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Bahia lidera no Nordeste com maior número de pais ausentes nos últimos 5 anos
No período, quase 60 mil crianças nascidas na Bahia não tiveram o nome do pai no registro de nascimento

Comemorado no segundo domingo de agosto em todos os anos, o Dia dos Pais é sinônimo de alegria para aqueles que possuem uma figura paterna como referência de amor, cuidado e parceria. No entanto, a realidade não é a mesma em todos os lares diante do abandono de crianças por seus genitores masculinos ainda nos primeiros momentos de vida ou após o nascimento.
A Bahia, quarto estado mais populoso do Brasil com mais de 14 milhões habitantes, segundo o censo realizado em 2022 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), ocupa a primeira posição na região nordeste com o maior número de pais ausentes nos últimos cinco anos.
De acordo com a Associação Nacional dos Registradores de Pessoas Naturais (Arpen-Brasil), o número de nascimentos ocorridos na Bahia entre agosto de 2020 a 2025 foi de 863.372. Do total, 58.424 crianças não possuem o nome do pai no registro de nascimento.
O presidente da Associação dos Notários e Registradores do Estado da Bahia (Anoreg/BA), Daniel Sampaio, avalia que os dados do órgão evidenciam a ausência paterna como um “problema social que ainda persiste de forma preocupante no país”. Para ele, os números encontrados são o reflexo de diversos fatores como a falta de informações sobre deveres relacionados à filiação e a ausência de políticas públicas que promovam a corresponsabilidade parental.
“O preconceito em torno da investigação de paternidade e até o abandono afetivo continuam sendo barreiras que impedem milhares de crianças de terem seus direitos plenamente reconhecidos. Precisamos enfrentar esse desafio com educação, conscientização e políticas públicas que valorizem os vínculos familiares desde o início da vida”, pontua o presidente da Anoreg/BA.
“Os Cartórios de Registro Civil oferecem gratuitamente esse procedimento em todo o país. Mas é fundamental que a sociedade como um todo se engaje nessa pauta: reconhecer um filho é um dever legal, um gesto de afeto e um passo essencial para o exercício da cidadania. Precisamos enfrentar esse desafio com educação, conscientização e políticas públicas que valorizem os vínculos familiares desde o início da vida”, acrescentou.
Protagonismo negativo da Bahia
Ao analisar o recorte no número de pais ausentes na Bahia, o presidente da Anoreg/BA explica que fatores estruturais possuem relação direta com os números apresentados. Daniel Sampaio destaca que o estado apresenta desafios “históricos” no acesso à informação devido a vasta área territorial e bolsões de vulnerabilidade social.
“Em muitas localidades, ainda há desconhecimento sobre o direito ao reconhecimento de paternidade e sobre como os cartórios podem ajudar gratuitamente nesse processo. Além disso, questões culturais e a ausência de políticas públicas contínuas de incentivo à parentalidade responsável também impactam diretamente esses números. É uma realidade complexa, que exige resposta integrada do Estado, da sociedade civil e das famílias”, expôs.
O abandono e os impactos por toda uma vida
Crianças que foram abandonadas por seus genitores podem apresentar mudanças significativas no comportamento ao longo do desenvolvimento como: agressividade, insegurança, dificuldade de socialização e baixa autoestima.
É o que relata a psicóloga clínica e escolar, Nathália Pastori (CRP 03/26449), que tem um trabalho dedicado aos atendimentos clínicos de crianças e adolescentes. A profissional conta que o abandono pode trazer impactos para outras áreas da vida, como nas relações interpessoais.
“Alguns sinais são evidentes desde cedo, mas, em muitos casos, esses comportamentos vão se tornando mais perceptíveis com o crescimento da criança. Crianças que vivenciam a ausência de um dos genitores […] também costumam relatar sentimentos de solidão e desvalorização de si, além de dificuldades para lidar com situações do cotidiano. […] Dificuldades de vínculo, insegurança emocional e baixa autoestima são queixas recorrentes nesses atendimentos”, disse.
“Essa vivência familiar pode impactar diretamente o desenvolvimento emocional e social da criança. Na escola, por exemplo, é possível observar queda no rendimento escolar, principalmente quando a criança não recebe o suporte emocional necessário. […] Também podem surgir dificuldades de relacionamento com colegas, ansiedade, comportamentos de retraimento ou, ao contrário, atitudes agressivas. Além disso, muitas vezes a criança demonstra dificuldade em se envolver no processo de aprendizagem” , informa.
Nathália Pastori comenta que “marcas emocionais” causadas pelo abandono na infância podem influenciar em comportamentos adotados por uma pessoa na fase adulta, trazendo dificuldades na forma de como o indivíduo “se relaciona, na segurança emocional, na autonomia e na capacidade de estabelecer vínculos saudáveis”.
“Nome do pai na certidão não garante que a função paterna esteja sendo exercida”
A psicóloga da clínica Holiste Psiquiatria, Ana Clara Dória, aponta que, na psicanálise, a função de “pai” exerce um papel simbólico que ajuda a criança a “entrar no campo da linguagem”.
“Na psicanálise, entendemos essa função como um papel simbólico, que pode ser desempenhado por outras figuras, não necessariamente pelo pai biológico, nem exclusivamente por um homem. É essa função que ajuda a criança a se separar simbolicamente da mãe, a entrar no campo da linguagem, a lidar com regras, limites e com o próprio desejo”, analisa.
Ana Clara Dória aborda ainda casos em que crianças sofrem com a ausência paterna mesmo com o nome do pai no registro de nascimento. A psicóloga aponta que quando o abandono não é falado, “ele encontra outras formas de se expressar”.
“Ter o nome do pai na certidão não garante que a função paterna esteja sendo exercida. […] Há pais fisicamente presentes mas que, na prática, não exercem a função paterna, seja pela ausência emocional, pelo foco excessivo no trabalho ou pela falta de desejo em ser pai. […] É fundamental lembrar que cada criança experiencia o abandono de maneira singular. É fundamental escutar o que ela tem a dizer sobre isso, como ela compreende essa ausência e o que consegue elaborar a partir dela”, explica.
“Nomear e elaborar a ausência é uma possibilidade de torná-la menos dolorosa para que a criança possa seguir construindo sua história de maneira mais saudável”, complementa.
A psicóloga pontua que é possível sim que crianças/adolescentes que vivenciaram o abandono paterno consigam crescer e se desenvolver de forma saudável. A profissional destaca a importância de uma escuta “qualificada aliada a um contexto social e familiar” para proporcionar mais conforto diante das dificuldades sobre o assunto.
“Essa vivência, dependendo de como é atravessada, pode deixar marcas profundas nas relações afetivas e na forma de se posicionar no mundo, influenciando até repetições de sofrimento psíquico na vida adulta. Por outro lado, com a escuta qualificada aliada a um contexto social e familiar que a apoie é possível proporcionar alguma elaboração para essa dor. A criança pode encontrar caminhos para crescer e se desenvolver de forma saudável e ter mais recursos para lidar com desafios futuros”, reitera.
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