Jornalista com experiência na área cultural, com passagem pelo Caderno 2+ do jornal A Tarde. Atuou como assessor de imprensa na Viva Comunicação Interativa, produzindo conteúdo para Luiz Caldas e Ilê Aiyê, e também na Secretaria Municipal de Cultura e Turismo de Salvador. Foi repórter no portal Bahia Econômica e, atualmente, cobre Cultura e Cidade no portal bahia.ba.
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Publicado em 17/11/2025 às 15h45.
Há 40 anos, Cazuza lançava ‘Exagerado’ e mudava rumo do rock brasileiro
O disco revelou a nova fase artística do cantor após deixar o Barão Vermelho e se tornou um marco cultural
João Lucas Dantas

Há exatos 40 anos, no dia 17 de novembro de 1985, Agenor de Miranda Araújo Neto debutava seu primeiro álbum solo após sair da sua banda que havia movimentado o cenário musical. O cantor, compositor e poeta logo explodiu as paradas com seu próprio disco.
Assim pode ficar difícil de adivinhar de quem estamos falando, ou porque isso seria uma data importante, basta saber que estamos falando de Cazuza, logo após deixar o Barão Vermelho.
Cazuza (1985), mais conhecido como Exagerado, foi produzido por Ezequiel Neves e Nico Rezende, lançado pela Som Livre (cujo dono era João Araújo, pai de Cazuza). O cantor havia deixado a banda alegando ser “muito egoísta” para dividir as atenções, buscando a liberdade de expressão total. Bom, pelo menos, era honesto em relação às intenções.
Durante a gravação, ele convidou amigos para musicar suas letras, com parcerias com Leoni, Renato Ladeira, Rogério Meanda, entre outros, formando um som mais pop rock e new wave, distintamente mais leve e contemporâneo do blues rock do Barão.

Do Barão Vermelho à carreira solo
Várias faixas de Exagerado já tinham origem na banda. O amigo e parceiro de Barão, Frejat, confirmou que músicas como “Exagerado”, “Rock da Descerebração”, “Só as Mães São Felizes” e “Balada de um Vagabundo” foram reaproveitadas da fase do grupo.
Por exemplo, “Balada de um Vagabundo” (parceria Frejat/Waly Salomão) foi gravada a pedido de Waly Salomão depois de deixar de lado um disco do Barão. Outra composição marcante, “Codinome Beija-Flor” (Cazuza/Ezequiel/Reinaldo Arias), nasceu quando Cazuza, internado com pneumonia, observou beija-flores na janela do hospital, uma imagem que se transformaria em uma de suas letras mais delicadas.
Em gravações, os arranjos de Nico Rezende, que também tocou os pianos, deram ao álbum um clima contemporâneo. Nos baixos, Décio Crispim, nas guitarras, Rogério Meanda, teclados sob o comando de João Rebouças, bateria e percussão com Fernando Moraes e Zé Luís no saxofone formaram a nova banda para a carreira solo do cantor.
Com dez faixas que enfileiraram hits, somando cerca de 36 minutos de música, o disco foi lançado em meio à expectativa desse rompimento. Na época, o álbum teve críticas majoritariamente positivas e excelente desempenho comercial, registrou cerca de 100 mil cópias vendidas logo após o lançamento, sendo rapidamente certificado como disco de ouro. Seu sucesso continuaria por anos, com vendas totais superando as 750 mil cópias.
A faixa “Só as Mães São Felizes” chegou a ser censurada inicialmente por palavrões e temas provocadores, embora depois liberada. Já o single “Exagerado” foi tratado pela mídia como um verdadeiro hino. Hoje é visto como um clássico atemporal do rock nacional, consolidando Cazuza como poeta e porta-voz de sua geração.
Em retrospectiva, críticos e historiadores destacam que o disco simbolizou o “amadurecimento” do rock brasileiro, a liberdade lírica e temas ousados de Cazuza (“poesia, identidade, morte, política”) abriram caminho para uma nova fase do gênero. Na avaliação atual, Exagerado figura frequentemente em listas de melhores álbuns brasileiros e reforça o legado de Cazuza como cantor visceral e contestador.

Composição, letras e curiosidades
O álbum marca a estreia solo de Cazuza e já abre com sua faixa mais emblemática. A canção-título, escrita com Ezequiel Neves e Leoni, misturou bolero, exagero poético e uma declaração de amor levada ao limite.
Apesar do sentido romântico evidente, parte da crítica e estudiosos apontam possíveis metáforas relacionadas ao uso de drogas nas expressões “carreira”, “dinheiro” e “canudo”, algo que ajuda a explicar por que a música mantém tantas camadas interpretativas até hoje.
O álbum também traz momentos mais introspectivos, como “Medieval II”, parceria com Rogério Meanda, que explora tensões entre passado e modernidade com uma sonoridade menos convencional na discografia de Cazuza. Já “Cúmplice”, composta com o saxofonista Zé Luiz, aposta em energia pop-rock e virou favorita dos fãs pelos shows, mesmo sem ter sido single.
Entre as baladas, “Mal Nenhum”, escrita com Lobão, destaca o lado mais lírico de Cazuza, contrastando com as faixas mais agressivas do disco. Outro ponto alto é “Balada de um Vagabundo”, de Frejat e Waly Salomão, que Cazuza acabou absorvendo com naturalidade, reflexo da química artística entre o trio.
“Codinome Beija-Flor”, nascida durante uma internação, é uma das composições mais delicadas e universais do cantor. Inspirada pelos beija-flores que via da janela do hospital, tornou-se um dos maiores sucessos da carreira solo, reverenciada até hoje por sua sensibilidade quase confessional.
O disco ainda experimenta sonoridades mais urgentes e caóticas em “Desastre Mental”, parceria com Renato Ladeira, enquanto “Boa Vida”, com Frejat, traz leveza e celebração, equilibrando o clima geral da obra. Também com Frejat surgem as duas faixas mais polêmicas. “Só as Mães São Felizes”, inicialmente barrada pela censura por seu vocabulário direto e provocador, e “Rock da Descerebração”, um rock acelerado e satírico que ironiza comportamentos vazios e fecha o LP com humor ácido e energia típica dos anos 80.

Impacto cultural e legado
Exagerado é apontado como marco do rock brasileiro. A crítica destaca que, com ele, Cazuza ampliou os limites temáticos do gênero, incluindo poesia explícita, política e ironia, algo até então raro. A faixa-título tornou-se a canção-ícone de sua carreira; em 2018 a Rolling Stone Brasil e outros veículos referiram-se a Cazuza como o “eterno poeta exagerado” que mantinha vivo o espírito do rock nacional.
O álbum consolidou Cazuza como “poeta de uma geração” e imortalizou sua imagem impulsiva (como resumiu um colunista: “Cazuza era exagerado no amor, na vida e na morte”). Com o passar das décadas, Exagerado entrou para o “panteão da música nacional”.
Em anos recentes, o legado segue vivo. Em junho de 2025 foi inaugurada no Rio de Janeiro a exposição imersiva “Cazuza Exagerado”, reunindo mais de 700 itens pessoais e cenários temáticos sobre a obra do cantor, celebrando o aniversário de 40 anos.
Além disso, em comemoração aos 40 anos do álbum houve relançamentos comemorativos: por exemplo, o selo Três Selos Rocinante lançou uma edição especial em vinil com capa replicando o LP original e até faixa bônus inédita (“Amor Amor”). Essas ações reforçam a influência cultural duradoura de Exagerado, mantendo a obra de Cazuza acessível e celebrada pelas novas gerações.
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