Publicado em 30/09/2024 às 19h29.

Bruno Reis: ‘Desempenho de Geraldo está aquém das expectativas de muitos’

"As críticas que ele faz não têm credibilidade, e isso foi, sem sombra de dúvidas, o que dificultou", diz o prefeito e candidato à reeleição em entrevista ao bahia.ba

Matheus Morais / Romulo Faro
Foto: João Lucas/bahia.ba

 

Embora todas as pesquisas de intenção de voto sobre a disputa pela Prefeitura de Salvador neste ano apontem para sua vitória no primeiro turno, o prefeito e candidato à reeleição, Bruno Reis (União Brasil), diz em entrevista ao bahia.ba que “não tem isso de já ganhou” e que, nesta última semana de campanha, continuará a fazer suas atividades eleitorais “com os pés no chão”.

Ele também analisou o desempenho de Geraldo Junior (MDB), seu ex-aliado e, agora, principal adversário. Para Bruno Reis, a tentativa do vice-governador de “nacionalizar a eleição”, usando a todo tempo o recurso ‘candidato de Lula em Salvador’, é uma “estratégia furada”. Na reta final da caminhada, o prefeito avalia que o desempenho de Geraldo “fica muito aquém das expectativas de muitos” aliados, incluindo o núcleo duro do Partido dos Trabalhadores (PT) na Bahia (senador Jaques Wagner, governador Jerônimo Rodrigues e ministro da Casa Civil, Rui Costa).

Bruno Reis nega suposto afastamento de seu padrinho político, ACM Neto (União), quem, segundo ele “está mais ativo” em sua campanha deste ano em comparação à de 2020. O prefeito falou ainda sobre os desafios de sua gestão e o que os soteropolitanos podem esperar de um possível segundo mandato (se ele for releeito). Confira abaixo a íntegra da entrevista.

Foto: João Lucas/bahia.ba

 

As pesquisas apontam para sua reeleição e já no primeiro turno. Com isso, seus aliados já se animam para daqui a quatro anos… Em 2020, Léo Prates (deputado federal) já dizia que o projeto dele não era ser vice de ninguém, mas que quer ser ‘candidato de ACM Neto e candidato de Bruno Reis’ em 2028. Já tem um problema aí? Ana Paula Matos, sua vice-prefeita, como vocês dizem, vai ter ‘legitimidade’ para querer se candidatar, e outros aliados que caminham com você e ACM Neto também devem querer.

É cedo para falar em 2028. Nós não estamos nem falando em 2026 ainda, mas Léo [Prates] sem sombra de dúvidas tem estatura política e tem toda a legitimidade para pleitear seu nome para minha sucessão. Eu brinco que na política tem dia de paquerar, dia de namorar, dia de casar e ainda tem um longo caminho a ser percorrido. O foco agora é vencer as eleições, não dá para falar em futuro com tanta antecedência, vamos deixar passar 2024, vamos trabalhar muito para 2026. Depois de 2026 vamos discutir 2028, mas a gente teve essa capacidade de preparar novos quadros, pessoas que têm todas as condições de fazer com que esse trabalho que Salvador vem vivenciando nos últimos anos continue no futuro.

Ana Paula Matos teve seu nome confirmado na chapa depois de muita disputa com aliados de outros partidos. O processo foi complicado? Deixou algum aliado insatisfeito?

Com certeza, as conjunturas políticas, e talvez o destino, levaram Ana [Paula Matos] à condição de candidata à vice em 2020, nos elegemos juntos, ela fez um grande trabalho, primeiro como secretária de Governo, depois como secretária de Saúde, e especialmente neste trabalho, em que se destacou mais. O resultado do nosso trabalho levou a um sentimento que a gente ouvia nas ruas, uma voz corrente de que ‘em time que está ganhando não se mexe’. Ela permaneceu ao meu lado como vice, com fé em Deus e com o apoio do povo da nossa cidade, a gente se reelegendo já no dia 6 de outubro (próximo domingo), ela se torna uma grande player para o futuro, porque reúne experiência administrativa, já percorreu praticamente todas as áreas da prefeitura, esteve na educação, na saúde, na área social, na área da previdência, na área das prefeituras-bairro, nas secretarias de governo. Ela também desenvolveu muito sua habilidade política. Quem poderia imaginar que Ana chegaria à condição de candidata a vice-presidente da República (em 2022, candidata a vice de Ciro Gomes – PDT)? Isso mostra também sua habilidade política e traz. Ela traz o fato de ser mulher, então é uma renovação com uma mulher ocupando uma posição de liderança, sendo representada. Não tenho dúvida de que o futuro reserva para Ana ainda grandes desafios e grandes missões. Nossa vantagem em relação aos nossos opositores é que nós temos tempo e idade, nós estamos trazendo uma renovação na política, com experiência, com serviços prestados. Eu tenho aí pelo menos mais 30 anos de vida pública. Se considerar que a cada dois anos tem eleição, tem 15 eleições para se disputar. Então eu tenho certeza que [ACM] Neto, eu, Léo [Prates], Ana e outros do nosso grupo, tantos outros nomes que nós temos. E aí vamos para os deputados federais, estaduais, nossos vereadores e quadros técnicos que nós temos em nossa gestão; vamos ter a oportunidade de ocupar ainda outros cargos públicos com grande relevância para servir à nossa cidade e a nosso estado.

Em 2020 você falava muito em ACM Neto como seu líder. Hoje você já fala bem menos, e a gente tem visto ACM Neto com menos intensidade em suas atividades de campanha. Esfriou um pouco? Ou é natural porque você já tem autonomia politica, já não precisa tanto da imagem dele?

Na verdade, ele [ACM Neto] tem participado de mais eventos políticos nesta eleição de agora do que na de 2020, até pelas restrições da pandemia. Na primeira eleição, ele tinha uma participação maior no programa eleitoral, era natural. Mesmo eu tendo sido deputado, secretário duas vezes, vice-prefeito, as pessoas não me conheciam com profundidade como me conhecem hoje, então esse aval de Neto, o pedido de Neto trazia uma segurança para as pessoas. Passaram-se quatro anos, e a nossa relação só se fortaleceu nesse período, a amizade que já são de 25 anos unidos por um propósito, onde há um respeito, uma admiração mútua. Neto, seja como prefeito, seja durante a minha trajetória na vida pública ao lado dele, eu sempre digo isso, nunca me deu nada, mas me deu o que a gente considera mais importante, que foram as oportunidades. E eu fui lá e performei, e isso me levou à condição de ser escolhido como candidato dele em 2020 e ter podido realizar um trabalho que hoje eu sei que é motivo de muito orgulho para ele. A gente diz sempre aqui no nosso grupo que, para cada um crescer, para a gente poder dar voos mais altos, a gente vai precisar formar quadros, e quanto melhor for o desempenho desses quadros, melhor e maior será a chance de êxito do nosso grupo em eleições futuras, seja na Bahia, seja no Brasil. Tenho certeza de que Neto hoje se sente muito feliz e ele próprio diz que, quando muitos não acreditavam que era possível fazer um trabalho igual ao que ele fez, que eu consegui até superar, e digo isso aqui com toda a humildade, porque hoje a prefeitura tem outro tamanho, tem uma outra dimensão.

Orçamento e capacidade de ações da prefeitura

Quando Neto assumiu a prefeitura, o orçamento em 2013 era de R$ 4 bilhões; ele me entregou com R$ 8,6 bilhões, e muito provavelmente eu fecho esse ano com R$ 13 bilhões, mais de um bilhão por ano de incremento sem aumentar impostos. Por que isso, prefeito? Pelo crescimento econômico da cidade, nosso principal tributo é o ISS (Imposto Sobre Serviços de Qualquer Natureza), que hoje tem um peso significativo na nossa arrecadação, fruto desse momento que vive a cidade. Então, naturalmente, com mais recursos, com mais investimento, mais ações, mais programas, mais projetos – e aí em todas as áreas os nossos números superam muito, até porque a realidade da prefeitura hoje é outra… então com Neto esta relação está cada vez mais consolidada, estamos juntos nesta batalha e pode anotar aí: em todas as outras eleições que ocorrerão ao longo de nossa vida, eu estarei ali liderando junto com ele o nosso time, porque acredito, tenho convicção, que nós somos uma alternativa muito melhor para a Bahia.

Você fala em eleições futuras. Daqui a dois anos os baianos escolherão novo governador ou Jerônimo Rodrigues para mais quatro anos. O que ACM Neto já tem de estratégia? Como convencer em 2026 os eleitores que ele não conseguiu convencer em 2022?

Ninguém está pensando em 2026 ainda. Acho que o grande desafio é passar bem em 2024, mas não tenha dúvidas que [ACM] Neto é um nome natural das oposições para ser candidato a governador, e não tenho dúvidas de que ele, tomando a decisão de ser candidato, será um nome muito mais forte do que foi, inclusive na eleição passada, porque agora ele teve dois anos para se dedicar à Bahia, conseguiu organizar o nosso partido e os partidos aliados em diversas cidades, cidades importantes e vai ter depois mais dois anos para trabalhar até 2026. Mas esta decisão é uma decisão dele. Meu sentimento é que o povo e os políticos vão bater na porta dele para buscar ele dentro de casa para ser candidato.

Foto: João Lucas/bahia.ba

 

Uma das principais estratégias de Geraldo Junior até agora é tentar colar a imagem do senhor à imagem ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Quanto isso te incomodou? Você chegou a ir à Justiça Eleitoral para barrar um programa eleitoral dele neste sentido.

Foram montagens truncadas que a Justiça Eleitoral veda claramente, como essa, e diversas outras que ele fez que nós ingressamos na Justiça por serem propagandas irregulares. O que eu digo e reafirmo é que as pessoas vão escolher o prefeito, uma decisão própria, com todo respeito aos líderes nacionais e estaduais, mas a escolha do prefeito é uma escolha do cidadão que toma esta decisão avaliando o currículo do candidato, a história de vida do candidato e a capacidade do candidato de garantir que a cidade avance cada vez mais. Historicamente, as eleições nacionais e estaduais, por serem desassociadas da eleição municipal, sempre tiveram uma influência muito pequena. No nosso caso aqui, até pelas posições partidárias minha e do meu principal adversário, tentar nacionalizar a eleição sempre se mostrava uma estratégia furada, estratégia que se confirmou agora de novo. O que eu digo é que a ideologia não vai matar a fome de ninguém; partido não vai matar a fome de ninguém; o que mata a fome é o trabalho. Eu disse o tempo todo que a minha bandeira é o trabalho, que eu não era nem de esquerda nem de direita, que a minha aliança era com o povo da cidade. Então, enquanto estão aí disputando quem vai ser candidato desse ou daquele, eu quero ser candidato do povo de Salvador. As pessoas me conhecem profundamente depois de quatro anos como prefeito, isso talvez complete a resposta da primeira pergunta relacionada a ACM Neto. Já me conhecem com profundidade, sabem de onde eu vim, minha história de luta, de superação, que eu sou uma pessoa simples, humilde; eles sabem as minhas posições políticas claras, sabem quais são meus princípios e meus valores, e me viram, como prefeito, manter um compromisso que eu assumi lá atrás quando era candidato, que independentemente de quem fosse presidente da República e governador, eu teria a melhor relação profissional possível, que eu sempre colocaria os interesses da cidade e da população acima dos interesses políticos e partidários, que eu teria a disposição, como fiz, de levar projetos, propostas e solicitar apoio, mas que não ficaria esperando ou não estaria transferindo a responsabilidade, ou buscando justificativas caso não tivesse apoio para tirar os meus projetos, os meus programas do papel. Os compromissos estão aqui no meu plano de governo, as parcerias são bem vindas, eu vou procurar, mas caso elas não aconteçam, nós vamos garantir as entregas. Já governei com dois presidentes diferentes e com dois governadores diferentes, eu represento a certeza de que, independentemente do governo estadual, a quem eu tenho todo o respeito… mas o governador tem os problemas dele para resolver, com todo respeito ao presidente, que também tem que cuidar do Brasil. Quem vai cuidar da cidade é o prefeito, é o prefeito que vai garantir os restaurantes populares, as refeições, as merendas na escola, o remédio no posto de saúde, a coleta do lixo, a iluminação pública e tantas transformações que estão em curso. Por isso que eu acho que a estratégia do nosso adversário, que já não deu certo em outras eleições, não daria nessa.

Geraldo foi seu aliado, presidente da Câmara, até a véspera da eleição de 2022, quando rompeu e foi para o lado oposto. Então você conhece ele do ponto de vista politico e talvez pessoal também. Qual é o ponto mais forte na campanha dele até agora, o que te deu ‘medo’?

Infelizmente, o candidato não resistiu à apresentação da história dele. Geraldo tem uma história marcada na vida pública por mudanças de posição política, por alternâncias de vinculações a líderes políticos, e as pessoas, quando chegam na eleição majoritária, sua vida fica exposta… Então, eu acho que foi isso que efetivamente fez com que ele, as propostas que ele apresenta, as críticas que ele faz, não têm credibilidade, e isso foi, sem sombra de dúvidas, o que dificultou e tem levado a ele a ter um desempenho muito aquém da expectativa que muitos achavam que ele teria.

Se você ganhar no primeiro turno com toda a essa folga que as pesquisas mostram, como Geraldo sairá dessas eleições em sua avaliação?

Acho que muito destes votos que antes estavam nesta disputa de esquerda e direita vieram para mim, justamente pelo meu perfil, pela minha forma de atuação. Não é discurso de eleição, discurso de uma vida, é a pratica. Me formei na área social, seja área acadêmica, seja minha área de atuação, primeira pasta, primeiro cargo que eu ocupei como secretário de promoção social. Tivemos programas inovadores que impactaram decisivamente na vida das pessoas na área social, e as ações do nosso governo como um todo têm reconhecimento da população ao nosso trabalho. Está evidente que na eleição municipal está desassociada esta questão ideológica e partidária. É a escolha da pessoa, como eu disse, a pessoa no final do dia toma a decisão com base no que é melhor para impactar e mudar a realidade da vida dela, e quando faz uma escolha livre, desassociada de qualquer outra questão, sem paixão, botando a razão, a pessoa chega e diz: ‘Pô, esse cara tem um currículo acadêmico muito melhor, é formado em direito, pós-graduado em finanças pela Fundação Getúlio Vargas, mestre de desenvolvimento social pela UFBA, ele ocupou cargos públicos e performou, entregou’. Como deputado, eu era um deputado extremamente atuante, depois como secretário, seja de promoção social, seja de infraestrutura, fiz grandes entregas; como prefeito, realizei, mesmo com a pandemia, no momento mais difícil da história da nossa cidade, tive praticamente dois anos de mandato e consegui realizar um grande trabalho. Então, as pessoas analisam: ‘Pô, tá ai, a gente tem a certeza, a tranquilidade, então não vamos voltar ao passado, não vamos correr riscos. Ele tem milhares de projetos em curso para serem concluídos, tem diversos projetos que já estão prontos, que ele está anunciando e tudo que ele anunciou ele fez, porque ele foi o prefeito no Brasil que mais cumpriu as promessas nas grandes capitais. Para que que a gente vai apostar?’ E aí quando olha para os outros candidatos, ainda mais em temas sensíveis, como é o caso do transporte público, que é o maior problema que os prefeitos das grandes cidades estão enfrentando… Eu sempre disse, toda vez em que era questionado… Aí um diz que vai resolver em 3 meses e não consegue nem comprar um ônibus em 3 meses. Então não conhece a realidade, e o outro diz que vai implantar tarifa zero… As pessoas não confiam, e aí por isso que eu acho que muito desses votos, que em outras eleições tiveram vinculados a partidos de esquerda, agora votam em mim, é a coisa que eu mais escuto na rua. ‘Prefeito, eu sempre votei no PT, mas agora vou votar em você’. Nessa campanha, pela felicidade dos meus filhos, eu já escutei isso mais de 20 vezes. Ontem, a gente passou em uma carreata, depois eu vi que até postaram em minhas redes sociais, e tinha uma casa cheia de estrelas do 13 e as pessoas na frente gritando, cantando minha música do ‘44’. Isso é fruto de um trabalho. Minha tese de que nada resiste ao trabalho está se confirmando, eu dizia isso a vocês. Depois do resultado administrativo, depois de entregas, depois de ações, programas que melhorassem a vida das pessoas, viria o reconhecimento político. Hoje a gente percebe esse carinho das pessoas, um reconhecimento político, e com fé em Deus vai se confirmar no dia 6 de outubro.

Como está a situação das linhas de ônibus extintas ou desativadas? Você insiste em dizer que é o Estado quem pede.

As linhas que foram readequadas foi por conta da chegada do metrô, inclusive foram readequadas menos linhas no meu governo do que no governo anterior de Neto, porque o metrô no meu governo só teve ampliação para Campinas de Pirajá e para Águas Claras, mas as outras estações foram entregues no governo de Neto e foram redimensionadas essas linhas. Lá em 2013 foi assinado esse contrato para o governo receber o metrô, e de lá pra cá eles vêm de forma insistente cobrando a linha que o adversário utiliza no programa eleitoral dele, ali de Mussurunga- Barra, ela foi se esvaziando com o tempo. Era exigência do Estado que essa linha fosse integrada, até porque tem uma estação do metrô em Mussurunga. A pessoa vai de metrô até lá, e de lá pega um ônibus para Barra, mais rápido, e sem precisar pagar um centavo a mais, que é outra mentira que ele (Geraldo) coloca. Quando você calcula a integração, nós temos a tarifas mais baixas do Brasil. Salvador é o único lugar onde você pega um ônibus, um metrô, um BRT, três modais sem precisar pagar nada no intervalo de duas horas. Aí ele (Geraldo) pega só uma tarifa seca do ônibus e leva pra o programa dele. Tá usando esse tema de forma desleal. Está tá aqui o ofício do governo do Estado. Eles têm travado essa guerra com a prefeitura diariamente, pedindo a gente readeque 81 as linhas que eles consideram concorrentes do metrô. A gente contratou um AI, que é um sistema com inteligência artificial, que através do celular das pessoas, a gente identifica o fluxo das pessoas na cidade, como elas estão se deslocando, e esse AI mostra a necessidade de implantar algumas linhas específicas e de retornar e readequar outras linhas para atender melhor à população, e nós vamos fazer isso. Usar esses argumentos para mostrar ao Ministério Público e ao governo do Estado, e caso eles não aceitem, já estou antecipando que nós vamos retomar essas linhas, mesmo à revelia deles, correndo o risco de ser processado, como está esse documento pedindo, que se instale um procedimento contra o prefeito para que a readequação das linhas ocorra. Então, já existia essas readequações, e volto a dizer que foi feita numa proporção muito maior, antes de 2020, e esse assunto não foi tema da eleição passada, porque Rui Costa (então governador) promoveu diversas reuniões comigo para me pedir para readequar linhas. A situação do sistema de transporte sobre pneus é grave, mas a situação do metrô de Salvador é mais grave ainda. É gigante o tanto de recursos que estão sendo aplicados para pagar risco de demanda e diferença tarifária pelo governo do Estado. Esse ano vai chegar de novo a 800 milhões de reais. Se continuar no ritmo que vai, esse metrô de Salvador vai ser o mais caro do Brasil.

Se o passageiro usa metrô, ônibus convencional, BRT, como fica essa divisão?

Se pega um metrô e um ônibus, fica 39% para ônibus e 61% para o metrô. Se pega dois ônibus ou um ônibus e um BRT, aí são 39% por cada perna, que vira 78%, o que também é uma repartição injusta. Isso Foi outra exigência lá atrás, na pressão do contrato do programa, que desequilibrou ainda mais o sistema transporte Salvador. O metrô é uma obra importante, excelente, mas a modelagem de contratação foi desastrosa.

Foto: João Lucas/bahia.ba

 

O que o BRT arrecada supre as despesas?

No BRT foram investidos R$ 700 milhões. E olha que foi muito mais uma obra de trânsito, de infraestrutura, do que de transporte público, porque resolveu o problema do engarrafamento nesta região central, toda da cidade, resolveu o problema de alagamento e trouxe um meio de transporte mais moderno. O dinheiro do metrô dá para construir um BRT por ano. Por aí vocês tiram o tamanho dessa conta do metrô. O BRT era o modal mais indicado para essa região da cidade, para esse traçado, fruto de consultorias contratadas pela prefeitura e já se confirma um sucesso. Já estamos transportando um milhão e meio de passageiros por mês. O ônibus articulado chegou em fase de teste, e precisam chegar mais articulados que já foram comprados. Isso é que vai permitir a gente plantar a linha que vai ter uma demanda maior que a linha Lapa para Shopping da Bahia, que ainda não foi plantada. Então, com esse ônibus articulado que estão chegando e com mais 58 novos ônibus, a gente implanta essa linha, e eu tenho certeza que o BRT vai transportar ainda mais uma quantidade maior de passageiros. Esse AI já mostra a necessidade de um retorno de outras linhas. Quero dizer que já autorizei hoje o retorno de algumas linhas. A linha Tancredo Neves-Lapa já vai voltar, e agora, para impedir que essas linhas retornem, o governo do Estado vai ter que processar o prefeito. Já autorizei a retomada de algumas linhas que o AI aponta que têm demanda, que usuários precisam para melhorar o transporte. Depois de 25 anos de vida pública, de mãos limpas, não tenho inquérito, um processo, uma denúncia. Já administrei recursos como secretário de infraestrutura, como secretário de promoção social, agora como prefeito. Uma coisa que vou ter é prazer de receber uma ação sobre o retorno dessas linhas. Pela deslealdade e oportunismo do candidato (Geraldo), que é vice-governador… Se ele fosse só candidato, mas ele é vice-governador e sabe que tudo que está sendo dito aqui é a verdade.

Como está a relação com o governador? O que é que a prefeitura pode ajudar o governo em obras estratégicas como o VLT?

Primeiro, eu tenho a melhor relação institucional com o governador, e dou a minha palavra que todos os pedidos de alvará de obras do governo do Estado têm prioridade máxima para serem liberados. O VLT, ele somente há 15 dias conseguiram a licença do Inema, que é um órgão estadual, vocês noticiaram isso, eles ainda estão contratando a licitação, essa licitação ainda não terminou, da empresa gerenciadora e fiscalizadora da obra. Quem entende? Fui secretário de infraestrutura, toquei grandes obras como o BRT e o Mané Dendê, o projeto, depois que é dada a ordem de serviço que eles deram, que eles fizeram um RDC, uma licitação com um projeto básico. A empresa que venceu vai elaborar o projeto, e o Executivo vai encaminhar o projeto. Se o prefeito também estiver mentindo, manda quem é o principal técnico deles pra sentar aqui na mesa para me desmentir, ou quem quiser travar esse debate. Eles ficam dizendo por aí que as obras não começaram por conta da Prefeitura. É mentira. Tem a minha palavra que, assim que for dado entrada no projeto, ele terá prioridade para a aprovação. O VLT é importante para a cidade. Acho que, com o VLT funcionando, o teleférico que a Prefeitura vai implantar, funcionando com os outros sistemas de transportes, eles funcionando com os ônibus novos que nós estamos comprando com ar-condicionado, com a obrigação que as empresas têm de trocar 10% da frota ano nos anos seguintes… Vamos chegar a 100% da frota com ar-condicionado, vamos ter mais ônibus, consequentemente mais linhas, menos tempo de espera no ponto de ônibus, ônibus na hora de pico circulando mais vazios e esses sistemas integrados nós vamos ter no Brasil uma das cidades com o melhor transporte público, um sistema mais moderno, mais eficiente, mais seguro, com mais conforto e com mais rapidez.

Saúde. No programa eleitoral de Geraldo, eles insistem em rebater seu grupo sobre a fila da regulação do Estado. Eles dizem o Estado hoje é sobrecarregado muito por causa da demanda de Salvador, que é muito grande. Geraldo diz que, se a prefeitura de Salvador tivesse uma UPA funcionando bem na atenção básica, o Estado não estaria sobrecarregado.

O adversário fica querendo ludibriar as pessoas. Ele está subestimando a capacidade e a inteligência das pessoas. Todos sabem nessa cidade que a fila que mata é a fila da morte, como as pessoas assim chamam fila da regulação, que é responsabilidade do governo do Estado da Bahia, que inclusive tem pactuado a média e a alta complexidade feita lá atrás na gestão desastrosa do PT na Secretaria de Saúde de Salvador, que passou os recursos para o Estado. Muitos dos problemas que o candidato coloca na televisão são frutos da inoperância e da incompetência do Estado. Salvador tinha apenas 18% de cobertura da atenção básica. Já temos reais 75% reconhecidos pelo Ministério da Saúde do governo federal. Tinha apenas uma UPA que não funcionava em Periperi; hoje nós temos 17 unidades de pronto atendimento e de emergência e urgência. Sabe quantos pacientes temos agora nas nossas UPAs? Mais de 340 pacientes. Se eles não tivessem nas nossas UPAs, e eles estão lá aguardando regulação, eles estariam aonde? Na porta do Estado. Cadê aquelas cenas na porta do HGE, na porta do Roberto Santos, as pessoas deitadas na maca, no chão, nos corredores? Acabaram Por quê? O Estado abriu algum outro grande hospital na cidade para atender a essa regulação? Não. O Estado abriu alguns hospitais, são bem-vindos, mas hospitais específicos para algumas áreas da saúde. Mas para emergência e urgência, continuam as únicas duas unidades, o HGE e o Roberto Santos. E é graças à prefeitura que essas pessoas não estão morrendo. A atenção básica dá lá o atendimento, pré-atendimento, marca as consultas especializadas, marca os exames e marca as cirurgias eletivas. Há uma demanda reprimida por conta da pandemia, desses três anos, que são os problemas hoje da saúde. Estamos resolvendo parte significativa com a saúde nos bairros. Já chegamos a um milhão e meio de atendimentos e procedimentos, e temos uma estratégia para avançar ainda mais. Há dificuldades de profissionais de saúde, médicos, neuropediatras, pediatras, psiquiatras e ginecologistas. Você tem essa carência de profissional ainda mais para atuar nos bairros mais distantes. Como é que resolve isso, prefeito? Com os nossos hospitais e com ‘Saúde nos Bairros’ e pagando um incentivo na tabela SUS na rede privada, comprando serviço. Outro problema são os exames de imagem. A prefeitura vai montar uma central de imagem, é um prédio preparado todo com os equipamentos todos para realizar exames todos de imagem para reduzir essa demanda. E vamos botar o ‘Domingão da Saúde’ para, nos finais de semana, realizar cirurgias eletivas. Os problemas que existem na saúde dessa cidade, em grande maioria ou a totalidade, são pela inoperância e pela incompetência do Estado. Os maiores problemas de Salvador são segurança pública, saúde, a fila da regulação, vocês sabem. Ouçam as rádios de manhã cedo, assistam aos programas de televisão, as pessoas estão implorando à espera da regulação.

Está satisfeito com a liderança de Kiki Bispo na Câmara Municipal? E sua relação com Carlos Muniz, presidente da Casa? Planeja mudar a liderança do governo em 2025?

Primeiro, quero agradecer ao Poder Legislativo como um todo, todos os vereadores, por, nesses quatro anos, a gente ter aprovado todas as matérias que foram enviadas, algumas até em tempo recorde, de um dia para o outro, diante da necessidade de urgência; pelas contribuições que o Legislativo deu, aperfeiçoando, melhorando os projetos que a gente caminhou, todos eles de interesses mais nobres e legítimos da cidade. A parceria com Muniz é excelente. Tenho uma relação com Muniz desde lá de 2007, então já é uma longa amizade. Respeitamos a independência e autonomia dos poderes, mas não tenho dúvida de que essa excelente relação que existe facilita os entendimentos e a construção dos consensos. Espero que permaneça assim. Muniz se reelegendo vereador, que acho que vai ser um dos mais votados. Kiki se deu muito bem com Muniz na aprovação dessas matérias e desse projeto. Não dá para a gente antecipar em relação ao futuro, mas não tenho dúvidas de que, pelo trabalho que realizou, e espero que se reeleja também, o vereador tem tudo para continuar como nosso líder. A gente vai seguir mantendo essa excelente relação com o Legislativo. Comecei lá como estagiário, então sei as dificuldades que o vereador enfrenta para realizar o seu trabalho, tenho essa sensibilidade para a gente poder atender às demandas que são justas e legítimas de obras, de programas, ações e projetos para as comunidades que eles representam. Eles sempre têm no prefeito uma pessoa sensível a essas demandas, e isso nos permitiu a gente ter uma excelente relação com o Legislativo, mesmo nos momentos de tensão, de turbulência por causa das conjunturas políticas. Agradeço em nome da cidade à Câmara por essa parceria que é tão importante para garantir os avanços e as conquistas que a cidade alcançou até aqui.

O que não deu para fazer agora e será prioridade num possível segundo mandato? Vai ser mais articulador político ou mais administrador?

Não tenho dúvidas de que nasci na política, me formei na política, porque quando comecei foi nesse trabalho de bastidores, da retaguarda, depois como estagiário no parlamento, depois como deputado estadual. Desenvolvi essa habilidade política. Mas não tenho dúvidas de que, para o homem público, o que mais realiza são as entregas. Não tem cargo que você tenha a capacidade de entregar maior do que o cargo de prefeito. A prefeitura é muito mais versátil do que a máquina estadual, do que a máquina pública federal, porque eles não veem o resultado das suas entregas ali impactando o dia a dia das pessoas. E essa é a melhor parte do meu trabalho. Hoje confesso que eu gosto muito mais de gestão do que de política. Tenho paciência para fazer política, sei fazer política para ouvir, para dialogar, construir consensos. Mas o resultado de todo o nosso trabalho é ver ali, você mudar de verdade a vida da pessoa. E a gestão lhe permite isso. Enfrentei o pior momento da cidade. Como disse, foram quase dois anos de pandemia em meu mandato. Isso retardou alguns projetos meus que já eram para terem sido entregues. Isso nos dificultou avançar em algumas áreas, em especial na área da educação. A pandemia deixou diversas sequelas, além, infelizmente, da perda de entes queridos que nós tivemos. Nós estamos até hoje enfrentando problemas na área social, na área econômica, na área da saúde e na área da educação. Não consegui elevar a qualidade da educação para os níveis que eu queria, apesar dos investimentos expressivos que fiz e vou seguir fazendo. Acho que ainda tem muita frente grande para a gente avançar na educação. Vai ser a prioridade do meu trabalho, assim também como o transporte público, que já não vinha bem e a pandemia colapsou os sistemas. Se fosse essa turma que está governando o Estado, se fosse essa turma que já governou a cidade, se fosse essa turma que estivesse na prefeitura hoje, aquela prefeitura lá de trás que não tinha capacidade de investimento, Salvador estaria sem ônibus. Hoje os ônibus estão rodando por causa da prefeitura, que complementa 43 centavos de cada ônibus que é pego por cada cidadão. No passado, a prefeitura não tinha como fazer isso. Não tinha 220 mil reais de orçamento por ano para pagar subsídio. A gente avançou muito, mas tem muito o que avançar no transporte, até porque em outras áreas nós conseguimos avançar na proporção muito maior. Então são desafios que tenho para o futuro e que hoje me sinto mais experiente, mais preparado. Em todos os aspectos, seja do ponto de vista pessoal, de segurança, depois de um governo em crise, você sai da crise preparado praticamente para tudo na vida, e governar na pandemia não foi fácil, mas conseguimos passar por aquele momento. Acho que nos próximos quatro anos, até porque não tenho mais perspectiva de disputar uma eleição nos próximos seis anos, as forças ocultas não vão ter por quê me atrapalhar, porque não vou ser adversário de ninguém a curto e médio tempo. Vou ter paz administrativa, porque não vou estar em pandemia. Acho que terei paz política, porque deixarei de ser alvo. Vou ter mais recursos, porque não terei que investir tanto na pandemia. A prefeitura passa, tem uma musculatura maior. Acho que vou ser um prefeito muito melhor no segundo mandato do que fui no primeiro. Não tenho dúvida disso. Se eu já conhecia essa cidade como poucos, conheço mais ainda agora; se já conhecia de gestão pública, conheço mais ainda agora. E as pessoas sabem disso, porque optei pela política como opção de vida. Quero ainda dar voos maiores na política no momento certo. E para isso preciso ser um grande prefeito. Preciso sair muito bem da prefeitura, e vou dar o meu melhor. Se já me entrego diariamente a essa cidade, vou nesse ritmo ou até num ritmo maior para garantir que essa cidade siga se transformando, para que a cidade avance.

Recado aos eleitores

Nas considerações finais, quero dizer que, quando iniciei essa campanha, tinha muitos propósitos: garantir as conquistas que nós alcançamos até aqui, garantir que todos os projetos que estão em curso pudessem ser concluídos, garantir que novos projetos sejam ainda maiores do que o que nós já realizamos até aqui, que eles saíssem do papel, que eles possam sair do papel. Tenho projetos para concluir, como o Mané Dendê, que é a maior obra da história da cidade; tenham novos projetos, como o teleférico, o Centro Histórico, o Centro Convenções. Tenho o desejo de elevar a educação de Salvador para uma das primeiras do Brasil e me sinto em condições reais de garantir que a cidade avance, que a cidade se transforme. E é por isso que peço apoio, a confiança da cidade para ter um mandato completo, sem crise pandêmica e para poder avançar ainda mais. Nenhuma cidade se transformou tanto nos últimos anos quanto Salvador. Nossa cidade hoje é mais desejada para ser conhecida pelos brasileiros, segundo o Airbnb. Salvador tem muitas desigualdades e justiças sociais, e nós queremos ajudar a resolver os seus problemas. Hoje estou em condições muito melhores para fazer um trabalho ainda muito melhor do que já fiz até aqui. E dou minha palavra à nossa cidade que vou seguir orgulhando, vou seguir fazendo com que todo mundo tenha orgulho de bater no peito, para que as pessoas possam ter uma cidade cada vez melhor, com moradia; para que as pessoas vivam e criem seus filhos; Salvador vai receber milhares de visitantes; graças a Deus quem vem a Salvador hoje sai falando bem. Portanto, no dia 6, é todo mundo 44.

Com colaboração e Esther Silva e Fredie Ribeiro

Mais notícias

Este site armazena cookies para coletar informações e melhorar sua experiência de navegação. Gerencie seus cookies ou consulte nossa política.