Publicado em 22/10/2024 às 09h58.

Analistas projetam juros de dois dígitos para 1º ano de Galípolo no comando do BC

Desconfiança com política fiscal do governo Lula e a própria transição de comando na autarquia pesam para cenário menos favorável na taxa Selic

Redação
Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/ Agência Brasil

 

O futuro presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, terá de lidar com juros de dois dígitos em seu primeiro ano no comando da instituição e terá pouco espaço para cortar a taxa básica (Selic) até o fim de 2025, é o que apontam as estimativas de boa parte de especialistas do mercado financeiro.

Segundo matéria da Folha de São Paulo, são fatores que pesam em favor deste cenário: a desconfiança com a política fiscal do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), a incerteza sobre a eleição presidencial dos Estados Unidos e a transição de comando do Banco Central, com a saída de Roberto Campos Neto da chefia e a chegada de três novos diretores.

Para Luiz Fernando Figueiredo, ex-diretor do BC e presidente do conselho da Jive Investments, a expectativa de um impulso fiscal menor no próximo ano é o que pode ajudar a autarquia. Ele aponta que, apesar de um certo otimismo, o risco fiscal continua no radar dos economistas. A projeção, segundo ele, é que os juros voltem a cair a partir de meados do ano que vem e vê espaço para a Selic fechar 2025 em 10% ao ano.

Figueiredo afirma ainda que um possível corte de R$ 50 bilhões em gastos, como estudado pelo governo, vai na direção correta, mas parece “pequeno demais”. “Para a gente alcançar a sustentabilidade [das contas públicas], nós precisamos fazer um ajuste na ordem de R$ 200 bilhões a R$ 250 bilhões ao longo do tempo. Não precisa ser em um ano só”, afirma.

O ex-diretor do BC ressalta ainda que a narrativa do presidente Lula, que cobra juros mais baixos em um momento de alta da Selic, é contraproducente e atrapalha a atuação da autoridade monetária na coordenação das expectativas. Segundo ele, o excesso de ruídos contribui para que a taxa básica seja tão elevada no Brasil. “A gente precisa de um conjunto de políticas muito diferente do atual para conseguir chegar [com a Selic] a um dígito, não acho provável que isso venha a acontecer”, diz.

Soma-se a este cenário os dados do boletim Focus, divulgado na segunda-feira (21), que apontam para uma projeção mediana dos economistas para a taxa básica de juros ao término de 2024 se mantendo estável em 11,75% ao ano. Para 2025, a estimativa dos agentes para a Selic subiu para 11,25%.

No cenário do banco BV, depois de alcançar 12% em janeiro, a Selic permanece estável até julho, quando começa uma queda gradual, encerrando 2025 em 10,5% ao ano. Já para o Santander, a projeção para a Selic fica em 10,5% no fim de 2025, depois de um pico de 12% no atual ciclo de elevação. O nível ainda aquecido da atividade econômica deve limitar a possibilidade de cortes mais agressivos, de acordo com o economista Tomás Urani.

Nova gestão

Sobre as expectativas para a nova gestão do BC, Urani afirma que Galípolo tem sinalizado preocupação com a inflação corrente e a piora das expectativas. O economista acrescenta que o futuro presidente do BC também tem indicado estar comprometido com o centro da meta de inflação.

Já para Alexandre Schwartsman, ex-diretor do BC e consultor da A.C. Pastore, o BC comando por Galípolo não será “particularmente duro” na busca da convergência da inflação para a meta e trabalhará com o intervalo de 4% a 4,5% (teto do alvo). O objetivo a ser perseguido é de 3%, com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou menos.

O consultor prevê ainda um aumento final de 0,25 ponto percentual na primeira reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) sob o comando do Galípolo, em janeiro, e projeta que o BC passará a cortar juros na segunda metade do ano, fechando 2025 com a Selic em 10,75% ao ano. Ele analisa também que Galípolo se mostra atualmente como “mais ortodoxo do que 90% dos economistas” que passaram pela autarquia, mas não deve sustentar esse perfil conservador após assumir a chefia.

Apesar de considerar o cenário desfavorável, o economista vê possibilidade de maior recuo da Selic em 2026, ano eleitoral. “[A Selic] vai voltar para um dígito porque a gente está trazendo a inflação de volta [para meta], sob controle, ou para tentar dar um gás para a economia para reeleger o presidente da República? Não sei responder, embora desconfie que seja a segunda [opção]”, diz.

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