Ex-governador do RJ, Witzel defende Jerônimo e critica fala de Caiado sobre segurança pública
Em vídeo divulgado na semana passada, governador de Goiás se ofereceu para 'devolver' a Bahia aos baianos em seis meses
O ex-governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, classificou como “infeliz” a afirmação do governador goiano Ronaldo Caiado (União Brasil) de que resolveria a crise da segurança pública na Bahia em apenas seis meses. Segundo Witzel, a fala de Caiado não corresponde à realidade.
“São situações complexas da segurança pública. E todos os governadores de uma maneira geral sofrem com um grave problema, que é a organização criminosa voltada para a prática do tráfico de armas e de drogas. Evidente que uns estados sofrem menos, e outros sofrem mais, especialmente os estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Bahia”, diz Witzel.
A declaração de Caiado foi feita após Jerônimo Rodrigues (PT) apontar o avanço da violência como um problema nacional, incluindo o estado de Goiás. “Aqui não, Jerônimo. Aqui bandido não se cria. Aqui em Goiás a segurança é plena. Olha, vou lhe dar duas sugestões: primeiro, deixa sua polícia trabalhar. Segundo: se tiver díficil, chama o Caiado e me dá o comando por seis meses, que eu vou devolver a Bahia aos baianos”, disse em um vídeo publicado em suas redes sociais na semana passada.
Além de rechaçar a postura de Caiado, Witzel diz concordar com a avaliação de Jerônimo. “Alguns estados do Nordeste começam a apresentar esses problemas com as organizações criminosas do narco-terrorismo, e é um problema que evidentemente não pode ser responsabilidade de um único governo. Não é esse governo que está aí, nem o governo anterior. É uma questão cultural que precisa ser resolvida. É um problema nacional. Nesse ponto, eu concordo com o governador Jerônimo. A questão da segurança pública não pode ter ideologia. Não pode ter nenhum posicionamento que não seja absolutamente técnico e dentro da razoabilidade”, afirmou.
Juiz federal por quase duas décadas, Witzel defende que o combate ao crime organizado e ao narcotráfico deveria ser competência da Polícia Federal, sob julgamento da Justiça Federal.
A Polícia Civil, por sua vez, atuaria somente no enfrentamento aos crimes locais. “Nós precisamos hoje mudar algumas questões, especialmente no que diz respeito à competência da Justiça Federal. O crime organizado precisa estar hoje na competência da Justiça Federal, especialmente quando se trata de tráfico de armas e de drogas, porque a Polícia Civil não tem expertise, não tem essa cultura do combate à lavagem de de dinheiro, como a Polícia Federal hoje domina essa expertise, especialmente depois da Operação Lava Jato, guardadas todas as restrições em relação à operação. Mas o conceito de combate à lavagem de dinheiro é fundamental para se enfrentar o tráfico de armas e de drogas, que hoje usa o sistema financeiro para lavar o dinheiro, criptomoedas. As polícias Civis precisam focar em crimes locais”, disse.
“A Polícia Federal precisa assumir definitivamente a competência. Ser estruturada para isso, semelhante aos Estados Unidos, com o Departamento de Combate às Drogas, o DAA, onde os agentes têm uma expertise para isso. Então, é uma questão nacional. É um problema que não é deste governo que está aí, que está trabalhando para enfrentar, como outro também tentou enfrentar”, sugere o ex-governador do Rio.
“Nós precisamos fazer essas mudanças. Então temos que nos unir, porque a segurança pública não é para amadores e precisa ser tratada com responsabilidade”.
Apesar dos desafios do país no setor, Witzel elogiou a atuação do ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, que assumiu a pasta há pouco mais de oito meses. “O ministro Lewandowski me surpreendeu positivamente. Conhece bem essa questão da segurança pública”, disse.
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