Graduada e mestre em Relações Internacionais, com foco em Geopolítica; tem experiência em análises conjunturais para diversos institutos de pesquisa da PUC MINAS, Universidade Federal de Minas Gerais e Universidade de Groningen, na Holanda; já trabalhou na pesquisa e redação de clippings e notícias para a base de dados CoPeSe, parceria com o programa de Voluntariado das Nações Unidas.
Sim ao açaí: a gastrodiplomacia às vésperas da COP 30
Pratos típicos carregam mais do que sabor: representam história, valores e modos de vida

A Organização dos Estados Ibero-americanos (OEI), uma das entidades contratadas para auxiliar na organização da COP 30, voltou atrás e liberou a venda de açaí, tucupi e maniçoba na Conferência em questão, após uma polêmica sobre a proibição inicial desses produtos devido a riscos de contaminação. A OEI, que atua na cooperação entre países ibero-americanos em áreas como ciência, educação e cultura, havia justificado a restrição por supostos riscos de contaminação por Trypanosoma Cruzi no açaí não pasteurizado. Contudo, especialistas afirmam que as técnicas tradicionais da culinária paraense asseguram a segurança alimentar.
A decisão inicial gerou forte reação negativa, especialmente no Pará, visto que esses alimentos não são apenas 3 grandes símbolos da cultura paraense, mas também são parte fundamental da base da gastronomia local. O ministro do Turismo, Celso Sabino, conseguiu reverter a proibição, garantindo a presença de pratos paraenses na conferência. Sabino criticou a medida anterior, considerando que a mesma foi um ato discriminatório e preconceituoso com a gastronomia local:” Não tem por que, na COP da Amazônia, na COP da floresta, retirarmos especialmente os produtos da floresta”, declarou. A revogação da proibição, agora oficializada, permite que esses produtos sejam vendidos tanto na Blue Zone (área restrita a autoridades) quanto na Green Zone (área aberta ao público) da COP 30, que acontecerá em Belém em novembro de 2025.
O Ministério do Turismo ressaltou a relevância da revogação da proibição, lembrando que Belém ostenta o título de Cidade Criativa da Gastronomia pela Unesco e foi incluída pela Lonely Planet entre os dez principais destinos gastronômicos do mundo em 2024. Além do reconhecimento cultural, os números confirmam o peso econômico: o Brasil responde por cerca de 90% de toda a produção mundial de açaí. Já pratos como o tucupi e a maniçoba reforçam a tradição culinária da região, sendo preparados há séculos com técnicas que garantem sua segurança alimentar.
A mobilização para garantir a presença destes alimentos regionais no evento reforça a relevância da gastronomia como promotora da cultura e da identidade local, além de destacar o peso econômico do açaí e de outros produtos paraenses. Em uma conferência de alcance global como a COP, o Brasil já ocupa o centro da atenção internacional e tem um espaço privilegiado para afirmar sua identidade nacional, valorizar símbolos culturais e reforçar a imagem que deseja projetar ao mundo.
Neste cenário onde todos os olhares se voltam à nós, símbolos importam e muito. Política internacional não se resume ao chamado hard power, ou seja, o uso de força militar ou pressão econômica para influenciar outros atores. O soft power, que envolve a capacidade de influenciar por meios culturais e simbólicos, também desempenha papel estratégico e é parte importante da política externa de um país. Entre os instrumentos de soft power, destaca-se a chamada gastrodiplomacia: quando governos utilizam a gastronomia e a culinária para moldar percepções, criar conexões e afirmar presença no cenário internacional. A gastronomia culinária passou a ser um elemento central da identidade nacional e vem sendo utilizada de forma estratégica pelo governo para influenciar a opinião pública internacional e fortalecer a presença do país no cenário global. Para além disso, também podem funcionar como elementos de identificação e integração cultural com países vizinhos.
Pratos típicos carregam mais do que sabor: representam história, valores e modos de vida, transformando-se em ferramentas políticas de grande alcance e impacto. Desta forma, o que é escolhido para ser apresentado (ou deixado de lado) ganha um importante peso simbólico. A partir do momento em, o Pará recebe grande atenção internacional, com presença in loco de vários líderes mundiais, acessórios e imprensa – os quais terão acesso à esses produtos; eles não apenas são fonte de alimento e informação. Também comunicam mensagens poderosas, que alcançam tanto os presentes, quanto, por meio da mídia, toda a audiência global.
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