Publicado em 08/04/2025 às 10h27.

Militares ligados à morte de Rubens Paiva foram promovidos após o crime

Documentos obtidos pela Fiquem Sabendo revelam que cinco oficiais citados no relatório da Comissão Nacional da Verdade seguiram carreira normalmente após o assassinato do ex-deputado

Redação
Foto: Reprodução/Memórias da Ditadura

 

O ex-deputado Rubens Paiva foi assassinado entre os dias 20 e 22 de janeiro de 1971, nas dependências do Destacamento de Operações de Informações — Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-Codi), durante a ditadura militar. Até hoje, o caso permanece cercado de incertezas.

No entanto, 61 anos após o golpe militar, a organização Fiquem Sabendo — especializada em transparência pública — obteve acesso às fichas funcionais de cinco militares citados no relatório da Comissão Nacional da Verdade como envolvidos no crime. Os documentos indicam que todos foram promovidos depois da morte do parlamentar.

Segundo a Comissão Nacional da Verdade, em relatório preliminar de 2014, os militares Freddie Perdigão Pereira, Rubem Paim Sampaio, Raymundo Ronaldo Campos, Jacy Ochsendorf e Jurandyr Ochsendorf teriam participado do caso de maneiras distintas:

  • Freddie Perdigão Pereira e Rubem Paim Sampaio estiveram presentes na recepção e nos interrogatórios de Rubens Paiva nas instalações do DOI-Codi;

  • Raymundo Ronaldo Campos, Jacy Ochsendorf e Jurandyr Ochsendorf teriam atuado para ocultar o desaparecimento do ex-deputado.

As fichas parciais desses cinco oficiais mostram que todos receberam promoções ao longo de suas carreiras, inclusive após a morte de Rubens Paiva, além de, em alguns casos, menções elogiosas em seus registros. Veja os detalhes:

  • Freddie Perdigão Pereira (28 anos de serviço): promovido a major em dezembro de 1974, três anos após o crime. Foi oficial de gabinete da Presidência da República e deixou o Exército como tenente-coronel em 1982.

  • Rubem Paim Sampaio (26 anos de serviço): promovido a tenente-coronel em agosto de 1975. A última função antes da reserva, em 1976, foi como oficial de gabinete do Ministro do Exército.

  • Raymundo Ronaldo Campos (33 anos de serviço): ascendeu a major em 1973 e, antes da reserva em 1984, foi chefe de subseção da Diretoria de Motomecanização. Chegou ao posto de coronel.

  • Jacy Ochsendorf (32 anos de serviço): promovido a 2º sargento em 1974. Atuou como auxiliar administrativo no gabinete do ministro do Exército até 1996, quando foi para a reserva como capitão.

  • Jurandyr Ochsendorf (35 anos de serviço): promovido a subtenente em 1976. Antes da aposentadoria, em 1994, alcançou o posto de capitão do Exército.

Dos cinco, apenas Jacy Ochsendorf e Rubem Paim Sampaio não receberam elogios formais após 1971. Com exceção de Rubem, todos foram promovidos mais de uma vez. Freddie e Jacy ainda estão vivos.

A Fiquem Sabendo aguarda o acesso às fichas funcionais de outros dois militares mencionados em apurações: Antônio Fernando Hughes de Carvalho, envolvido em atos de tortura na época, e José Antônio Nogueira Belham, então major e comandante do DOI. Belham é apontado como responsável pela morte e desaparecimento de Rubens Paiva, por ter conhecimento e permitido práticas de tortura.

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