveitando da fragilidade dos conservadores.
A reconstrução do Partido Trabalhista
Em meio às crises internas dos conservadores e à deterioração das condições econômicas do Reino Unido, com uma inflação que chegou a dois dígitos, Keir Starmer conseguiu remodelar o discurso do partido, abandonando a linha mais à esquerda de Corbyn e conduzindo a sigla para o centro.
Ele se aproveitou da insatisfação dos eleitores com o que viam como promessas descumpridas dos conservadores, se apresentando como o nome certo para unir e “reconstruir” o país. Pautas como economia, melhora do sistema público de saúde, o NHS, alvo de críticas nos últimos anos, aumento de gastos com políticas ambientais e medidas mais rigidas em relação a imigração, foram base para sua campanha. A imigração, alias, que foi tema central da campanha: ao mesmo tempo em que se distanciou de planos como o envio de imigrantes que pediram asilo para Ruanda, ele prometeu agir para conter as gangues de “coiotes”, que ajudam pessoas vindas de vários cantos do mundo a entrarem de forma irregular no país. Tudo, garantiu, de acordo com as leis e tratados internacionais sobre o tema.
Na política externa, Starmer recebeu críticas de setores mais à esquerda ao reiterar o apoio a Israel na guerra contra o grupo terrorista Hamas, na Faixa de Gaza, e rejeitar as acusações de que os israelenses praticavam um genocídio no enclave palestino. A promessa de elevação de gastos militares lhe rendeu a alcunha de “Líder do Partido da Otan” por parte de progressistas — Starmer defende o envio de ajuda militar à Ucrânia, e parece ter no presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, um aliado: em junho, nas comemorações do “Dia D”, Zelensky divulgou um vídeo no qual aparece ao lado do líder trabalhista, sem Rishi Sunak, o então primeiro-ministro, a vista.
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