Inadimplência encarece crédito apesar de manutenção dos juros
As taxas foram encarecidas pela inadimplência, que impulsionou o spread bancário – diferença entre as taxas que os bancos pagam para captar recursos e as que cobram dos consumidores
O congelamento dos juros básicos da economia não está chegando ao consumidor final. Enquanto a taxa Selic está em 14,25% ao ano desde julho do ano passado, os juros para os tomadores de crédito não pararam de subir no período. As taxas foram encarecidas pela inadimplência, que impulsionou o spread bancário – diferença entre as taxas que os bancos pagam para captar recursos e as que cobram dos consumidores.
Somente num intervalo de 12 meses, o spread médio subiu 9,2 pontos percentuais. Em junho, segundo os dados mais recentes divulgados pelo Banco Central (BC), o spread atingiu 39,7% ao ano. Esse é o nível mais alto registrado desde que a autoridade monetária mudou a metodologia de apuração das taxas de juros do sistema de crédito, em 2011.
Se for considerado apenas o crédito para as pessoas físicas, a diferença entre os juros de captação e aplicação correspondeu a 58,5% ao ano, alta de 13,4 pontos percentuais entre junho de 2015 e junho deste ano. Em relação aos empréstimos para as empresas, o spread atingiu 18,2% ao ano, alta de 3,2 pontos percentuais na mesma comparação.
A conta inclui apenas as linhas de crédito operadas com juros livres, sem financiamentos com taxas subsidiadas como as do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) ou com recursos da poupança. A diferença pode ser observada quando se compara a evolução das taxas usadas na captação – quando as instituições financeiras pegam dinheiro emprestado dos correntistas e oferecem juros em aplicações como poupança e CDB – e os juros cobrados na concessão de crédito.
Apesar de os bancos estarem gastando menos para captar recursos em relação ao início do ano, o consumidor ainda não sentiu a diferença. Depois de atingir o recorde de 15,2% ao ano em janeiro, a taxa média de captação para o crédito com recursos livres caiu para 9,9% ao ano em junho. Mesmo assim, as taxas finais médias para os consumidores não pararam de subir e totalizaram 52,2% ao ano em junho, também no maior nível desde o início da nova série histórica do Banco Central.
Juros recordes – Apenas nos 12 meses terminados em junho, os juros finais para os tomadores de empréstimo e financiamento subiram 8,9 pontos percentuais, turbinados pelo aumento do spread bancário. De acordo com o professor de Finanças da Fundação Getulio Vargas (FGV) Fabio Gallo, a alta do spread é explicada pelo aumento da inadimplência.
“A inadimplência é o principal fator que justifica o spread bancário. Num momento de queda da renda e do emprego, a qualidade do crédito piora. Os bancos cobram de todos o que alguns clientes não pagam, o que resulta numa taxa média maior para todos”, explica Gallo. Em maio, a inadimplência, definida pelo BC como atrasos superiores a 90 dias no pagamento de parcelas, bateu o recorde de 5,8%, recuando levemente para 5,6% em junho.
O especialista, no entanto, não descarta a possibilidade de que alguns bancos tenham aproveitado a movimentação para ampliar o lucro. “É possível que algumas instituições tenham embutido, nas taxas finais, a recomposição de margens de lucro que ficaram comprimidas nos anos de juros baixos e de crédito farto”, comenta Gallo.
Para o professor da FGV, o spread deverá cair nos próximos meses caso a economia comece a se recuperar e o movimento de queda na inadimplência se consolide. “Há indicadores que mostram que a economia está começando a sair do fundo do poço, como a produção industrial e as vendas. Se a inadimplência continuar a cair, os bancos reduzirão o spread e as taxas finais”, acrescenta.
A Agência Brasil procurou a Federação Brasileira de Bancos (Febraban) para saber os motivos da alta do spread bancário. Por meio da assessoria de imprensa, a entidade informou que não comenta temas da conjuntura econômica.
Mais notícias
-
Economia
06h50 de 12 de dezembro de 2024
BC leiloará US$ 4 bi de reservas internacionais para segurar dólar
Moeda fechou abaixo de R$ 6 pela primeira vez em duas semanas
-
Economia
06h43 de 12 de dezembro de 2024
CNDI aprova moção crítica à elevação dos juros pelo Banco Central
Órgão é presidido por vice-presidente Geraldo Alckmin
-
Economia
22h20 de 11 de dezembro de 2024
Copom eleva juros básicos da economia para 12,25% ao ano
Alta do dólar e preço dos alimentos influenciaram decisão do comitê
-
Economia
21h20 de 11 de dezembro de 2024
Haddad garante que uma semana ‘é suficiente’ para aprovar pacote de gastos
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, considerou que a conversa com os parlamentares “está indo bem”
-
Economia
18h18 de 11 de dezembro de 2024
Vendas de imóveis no país crescem 19,7%
Dados foram divulgados nesta quarta-feira (11)
-
Economia
17h52 de 11 de dezembro de 2024
Dólar cai e fecha abaixo de R$ 6,00 pela primeira vez desde o fim de novembro
Copom anuncia decisão de juros após fechamento dos mercados
-
Economia
17h42 de 11 de dezembro de 2024
Taxas de juros longas recuam com ajustes e otimismo por tramitação do pacote fiscal
Entre os contratos mais longos, a taxa para janeiro de 2031 estava em 13,81%, ante 13,997% do ajuste anterior
-
Economia
17h19 de 11 de dezembro de 2024
B3: volumes operacionais sobem, mas correlação com mercado acionário gera dificuldade
XP e BTG destacam alta em renda variável e criptos, mas apontam entraves nos derivativos e forte desvalorização das ações da bolsa no acumulado do ano
-
Economia
17h01 de 11 de dezembro de 2024
Inflação de 2,4% na Argentina em novembro é a mais baixa desde julho de 2020
Nos últimos 12 meses, a alta acumulada é de 166%, ante 209% em setembro e 193% em outubro
-
Economia
16h12 de 11 de dezembro de 2024
Nasdaq supera 20 mil pontos pela 1ª vez na história puxado por big techs e inflação
Dados de inflação demonstram que há fundamentos para um novo corte nas taxas de juros na reunião de dezembro, marcada para a próxima semana