Publicado em 02/10/2024 às 13h22.

Óculos de visão artificial beneficiam alunos da rede municipal na capital

Tecnologia foi criada em Israel e utiliza inteligência artificial para o reconhecimento ótico, sem a necessidade de conexão com a internet

Redação
Foto: Fotos: Lucas Moura/Secom

 

 

José Leandro Alves é um adolescente de 14 anos com deficiência visual. Estudante do 9º ano da Escola Municipal Joir Brasileiro, ele contava com a ajuda da mãe para compreender as lições, enquanto ela se dividia entre as tarefas escolares do filho e os afazeres pessoais.

José Leandro, contudo, passou a ter mais autonomia desde que começou a usar um equipamento de visão artificial com uma câmera inteligente que lê textos instantaneamente, reconhece rostos, produtos, cores e cédulas de dinheiro em tempo real, além de fornecer essas informações por voz. O dispositivo, o OrCam MyEye, é fixado nas hastes dos óculos.

“Veio em boa hora, porque antes, quando eu ainda não tinha o aparelho, minha mãe precisava ler as coisas para mim. Ela ficava lendo as atividades e, ao mesmo tempo, fazendo as coisas dela. Agora, não. Eu posso pegar meus óculos, colocá-los e, quando vou fazer uma prova, já consigo ler com eles, ler uma redação, sabendo que minha mãe está cuidando das suas coisas. Posso ler minhas atividades com segurança”, conta o estudante.

Tecnologia israelense

O equipamento que o adolescente usa é um dos 100 adquiridos este ano, pela Prefeitura de Salvador, e que estão sendo utilizados na rede municipal de ensino e pelo Instituto de Cegos da Bahia (ICB), por meio de um termo de cooperação técnica. O aparelho é discreto e mede cerca de 7 cm de comprimento.

A tecnologia foi criada em Israel e utiliza inteligência artificial para o reconhecimento ótico, sem a necessidade de conexão com a internet. É possível ler qualquer tipo de material, desde grandes anúncios até bulas de remédio, e em português, inglês e espanhol.

José Leandro já sabia da existência da tecnologia, mas a possibilidade de adquiri-la parecia distante, já que o aparelho tem um preço médio de R$ 15 mil, valor que a família não poderia arcar. “Minha mãe até viu uma reportagem no Fantástico. Eu era pequenininho ainda. Ela comentou sozinha: ‘Meu Deus, quando vou ter dinheiro para comprar uns óculos desses para o meu filho?’ E, graças a Deus, chegou o dia”, completou o estudante, que sonha em ser professor de português e de música.

Auxiliar de Desenvolvimento Infantil (ADI), Djalma Neto acompanha o adolescente há um ano. O profissional diz que o aluno se destaca pela capacidade de memorização, como, por exemplo, saber a data de nascimento de todos os colegas de classe. O equipamento, segundo ele, ajudou a potencializar ainda mais as habilidades do garoto. “O desempenho dele ficou melhor, porque facilita o processo de ensino e aprendizado. Hoje, ele consegue ter uma certa autonomia”, diz o ADI.

Mais qualidade de vida

Germana Pereira, de 58 anos, é aluna da Educação de Jovens e Adultos (EJA) da Escola Municipal Metodista Susana Wesley. Assim como José Leandro, ela também foi contemplada com o OrCam MyEye. O equipamento, inclusive, não ajuda apenas no ambiente escolar. No dia a dia, por exemplo, a estudante já não precisa mais perguntar a alguém na fila do caixa qual cédula de dinheiro ela tem em mãos.

“Tinha que ter alguém próximo para me dizer. Agora, eu coloco esses óculos e eles me ajudam bastante. Aqui mesmo na escola, eu não sabia o que a professora estava passando no texto, e agora eu coloco os óculos e eles leem o texto todo, o livro também. Com os óculos, melhorou bastante. Antes, eu ficava de cabeça baixa, pensando como seria estar no meio de tanta gente sem ver nada. Agora, com eles, eu me sinto honrada e muito feliz, porque eles me ajudam bastante”, conta Germana, que está no processo de alfabetização.

Ivonete Cintra Rosa Barreto Caldas, diretora da Escola Municipal Metodista Susana Wesley, diz que educar uma pessoa com deficiência visual pode exigir adaptações e cuidados extras, mas que esse processo tem sido inspirador, pois mostrou como a instituição de ensino pode se transformar e evoluir ao incluir alguém como Germana.

“A inclusão tem sido muito importante para nós. Os óculos despertaram algo novo em Germana. Ela já era motivada, mas agora despertaram ainda mais sonhos. Ela percebeu que não tem limites. Agora, por exemplo, ela já está descobrindo a questão do dinheiro e da aprendizagem. Os óculos vieram para mostrar a ela que pode alcançar cada vez mais. É um desenvolvimento incrível para nós também”, comentou a diretora.

Inovação 

O titular da Secretaria Municipal da Educação (Smed), Thiago Dantas, considerou que a aquisição dos óculos OrCam para os alunos cegos da rede municipal de ensino é um marco na promoção da inclusão e acessibilidade em nossa cidade. “Com essa iniciativa, Salvador se posiciona à frente na luta pela educação inclusiva, reafirmando o compromisso municipal com a igualdade de oportunidades. Ao disponibilizar essa tecnologia assistiva nas nossas escolas, não apenas facilitamos o acesso ao conhecimento, mas também promovemos a autoestima e o desenvolvimento pessoal dos alunos”, declarou.

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