Publicado em 26/01/2017 às 08h43.

Versão em português da 1ª ópera negra tem estreia mundial no TCA

"Treemonisha", de Scott Joplin, marca ainda o lançamento do Núcleo de Ópera da Bahia, idealizado pelo maestro Aldo Brizzi e que pretende criar um mercado local

James Martins
Foto: Divulgação
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A estreia mundial da versão em português da ópera Treemonisha, de Scott Joplin, acontece nesta quinta-feira (26), às 21h, no Teatro Castro Alves. Os ingressos custam R$ 30/R$ 15 (filas A a P), R$ 20/R$ 10 (Q a Y) e R$ 10/R$ 5 (Z a Z11). O evento marca ainda o lançamento do Núcleo de Ópera da Bahia, idealizado pelo maestro ítalo-baiano Aldo Brizzi e formado por cerca de 70 músicos, cantores e bailarinos. “Ópera é um gênero popular, no mundo inteiro, ou de raiz popular. Era um pouco o cinema antes de Hollywood. Imagine que entre 1640 e 1644, no auge das óperas de Monteverdi, o sucesso foi tão grande que só na cidade de Veneza foram construídos, em quatro anos, 44 teatros para apresentar ópera”, diz Brizzi, em conversa com o bahia.ba.

Sobre a situação local, ele coloca: “Na Bahia, são vários anos em que não se apresenta ópera nenhuma e, na realidade, o segredo de uma casa de ópera é a continuidade e a originalidade do repertório. Aqui foram feitas ópera(çõe)s esporádicas e com obras sempre de repertório tradicional”, lamenta. E continua: “Na Bahia existem cantores de ópera (o cast de Treemonisha o demonstra) que têm nenhuma possibilidade de crescer como cantores de ópera sem ‘migrar’ para outros estados (quem tem dinheiro para isso) ou cantar em coral, casamentos e pequenos concertos”.

É na lacuna dessa necessidade que, explica o maestro, entra o núcleo recém-criado. “O Núcleo de Ópera da Bahia quer: 1 – Criar um repertório ousado, inovador e popular, sem competir com as programações de teatro de ópera de outros estados ou países. 2 – Dar oportunidade aos cantores locais de participarem de uma fantástica aventura artística, como uma ópera é (com muitos pormenores que, se não se faz ópera nem pensa que possam existir: movimento cênico, figurino, luzes, muitos ensaios, ligar texto: personagem, qualidade vocal, interpretação). Ou seja, a profissionalização do cantor lírico baiano”.

Foto: Divulgação
Uma cena de Treemonisha, que tem cenários e figurino de Alberto Pitta (Foto: Divulgação)

 

Contudo, a Bahia não entra apenas como sede, o que poderia ser em qualquer lugar. Nos projetos operísticos do artista, a Bahia entra mais que como cenário, como personagem. “E procurar ou criar óperas ligadas à cultura negra, como Treemonisha, onde a Bahia pode dar algo a mais que se a mesma ópera fosse programada em outro lugares. A prova disso é que “A Nova Ópera de Lisboa”, quando ficou sabendo de uma versão de Treemonisha em português, quis programar a ópera em Lisboa. Agora, depois de ver fotos e vídeos da versão baiana, quer figurino e elenco dos cantores baiano em Lisboa”, festeja Aldo.

O núcleo, que tem sede no Palácio da Aclamação (Campo Grande), pretende, além de montar duas produções por ano, realizar na própria sede uma
série de atividades durante o ano inteiro.

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Dividida em três atos, Treemonisha foi a primeira ópera escrita por um compositor negro de que se tem notícia. A apresentação fala do período da escravidão, tema comum às realidades brasileira e norte americana, através do qual Scott Joplin, o rei do ragtime, criou uma mistura de ritmos e melodias se fundindo em uma mensagem: somos todos seres humanos e podemos conviver juntos. A obra chegou a ser comparada à Flauta Mágica, de Mozart.

Para Aldo Brizzi, a prova de que a ópera pode ser popular se deu na última segunda-feira (23), no ensaio do Cortejo Afro, onde o Núcleo de Ópera comparece com arranjos novos para canções de Gilberto Gil. “Esta semana fizemos duas músicas de Treemonisha com coro e orquestra no palco, juntos à percussão do Cortejo. O convidado era [a banda de pagode] É O Tchan. As duas músicas de Treemonisha receberam uma aclamação do público digna do palácio!”, diz ele, jogando trocadilhescamente com o nome da sede cedida pelo Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia (Ipac). E finaliza: “E os percussionistas participaram desta performance com tanto gosto, que nunca vi uns batuqueiros afro nunca pararem de sorrir durante toda a música, todos!”, celebra.

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