Publicado em 16/09/2025 às 11h05.

Morre Robert Redford, ícone do cinema, aos 89 anos

Ator, diretor, produtor e ativista ambiental, ele marcou gerações com legado cultural e engajamento político; confira perfil completo

João Lucas Dantas
Foto: Reprodução/ Redes sociais

 

Morreu Robert Redford, na manhã desta terça-feira (16), aos 89 anos, dormindo em sua casa no Utah. Foi ator, diretor e produtor norte-americano, e um dos maiores galãs da história de Hollywood. Conhecido pelo charme juvenil e pela diversidade de papéis no cinema, acumulou 86 créditos como ator e 10 como diretor.

Nascido em 18 de agosto de 1936 em Santa Mônica, Califórnia, Redford estudou na University of Colorado (onde jogava beisebol) até ser expulso em 1956. Posteriormente, viajou à Europa e frequentou escolas de arte em Paris e Florença antes de cursar atuação na American Academy of Dramatic Arts, em Nova York. Na década de 1950, iniciava sua carreira com pequenas participações em séries de TV. Seu primeiro grande sucesso veio em 1963, na Broadway, com a peça Barefoot in the Park, abrindo caminho para a conquista do cinema.

Carreira como ator e diretor

Redford tornou-se uma das maiores estrelas dos anos 1960 e 1970, durante a explosão do movimento da Nova Hollywood. Ao lado do também saudoso Paul Newman (1925 – 2008), protagonizou dois clássicos no começo da carreira: Butch Cassidy and the Sundance Kid (1969; dir. George Roy Hill), um faroeste inovador que redefiniu o gênero com humor e melancolia, e Golpe de Mestre (1973; dir. George Roy Hill), vencedor do Oscar de Melhor Filme e referência no cinema de trapaça.

Já em 1972, participou de Mais Forte que a Vingança (dir. Sidney Pollack), um drama de sobrevivência nas Montanhas Rochosas que lhe rendeu a imagem icônica, mais tarde transformada em meme nas redes sociais, do homem barbudo acenando positivamente com a cabeça. Em 1973, dividiu a cena com a grande Barbra Streisand em Nosso Amor de Ontem (dir. Sidney Pollack), um romance que se tornou um clássico do cinema hollywoodiano, lembrado tanto pela química entre os protagonistas quanto pela música-tema vencedora do Oscar.

Foto: Reprodução/ Redes sociais

 

Dois anos depois, em Três Dias do Condor (1975; dir. Sydney Pollack), interpretou um analista da CIA que se vê perseguido após descobrir uma conspiração dentro da própria agência. O thriller político, marcado pelo clima de paranoia da Guerra Fria, consolidou Redford como um ator versátil, capaz de transitar entre o charme de papéis românticos e a intensidade de tramas de suspense e espionagem. O filme é lembrado até hoje como um dos melhores exemplares do gênero dos anos 1970.

Em 1976, marcou para sempre o cinema, mais uma vez, com Todos os Homens do Presidente (dir. Alan J. Pakula), um drama sobre o escândalo Watergate, em que viveu o jornalista Bob Woodward, ao lado do também icônico Dustin Hoffman. O longa se tornou uma das obras definitivas sobre jornalismo investigativo e ajudou a reforçar a imagem de Redford como intérprete engajado em papéis de relevância social e política.

Nos anos 1980, Redford voltou a brilhar em Entre Dois Amores (1985; dir. Sydney Pollack), superprodução vencedora de sete Oscars, incluindo Melhor Filme. Ao lado de Meryl Streep, deu vida a Denys Finch Hatton, um caçador e aventureiro britânico no Quênia colonial. Sua interpretação equilibrada e charmosa contribuiu para o êxito do filme, que uniu romance, paisagem e drama histórico em uma das produções mais marcantes da década.

Além de ator, Redford construiu uma carreira respeitada como diretor. Em 1980, estreou na função com Gente Comum, drama familiar que surpreendeu ao conquistar quatro Oscars, incluindo Melhor Filme e Melhor Diretor. Esse prêmio consolidou sua reputação também atrás das câmeras, algo raro para grandes astros de Hollywood. Em 2002, recebeu ainda um Oscar Honorário pelo conjunto de sua obra, celebrando tanto sua carreira artística quanto sua contribuição ao cinema independente por meio do Sundance Institute.

Nas décadas seguintes, Redford continuou atuando em papéis de peso. Em Proposta Indecente (1993; dir. Adrian Lyne), interpretou o milionário que abala a vida de um jovem casal, em um dos filmes mais comentados da época. No mesmo ano, brilhou também como diretor em Nada é para Sempre, que lançou Brad Pitt ao estrelato. Em Jogo do Poder (1994), que ele produziu e dirigiu, abordou o escândalo dos programas de perguntas e respostas da televisão americana nos anos 1950 — obra indicada ao Oscar de Melhor Filme.

Nos anos 2000, destacou-se em Leões e Cordeiros (2007), drama político sobre a Guerra do Afeganistão, e em A Conspiração (2010), onde atuou e dirigiu uma história ligada ao assassinato de Abraham Lincoln. Em 2013, surpreendeu a crítica com Até o Fim, no qual praticamente sustenta sozinho o filme como um marinheiro à deriva, rendendo-lhe elogios por sua entrega física e emocional.

Mesmo em idade avançada, manteve relevância: em Meu Amigo, o Dragão (2016), encantou uma nova geração em um papel paternal, e em The Old Man & The Gun (2018) fez uma espécie de despedida do cinema de atuação, interpretando com carisma um ladrão de bancos veterano.

Foto: Reprodução/ Redes sociais

 

Prêmios e honrarias

Redford foi amplamente reconhecido pela indústria cinematográfica. Venceu o Oscar de Melhor Diretor em 1981 por Gente Comum (Ordinary People); recebeu também o Oscar Honorário de carreira em 2002. Foi indicado como Ator em 1973 (Golpe de Mestre) e por produzir Quiz Show em 1994, mas sem vitória nesses anos.

Ganhou o prêmio BAFTA de Melhor Ator em 1970 por Butch Cassidy and the Sundance Kid. Foi indicado sete vezes ao Globo de Ouro, vencendo Melhor Revelação por Inside Daisy Clover (1966) e Melhor Diretor por Gente Comum (1980). Em 1994, recebeu o Prêmio Cecil B. DeMille em reconhecimento à carreira, além de inúmeros outros prêmios.

Ativismo e projetos sociais

Além do cinema, Redford se notabilizou por seu ativismo ambiental e cultural. Em 1981, fundou o Instituto Sundance (originado no Utah/US Film Festival de 1978), dedicado a apoiar cineastas independentes, especialmente norte-americanos. O Festival de Cinema Sundance, promovido pelo instituto, tornou-se um dos principais palcos mundiais para o cinema independente, lançando diretores como Steven Soderbergh, Quentin Tarantino e os irmãos Coen.

Paralelamente, Redford engajou-se em causas ambientais de destaque. Presidiu e financiou projetos ecológicos em Utah – por exemplo, liderou campanhas contra a construção de termelétricas na região sudeste do estado (Kaiparowits). Serviu como membro do conselho do grupo ambientalista NRDC (Conselho de Defesa dos Recursos Naturais) por décadas, promoveu encontros internacionais sobre o meio ambiente no Sundance Institute (incluindo cientistas soviéticos durante a Guerra Fria) e doou recursos para a preservação de áreas naturais em Utah.

Politicamente, era conhecido por apoiar candidatos liberais e democratas. Em suas palavras, Redford desejava “usucapir sua celebridade para chamar atenção a causas” como energia limpa e conservação. Esse engajamento social foi reconhecido no discurso da Casa Branca sobre sua Medalha da Liberdade: “Seu ativismo ao longo da vida em prol do meio ambiente será tão legado duradouro quanto seus filmes premiados, assim como seu apoio pioneiro a cineastas independentes nos EUA; sua arte e ativismo continuam a moldar o patrimônio cultural da nação”.

Vida pessoal

Redford manteve sua vida pessoal relativamente reservada, mas é público que foi casado duas vezes. Entre 1958 e 1985, foi marido da escritora e historiadora Lola Van Wagenen, com quem teve quatro filhos – dois faleceram ainda jovens. Em 2009, casou-se com a pintora alemã Sibylle Szaggars. A família dividia-se entre residências em Utah, Nova York e Califórnia.

Manteve interesses diversos (arte, esportes – foi jogador de beisebol – e filantropia), mas raramente buscou a mídia, cultivando uma imagem discreta, longe dos escândalos.

Foto: Reprodução/ redes sociais

 

Legado e influência cultural

Robert Redford é amplamente reconhecido como um dos mais influentes ícones do cinema americano do século XX. Críticos e colegas celebraram seu impacto: o The Guardian definiu-o como um “verdadeiro gigante do cinema americano” cuja carreira cruzou a Nova Hollywood e a indústria tradicional; o crítico Peter Bradshaw (do mesmo jornal) o chamou de “supremo astro belíssimo que mudou Hollywood para sempre”.

Sua figura de galã refinado que também era realizador e defensor do cinema independente ajudou a quebrar estereótipos sobre astros de Hollywood. Quanto ao legado prático, o Instituto e Festival Sundance são talvez suas marcas mais duradouras: por décadas, abriram espaço para filmes e cineastas emergentes nos EUA e serviram de modelo para festivais independentes pelo mundo.

Paralelamente, seus filmes – especialmente do início dos anos 1970 – continuam influentes; obras como Butch Cassidy, The Sting e Todos os Homens do Presidente figuram em listas de clássicos, sendo revisitadas por críticas e cineastas. Segundo o New York Times, Redford foi um “magnífico subator” que cativou pela sutileza emocional.

Seu ativismo ambiental, documentado por ONGs e celebridades, inspirou movimentos ecológicos locais (como em Utah) e internacionais. Em resumo, sua carreira multifacetada (ator, diretor, produtor, festival) e sua “advocacia vitalícia em prol do meio ambiente” foram apontados pela Casa Branca como parte de seu duradouro legado cultural.

Redford deixa homenagens em festivais, prêmios e retrospectivas em todo o mundo, consolidando sua influência na sétima arte americana.

João Lucas Dantas

Jornalista com experiência na área cultural, com passagem pelo Caderno 2+ do jornal A Tarde. Atuou como assessor de imprensa na Viva Comunicação Interativa, produzindo conteúdo para Luiz Caldas e Ilê Aiyê, e também na Secretaria Municipal de Cultura e Turismo de Salvador. Foi repórter no portal Bahia Econômica e, atualmente, cobre Cultura e Cidade no portal bahia.ba. DRT: 7543/BA

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