Publicado em 19/11/2025 às 11h00.

‘Wicked: Parte II’ encerra saga sem a magia musical do primeiro filme

Com visual caprichado e ótimo desempenho das protagonistas, continuação falha em entregar momentos marcantes

João Lucas Dantas
Elphaba e Glinda em Wicked: Parte II. Foto: Giles Keyte/Universal Pictures

 

Wicked: Parte II (Wicked: For Good) é continuação do sucesso musical de 2024, que encerra a história de Elphaba, a Bruxa Má do Oeste, e Glinda, a Bruxa Boa do Norte, em uma reimaginação dos personagens clássicos de O Mágico de Oz (1939), inspirados no musical homônimo de grande sucesso na Broadway.

O filme, que estreia nos cinemas brasileiros nesta quinta-feira (20), segue sob a direção do mesmo responsável pela primeira parte, Jon M. Chu. Aqui temos um desfecho anticlimático, um musical insosso, sem canções marcantes, sustentado pelo carisma das duas protagonistas, interpretadas por Cynthia Erivo e Ariana Grande.

A primeira parte havia sido uma surpresa agradável. Após verdadeiros desastres cinematográficos oriundos da Broadway, como Cats (2019), era de se esperar uma certa desconfiança por parte da legião de fãs que a história carrega. Porém, a continuação de 2025 não se manteve à altura do seu antecessor.

Elphaba vive no exílio, escondida na floresta de Oz, enquanto continua sua luta pela liberdade dos animais silenciados e tenta desesperadamente expor a verdade que conhece sobre o Mágico (Jeff Goldblum).

Enquanto isso, Glinda se tornou o glamouroso símbolo da bondade para todo o reino de Oz, ela vive no palácio da Cidade das Esmeraldas e desfruta das vantagens da fama e da popularidade. Sob a orientação de Madame Morrible (Michelle Yeoh), Glinda tem se tornado um conforto efervescente ao povo de Oz ao tranquilizar as massas de que tudo está bem sob o governo do Mágico.

Foto: Giles Keyte/Universal Pictures

 

Feitiço se voltou contra o feiticeiro

Um bom filme musical se sustenta, além de todos os elementos tradicionais do cinema, em boas canções. Não é como se todos os números musicais do primeiro filme funcionassem, porém havia momentos apoteóticos, como o final, quando Elphaba protagoniza “Defying Gravity“. Aqui, parece impossível sair do filme lembrando de alguma grande canção como as anteriores.

O roteiro de Stephen Schwartz, Winnie Holzman e Gregory Maguire trata os personagens como se estivessem lidando em meio à Vila Sésamo. A Elphaba da Cynthia Erivo, tendo que lidar com os animais falantes feitos em uma computação gráfica pobre, lembrou mais o Garibaldo quando tinha de lidar com os personagens humanos.

No colorido mundo de Oz, são injustificáveis as escolhas de uma fotografia tão lavada e acizentada. Uma coisa é inegável: o design de produção dos dois longas é impecável. Os cenários construídos de forma prática são vivos e contagiantes, mas se perdem completamente na falta de imaginação da fotografia de Alice Brooks, que parece não saber trabalhar com contrastes e saturação para valorizar a vivacidade do universo.

Ao longo de cansativos 2h17min, vemos, da forma mais desanimadora possível, que não havia a necessidade real de mais um filme deste tamanho para encerrar esta história.

O Mágico ao lado de Elphaba
Foto: Giles Keyte/Universal Pictures

 

A magia do elenco e o lamentável musical

Na segunda parte, as aguardadas versões de “No Good Deed” e “For Good” se sustentam pelos impressionantes vocais das duas protagonistas, principalmente da Cynthia Erivo, que se mostrou uma grande cantora e uma atriz expressiva.

Aqui, o maior problema é que a direção de Jon M. Chu perdeu a mão em como costurar os momentos de diálogo com os números musicais, que fluíam tão naturalmente no primeiro capítulo. Na segunda parte, parece uma colagem de videoclipes, onde interrupções bruscas são feitas a todo momento, sem a construção narrativa que tornavam as duas coisas uma só no antecessor.

A maior parte dos personagens parece ter se tornado caricatura deles mesmos, principalmente Madame Morrible, de Michelle Yeoh (ganhadora do Oscar por Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo), que, além de não ser uma boa cantora, protagoniza alguns dos momentos mais constrangedores do longa.

Por sorte, para equilibrar, temos a perfeita escalação do sempre excelente Jeff Goldblum (Jurassic Park) como o Mágico de Oz, que aqui está claramente livre de qualquer amarra, deixando todas as suas esquisitices e caretas tomarem conta da tela. Nunca é demais quando se trata de Jeff Goldblum.

Porém, um musical que não entrega sequências musicais intensas ou marcantes perde completamente o seu sentido de ser; afinal de contas, são muitos os números. Todas as cenas protagonizadas pela personagem Nessa, irmã da Elphaba (Marissa Bode), são de dar pena, quando colocadas lado a lado do resto do elenco.

O Fiyero, de Jonathan Bailey (Bridgerton), também acrescenta bem ao carisma em tela, mesmo com o texto extremamente pobre que é dado ao seu personagem.

 

Fiyero e Glinda
Foto: Giles Keyte/Universal Pictures

 

Tentativa de dramaticidade

Um grande trunfo da primeira parte era o bom humor presente ao longo de todo o filme. Aqui, temos uma sequência que apela muito mais para uma tentativa de seriedade e deposita um grande tom de drama nas personagens principais. Quando as duas se soltam, em algumas poucas cenas, vemos o potencial perdido.

Ariana Grande tem uma grande veia cômica, é hilária quando quer, e Cynthia Erivo faz jus ao bom humor da parceira de filme. Porém, na Parte II, as duas estão envoltas em uma carga dramática tão grande que tornam suas personagens soturnas, que não fazem valer os deslumbrantes e coloridos figurinos que usam.

É óbvio que a ameaça e o amadurecimento das duas eram necessários para a evolução das personagens, mas a mudança de tom de um filme para o outro parece ter feito perder aquilo que as consagrou no imaginário popular em primeiro lugar.

O maior problema do segundo filme, no entanto, é tudo que envolve o quarteto principal do clássico Mágico de Oz. O Homem de Lata, o Leão Covarde, o Espantalho e a Dorothy aqui são maltratados de uma forma que parecem ter saído de um roteiro de fanfic sugerida por uma inteligência artificial qualquer.

A necessidade que domina o cinema moderno de explicar origens para absolutamente todas as histórias consagradas estraga a magia dos mistérios da cultura pop. E, aqui, principalmente, parece um verdadeiro insulto à lembrança de um filme tão querido e marcante na história do cinema mundial.

Conclusão

No balanço final, Wicked: Parte II tem méritos pontuais, sobretudo o elenco (com destaque para Erivo, Grande e Goldblum) e o acabamento de produção, mas falha em sua função mais essencial, que é transformar canções em experiências memoráveis e justificar, narrativa e esteticamente, a própria extensão da história.

O filme abre mão do humor na maior parte do tempo, dilui os momentos musicais que deveriam emocionar e corrói o mistério que tornou a mitologia de Oz duradoura, resultando em uma continuação que, apesar de brilhantes lampejos, não honra nem amplia aquilo que tornou o primeiro longa uma surpresa tão bem-vinda.

João Lucas Dantas
Jornalista com experiência na área cultural, com passagem pelo Caderno 2+ do jornal A Tarde. Atuou como assessor de imprensa na Viva Comunicação Interativa, produzindo conteúdo para Luiz Caldas e Ilê Aiyê, e também na Secretaria Municipal de Cultura e Turismo de Salvador. Foi repórter no portal Bahia Econômica e, atualmente, cobre Cultura e Cidade no portal bahia.ba. DRT: 7543/BA

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