Dias antes de aderir a ACM Neto, Cafu fazia juras de lealdade a Jerônimo e Otto

A súbita migração do deputado estadual Cafu Barreto (PSD) para o grupo do ex-prefeito de Salvador, ACM Neto (União Brasil) balançou os bastidores da política baiana no ínicio da semana.

O movimento, oficializado na terça-feira (18), contrastou frontalmente com o discurso público que o parlamentar vinha sustentando até poucas semanas atrás, marcado por juras de fidelidade ao PSD, elogios reiterados ao governador Jerônimo Rodrigues (PT) e reverências ao presidente estadual da sigla, o senador Otto Alencar.

Nos corredores do PSD, o sentimento é de perplexidade. Isso porque Cafu manteve até outubro uma rotina de juras enaltecendo o partido e suas lideranças.

No mês passado, durante o próprio aniversário, o deputado compartilhou um vídeo com felicitações do governador Jerônimo, do senador Angelo Coronel, da presidente da Assembleia Legislativa da Bahia (ALBA), Ivana Bastos, do deputado federal Diego Coronel e do deputado estadual Angelo Filho, todos quadros do grupo político que ele agora abandona.

Vai apagar as fotos?

A incoerência fica ainda mais evidente em uma postagem feita por Cafu em outubro, após uma reunião com Jerônimo e Otto Alencar. Na ocasião, o parlamentar escreveu um texto exaltando a “união do PSD” e o “orgulho de caminhar ao lado” de Otto, a quem chamou de líder inspirador. No mesmo texto, disse manter “lealdade e responsabilidade” com o partido.

Apesar de mudar de lado, Cafu parece ter esquecido de apagar as fotos com o “ex”. Em seu perfil, continuam disponíveis fotos e vídeos ao lado de Jerônimo Rodrigues, acompanhadas de legendas exaltando o governador, sorrindo e agradecendo. 

Surpresa e irritação no PSD

A forma como a migração foi conduzida provocou reação dura entre as lideranças da sigla. O senador Otto Alencar, principal alvo das juras recentes do deputado, afirmou ter sido pego totalmente de surpresa.

“Ele não me deu satisfação nenhuma, não me falou nada, se afastou do nosso grupo e foi pro grupo do ex-prefeito [ACM Neto]. Eu lamento isso, não esperava. Pelo menos, ele devia ter hombridade, me ligar e dar uma satisfação. Agora que ele já foi, ele deveria encaminhar um pedido de afastamento do partido, eu dou a liberação e ele vai embora, não tem nenhum problema”, afirmou o senador.

A presidente da ALBA, Ivana Bastos (PSD), também relatou espanto e classificou o movimento como um “tiro no pé”. Segundo ela, a saída não foi comunicada nem mesmo aos colegas de bancada.

“Soube através das redes sociais. Não encontrei o deputado Cafu, por sinal tem sido muito ausente aqui na Casa. Logo quando vi essa matéria, liguei para o deputado Ângelo Filho, que é o líder do PSD na Assembleia, que estava tão surpreso quanto eu, também sabendo pela imprensa. Eu acho que ele deu um tiro no pé”, afirmou.