Dia dos Pais expõe marcas da ausência paterna e o desafio de romper ciclos
Homens que viveram essa realidade falam sobre como tentam mudar a história com seus filhos

Em um estado onde mais de 58 mil crianças nascidas nos últimos cinco anos não tiveram o nome do pai registrado, histórias de ausência paterna são mais comuns do que se imagina. Na Bahia, essa realidade ganha contornos humanos por meio de homens que, apesar de terem crescido sem a presença do pai biológico, hoje lutam para romper esse ciclo e construir vínculos sólidos com seus filhos. É o caso do professor Ricardo Neiva e do vendedor Edivaldo Lima, que transformaram suas experiências de abandono em lições de presença e amor.
O professor de Geografia, Ricardo Neiva, 56, natural de Salvador e morador de Vilas de Abrantes, em Camaçari, nunca foi registrado pelo pai biológico. Cresceu amparado pelo avô, padrinho e tios, que assumiram o papel de figuras paternas. “Eu tive um padrinho maravilhoso, tios e um avô que nunca deixaram eu sentir tanta falta. Quando chegava o Dia dos Pais, eu não tinha um pai oficialmente, mas tinha vários pais”, afirma.
Aos 14 anos, seu pai tentou retomar o contato, mas Ricardo optou por não criar vínculo. A ausência, diz, não foi esquecida, mas foi atenuada pelo apoio recebido. “Foi um pacto que eu fiz comigo mesmo: quando eu fosse pai, ia tentar ser o maior e melhor pai do mundo. Tento até hoje. Descobrir que ia ser pai foi a coisa mais feliz da minha vida. Eu quis dar exatamente o que não tive do meu pai biológico.”
Hoje, Ricardo aconselha outros homens que passam pela mesma situação. “O conselho que eu dou a todos eles que eu conheço na minha vida é que tente esquecer o passado e pense no seu presente, no seu futuro, que filho é uma coisa maravilhosa. A presença e o amor de um filho é impagável e a gente não deve nunca repetir o que deu errado. Que sirva de lição para todo mundo, serviu para mim, que sirva para todos, para a gente absorver coisas positivas e as negativas, para a gente tentar mudar para a parte boa da vida.”

O vendedor Edivaldo Lima, 37, apelidado como Dedel, de Varzedo no Recôncavo da Bahia, viveu realidade semelhante. O pai o abandonou quando ele tinha apenas quatro anos, e ele não guarda lembranças afetivas. “No início da adolescência, percebi o peso dessa ausência. Não tinha referência masculina para me orientar nas descobertas do corpo ou nas decisões importantes”, diz.
Criado pela mãe, que ele define como “pai, mãe, amigo e irmão”, Dedel decidiu seguir caminho oposto com seu filho de 7 anos, Victor. “Peguei a falta do meu pai como referência para fazer tudo diferente: ser presente, ser amigo, ser companheiro. Presença não é só dar presente, é estar ali quando o filho precisa.”
Apesar do compromisso, o medo de errar acompanha o vendedor. “A todo momento tenho medo, porque não sei se estou fazendo certo. Mas toda vez que vejo o brilho no olhar do meu filho, sei que estou quebrando essa barreira.”

Ausência paterna na Bahia
Essas histórias refletem um fenômeno que vem crescendo na Bahia e que impacta milhares de famílias. Entre agosto de 2020 e agosto de 2025, 863.372 crianças nasceram no estado. Deste total, 58.424 não têm o nome do pai no registro de nascimento, segundo dados da Associação Nacional dos Registradores de Pessoas Naturais (Arpen-Brasil). Só no primeiro semestre deste ano, mais de 4,5 mil crianças foram registradas sem filiação paterna.
Desde 2016, o número já supera 101 mil casos, o que coloca a Bahia na liderança do Nordeste em índice de pais ausentes nos últimos cinco anos.
Especialistas em psicologia familiar apontam que a ausência paterna pode gerar impactos emocionais de longo prazo, mas ressaltam que o ciclo pode ser interrompido com consciência e esforço ativo. Para Ricardo e Edivaldo, o caminho é claro: transformar a dor em combustível para escrever uma nova história com seus filhos.
Para Ricardo e Dedel, a missão é clara: transformar a dor da própria história em combustível para escrever um futuro diferente para seus filhos, ressignificando o significado de paternidade.
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