Publicado em 05/11/2025 às 13h19.

‘Estado não é matador’, diz Jerônimo sobre operação contra Comando Vermelho

Ele reconheceu o alto índice de letalidade policial e defendeu comitê de combate à violência da PM

Raquel Franco
Foto: GOVBA

 

O governador da Bahia, Jerônimo Rodrigues (PT), defendeu a modelagem da Operação Freedom, deflagrada na terça-feira (4). Os policiais prenderam 38 suspeitos ligados ao Comando Vermelho (CV) e um suspeito foi morto. O governador também se manifestou sobre o alto índice de letalidade policial no estado, o maior do país.

Em entrevista concedida ao UOL News nesta quarta-feira (5), Jerônimo destacou que a Operação Freedom não foi uma resposta à megaoperação realizada no Rio de Janeiro, mas sim o resultado de um ano de investigações e inteligência da Polícia Civil.

“O estado não tem o papel historicamente de um estado matador. O estado tem que ter um pulso forte, a presença de um estado que resiste à atuação de um crime organizado, ele tem que ter e dar resposta, porque a sociedade, as famílias, as pessoas precisam exercer seu direito de ir e vir”, afirmou Jerônimo.

Letalidade policial

Questionado sobre o fato de a polícia da Bahia ser a que mais mata no Brasil, o governador reconheceu que é um desafio. Segundo dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública de 2025, de janeiro a setembro, 1.252 pessoas morreram em ações da polícia no estado, superando os números de Rio de Janeiro e São Paulo somados.

“É um número que eu tenho que enfrentar”, disse Jerônimo, ao citar o programa Bahia pela Paz e a criação de um comitê para enfrentar a violência policial. “Nós criamos um comitê de acompanhamento de planejamento de ações. Nós estamos prontos para instalar o comitê com ouvidoria e corregedoria para enfrentar esse tema por dentro“, afirmou.

O governador ponderou que a Polícia Militar da Bahia é bicentenária e que o modelo que gera a alta letalidade é histórico, sendo combatido desde o início da gestão do Partido dos Trabalhadores no estado, em 2007. Ele afirmou que o esforço é fazer “as correções devidas, respeitando os direitos humanos, mas também oferecendo as condições de trabalho [aos policiais].”

Jerônimo insistiu em sua filosofia. “O conceito mais forte que nós temos, é que a polícia existe para proteger as vidas. Esse é o conceito. Eu estou trabalhando para isso”, disse.

Crime organizado 

O governador defendeu que o problema do crime organizado é nacional, não se restringindo a um único estado, citando que a Operação Freedom buscou um chefe de facção no Ceará, assim como criminosos da Bahia foram encontrados em operações no Rio de Janeiro.

“Nós não somos uma ilha. A estratégia deles [criminosos] funciona. Portanto, é preciso que a gente faça o esforço de estado,” defendeu o governador, apelando para que a discussão de segurança pública não seja contaminada por interesses eleitorais.

Ele destacou que o enfrentamento deve ser feito em duas frentes. Segundo Jerônimo, na parte da polícia o foco deve ser no investimento, inteligência, equipamentos, e no corte do circuito financeiro do crime organizado, objetivo central das operações recentes como a Freedom e a Primus.

A segunda é a área social, por meio de ações transversais como a abertura de escolas em comunidades nos finais de semana e em tempo integral para disputar com o crime a atenção de jovens e famílias, superando os “vazios que essas comunidades” enfrentam em saúde, segurança, e cultura.

O governador Jerônimo concedeu entrevista no dia seguinte à deflagração da Operação Freedom, durante o anúncio de novos investimentos e medidas para a segurança pública da Bahia.

Raquel Franco
Natural de Brasília, formou-se em produção em comunicação e cultura e em jornalismo pela Universidade Federal da Bahia (UFBA). Também é fotógrafa formada pelo Labfoto. Foi trainee de jornalismo ambiental na Folha de S.Paulo.

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