Publicado em 14/12/2016 às 18h45.

‘Moana’ acrescenta profundidade à fórmula Disney

Moana não precisa ser salva: ela é independente, forte e faz parte de uma comunidade onde todos contribuem de maneira igual para o bem-estar do todo

Clara Rellstab
Foto: Divulgação/Disney
Foto: Divulgação/Disney

 

O aguardado novo trabalho de John Musker e Ron Clements, “Moana – Um Mar de Aventuras”, só chega aos cinemas brasileiros no dia 5 de janeiro, mas já foi assistido pelo bahia.ba – em exibição exclusiva na Comic Con Experience. Aos desavisados, a dupla de diretores da Disney é responsável por clássicos como “A Pequena Sereia” (1989), “Aladdin” (1992) e “Hércules” (1997).

O filme, assim como o último deles “A Princesa e O Sapo” (2009), inova ao trazer uma protagonista fora da fórmula Disney que, apesar da personagem de Dwayne Johnson insistir que “se você usa saias e tem um animal falante como amigo, você é uma princesa”, chega nem perto. Moana (Auli’i Cravalho) é filha única do chefe de uma tribo polinésia, que acaba escolhida pelo oceano para devolver a relíquia mística da deusa Te Fiti, que foi roubada pelo semideus Maui (Johnson), e tem causado a escassez de peixes e alimentos na península. O colar em questão só pode ser devolvido por ele e é em busca deste ser mitológico que ela zarpa em um barco a fim de salvar o seu povo.

O semideus, que sofreu críticas de uma deputada do Tonga por ser uma “péssima representação dos polinésios”, é o grande destaque do filme. Apropriação cultural, estereótipos e lugar de fala à parte, o grandão rouba a cena com suas tatuagens que, assim como as musas do filme Hércules, ajudam a contar a história de maneira paralela à narrativa principal. A evolução do herói é mais importante até do que a da própria Moana, porque esta, desde o início, parece saber bem o que quer.

Moana não precisa ser salva: ela é independente, forte e faz parte de uma comunidade onde todos contribuem de maneira igual para o bem-estar do todo. Talvez por conta disso parece que tudo na história se resolve fácil demais. No enredo não há vilões ou plot-twist: os obstáculos são aqueles criados pelas próprias limitações e receios das figuras principais.

 

Foto: Divulgação
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A avó da protagonista promete tirar do sério os pais mais conservadores. Com tatuagem de arraia nas costas e ordenando que a menina se liberte das amarras do pai superprotetor, a velhinha serve como o pontapé que faltava para a garota deslanchar. Assim como o significado do desenho que carrega no corpo – e que no decorrer da narrativa ganha ainda mais destaque do que a tinta lhe reservou – na cultura Maori, o animal simboliza a sabedoria, proteção e também perigo. Um adágio popular da tribo alerta: “Sábio é o homem que deixa a arraia em paz”. E isso é tudo que pode ser revelado sem que os spoilers tomem conta.

Presença quase que obrigatória nos desenhos, o animal-fiel-escudeiro do personagem principal, desta vez, é uma escolha ousada. O galo Heihei, diferentemente do macaco Abu, do peixe Linguado e do sátiro Filoctetes, não ajuda em nada a garota – muito pelo contrário. Com o hábito de comer pedras e sua falta de senso de direção, o bichinho vai tirar boas risadas da plateia, como não poderia deixar de ser: ele foi descrito pelo diretor Ron Clements como “o personagem mais idiota na história da Disney”.

A trilha sonora instrumental é assinada por Mark Mancina e as canções pelo compositor da Broadway, Lin-Manuel Miranda e do músico polinésio Opetaia Foa’i. Apesar da agradável “How Far I’ll Go”, não espere um novo hit como “Let It Go”. A primazia aqui está na qualidade e na aproximação com as músicas típicas da Oceania e não na canção que gruda.

“Moana – Um Mar de Aventuras” acrescenta profundidade a uma fórmula testada e repetida da Disney e funciona muito bem como mais uma redenção do estúdio aos seus anos e mais anos de protagonistas femininas insossas.

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