Publicado em 14/02/2017 às 09h26.

Historiadora defende que a palavra ‘mulata’ não vem de mula

Lita Chastan, autora de "Por Que América", propõe uma nova etimologia para o termo polêmico que recentemente voltou à discussão no país

Redação
"Duas mulatas" (1962), por Emiliano Di Cavalcanti (Foto: reprodução).
“Duas mulatas” (1962), por Emiliano Di Cavalcanti (Foto: reprodução).

 

A palavra mulata, cujo uso voltou a ser discutido após um bloco de carnaval do Rio de Janeiro anunciar que boicotaria a canção “Tropicália”, de Caetano Veloso, por causa do verso “os olhos verdes da mulata”, ganha agora uma nova possibilidade de interpretação etmológica, pela historiadora Lita Chastan.

Comentando a proposta de boicote, Caetano se manifestou: “Na ‘Aquarela do Brasil’, canção que é globalmente conhecida como ‘Brazil’ – e que é nosso hino não oficial -, o país é chamado de mulato, logo na segunda linha. Meu pai era mulato. Me considero mulato e adoro a palavra”, disse.

O problema todo seria etmológico, pela palavra provir de mula – indicando mestiçagem, hibridismo, e esterilidade. Porém, segundo Chastan, autora de “Por Que América?”, a origem do termo pode ser outra. “A palavra mulata poderia ter se originado do termo árabe muwallad (= mestiço de árabe com ‘não árabe’). O homem que ‘garimpou’ essa palavra (muwallad), conhecia, presenciara e presenciava essa mestiçagem, tanto assim, que buscou em sua língua uma definição (registrando e batizando-a), não deixando margem a nenhuma dúvida: muwallad = mestiço de árabe com ‘não árabe’. Esse homem a quem se deve esse registro, tudo indica que poderia ser um árabe do norte da África e que referia-se (inicialmente) ao mestiço do árabe com a negra – a não árabe’, diz ela.

Após explicar os raptos de mulheres por tribos nômades, Lita Chastan destaca a presença da cultura árabe na formação da língua portuguesa. “Podemos visualizar o árabe atravessando o Estreito de Gibraltar (711 d.C.). Desde então, no decorrer de oito séculos (711–1492), o vocabulário português viu-se enriquecido com centenas de palavras árabes, dentre as quais, por extensão e analogia, mulata”, afirma, no artigo “MULATA, estudo de um caso mal contado”. E completa: “Muwallad (mualad, mulad) = mestiço do árabe com o ‘não árabe’ / Mulata = mestiça do branco com a negra. Concluímos (ainda na década de 1980), na tão querida e saudosa Unitau – cursando história, frente a frente com a História da Península Ibérica, que a palavra mulata é corruptela do termo árabe muwallad (mualad, mulad, mulata)”.

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