Publicado em 18/08/2025 às 05h00.

Brasil Mestiço: 45 anos do álbum que marcou carreira de Clara Nunes

Décimo quarto disco da cantora celebra a riqueza cultural e afro-brasileira, com sucessos como Morena de Angola e Última Morada

João Lucas Dantas
Foto: Wilton Montenegro/ EMI-Odeon

 

Um dos discos fundamentais para o samba brasileiro, Brasil Mestiço, de Clara Nunes (1942–1983), completa 45 anos de lançamento nesta segunda-feira (18).

O décimo quarto álbum de estúdio da intérprete foi lançado em 1980 pela gravadora EMI-Odeon, produzido por Paulo César Pinheiro (com Renato Corrêa), e reflete a profunda relação da cantora com as raízes afro-brasileiras. No disco, reinam ritmos como jongo, maracatu e samba, celebrando a mestiçagem cultural e espiritual do Brasil.

Nascimento do álbum

O disco nasceu após uma viagem da cantora para Angola (África Central) no início de 1980, cujo ponto alto foi a participação no Projeto Kalunga, quando artistas brasileiros foram convidados a fazer uma turnê pelo país africano, atuando como um ato de solidariedade ao Partido Comunista durante a Guerra Civil Angolana.

A capa icônica é uma fotografia de Wilton Montenegro e mostra Clara dançando jongo no Morro da Serrinha, no Rio de Janeiro, acompanhada pela ialorixá Vovó Maria Joana e pelo mestre Darcy do Jongo ao fundo.

O álbum é um dos pontos altos da carreira da cantora, sendo seu maior sucesso comercial, com estimativas que ultrapassam a marca de duas milhões de cópias vendidas, incluindo cerca de 500 mil cópias certificadas. Foi o sétimo disco de ouro da cantora e rendeu a ela o prestigiado Troféu Roquette Pinto de Personalidade do Ano em Música.

Com 12 faixas imortais, destacam-se hits como Morena de Angola, composta por Chico Buarque a pedido da própria Clara; Sem Companhia, de Ivor Lancellotti e Paulo César Pinheiro, tema da novela Coração Alado, de Janete Clair; Viola de Penedo, de Luiz Bandeira; o clássico Brasil Mestiço, Santuário da Fé, de Mauro Duarte e Paulo César Pinheiro, uma celebração espiritual e cultural do país; entre outros como Peixe com Coco, Dia a Dia, Estrela-Guia, Regresso, Meu Castigo e Última Morada — cada uma marcando um aspecto musical, social ou introspectivo do disco.

Foto: Reprodução/ Redes sociais

 

Clara Mestiça

Também originou o show Clara Mestiça, dirigido por Bibi Ferreira (1922 – 2019), com roteiro de Paulo César Pinheiro e Maurício Tapajós (1943 – 1995). O espetáculo estreou em janeiro de 1981 e teve uma montagem rica em diversidade musical, passando por jongo, samba-canção, coco de roda, partido-alto e baião. Ficou em cartaz por sete meses no hoje Teatro Clara Nunes, no Rio de Janeiro, em uma época em que eram comuns longas temporadas de shows.

O álbum é uma potente afirmação da diversidade religiosa e cultural brasileira, destacando ritmos e crenças de matriz africana, especialmente a umbanda — religião abraçada por Clara como parte de sua identidade artística.

Em termos de música popular brasileira, Brasil Mestiço é considerado um dos trabalhos mais significativos e inspiradores de Clara, consolidando seu legado como intérprete e figura cultural de importância nacional. Canções como a faixa de encerramento Última Morada, composição de Natal e Noca da Portela, ganham dimensões emocionais mais profundas após sua morte em 1983, conferindo ao disco um caráter quase profético.

“Quando eu morrer / Eu quero uma batucada / Pra me levar / À minha última morada.
Quero ouvir acordes / De um violão / E o povo pelas ruas / Cantando as estrofes / Da minha canção.”

João Lucas Dantas

Jornalista com experiência na área cultural, com passagem pelo Caderno 2+ do jornal A Tarde. Atuou como assessor de imprensa na Viva Comunicação Interativa, produzindo conteúdo para Luiz Caldas e Ilê Aiyê, e também na Secretaria Municipal de Cultura e Turismo de Salvador. Foi repórter no portal Bahia Econômica e, atualmente, cobre Cultura e Cidade no portal bahia.ba. DRT: 7543/BA

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