Indenização de presos só impactará orçamento a longo prazo
Decisão do STF de que estados devam indenizar presos em caso de situação degradante não causará impacto instantâneo
A decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de que os governos têm obrigação de indenizar presos por danos morais, caso fique comprovado que ele foi submetido à situação degradante no cárcere, só deve impactar o orçamento dos Estados a longo prazo, afirmam especialistas. O Estado consultou especialistas em Direito Administrativo, Penal e Segurança Pública.
A Suprema Corte analisou na quinta-feira, 16, o recurso de um presidiário do Mato Grosso do Sul, que dormia com a cabeça encostada em um vaso sanitário e alegava violação do princípio da dignidade humana. A decisão foi unânime e tem repercussão geral, ou seja, as diferentes instâncias devem seguir o entendimento do STF. No entanto, houve divergência sobre a forma de indenização adotada, mas a maioria optou pela pecuniária.
Para o advogado Bruno Boris, especialista em Direito Administrativo e professor da Universidade Mackenzie, a decisão vai afetar o erário público, mas deve demorar para os governos começarem a sentir o impacto. “Os processos não costumam ser muito rápidos, ainda mais contra o Estado, que tem prazos dobrados e faz pagamento de valores altos em precatório”, afirma “A conta só vai começar a ser paga daqui a dez, 15, 20 anos.”
Segundo o especialista, a demora pode acabar beneficiando os governos atuais e prejudicar as próximas gestões. “Se os governadores de hoje tivessem risco efetivo de responder por improbidade administrativa, má gestão do recurso público, aí sim eles encarariam de outra maneira”, diz Boris.
Para evitar o impacto das indenizações, o advogado Rafael Custódio, especialista em Direito Penal Econômico e coordenador de Justiça da ONG Conectas, defende que os Estados façam “um pente fino” nas unidades e identifiquem presos que não deveriam estar encarcerados. “É importante avaliar, porém, que a dignidade da pessoa humana tem prevalência constitucional em relação a orçamentos de qualquer natureza”, diz.
“Temos um problema muito grave nos presídios e, talvez, a decisão do STF ajude a melhorar essas condições”, afirma o cientista político André Zanetic, do Núcleo de Estudos da Violência da USP. “Não cabe ao Supremo definir problemas orçamentários do Estado e nem como será a execução do orçamento. Cabe ao Supremo decidir uma questão legal e de Justiça.”
Alegação – Apesar de apoiar a decisão do STF, o advogado Rafael Custódio afirma ver com preocupação como os presos irão comprovar terem passado por situação degradante. “Não fica muito claro na decisão qual grau de comprovação será exigido”, afirma. “Quem conhece uma realidade carcerária sabe que, no Brasil, uma cela para oito recebe 25 pessoas. Por si só, me parece que deveria gerar direito à reparação”, diz.
O especialista defende que o STF edite uma súmula vinculante para regulamentar a decisão. “Como o Supremo não detalha, fica uma dúvida quanto à efetividade dessa decisão. Como o Judiciário vai reagir? Como o Executivo vai reagir? O preso vai entrar na Justiça e esperar dez, 12 anos? Isso não é Justiça”, afirma.
Já o advogado Bruno Boris é da visão de que a denúncia do presidiário precisa ser especificamente comprovada. “Ainda que a situação dos presídios seja algo notório, não podemos falar que toda a população carcerária viva em estado de calamidade”, afirma. “A simples alegação de dano moral não é suficiente. O preso tem de provar que houve tratamento degradante.”
Boris também é da opinião de que a Justiça tende a arbitrar indenização baixa para os presos. “Até por uma questão de preconceito social”, diz. “A indenização que o Estado costuma pagar em situações como essa é muito menor do que indenizações pagas após uma pessoa morrer por erro médico, por exemplo.”
“À medida que as condições previstas não são cumpridas nos presídios e o preso está sob custódia do Estado, é o Estado quem tem de ser responsabilizado”, afirma Zanetic. “São essas condições que têm feito com que facções criminosas tomem conta dos presídios. Elas acabam aproveitando para aliciar presos que não têm o mínimo de proteção e de saúde por parte do Estado.”
Mais notícias
-
Brasil
12h15 de 30 de abril de 2024
PRF inicia campanha Maio Amarelo, com ações educativas de trânsito
Edição deste ano dará atenção especial a motociclistas
-
Brasil
07h54 de 30 de abril de 2024
Mega-Sena sorteia nesta terça-feira prêmio acumulado em R$ 6,5 milhões
Apostas podem ser feitas até as 19h, horário de Brasília
-
Brasil
07h51 de 30 de abril de 2024
Brasil passa de 4 milhões de casos de dengue; mortes chegam a 1.937
Outros 2.345 óbitos estão sendo investigados
-
Brasil
16h59 de 29 de abril de 2024
Concurso selecionará profissionais de TI para contrato temporário
Servidores atuarão em transformação digital do governo federal
-
Brasil
16h18 de 29 de abril de 2024
Provas do Concurso Unificado serão aplicadas em mais de 75 mil salas
Maior certame da história do país, diz governo federal
-
Brasil
14h29 de 29 de abril de 2024
Conselho orienta estabelecimentos penais sobre manifestação religiosa
Prisões devem assegurar assistência e aconselhamento socioespiritual
-
Brasil
13h23 de 29 de abril de 2024
Governo aumenta público-alvo da vacinação contra HPV
Pacientes com papilomatose respiratória deverão ser imunizadas
-
Brasil
13h10 de 29 de abril de 2024
Garçom esfaqueia e mata vereador em restaurante no Ceará
César Araújo Veras (PDT) foi golpeado no pescoço; outra duas pessoas também foram atacadas
-
Brasil
13h00 de 29 de abril de 2024
Motoristas das categorias C, D e E têm até 3ªfeira para fazer exame
Teste toxicológico é obrigatório em todo o país
-
Brasil
11h00 de 29 de abril de 2024
Concurso do TRF da 2ª Região está com inscrições abertas
São oportunidades para profissionais com formação superior em diversas áreas e remunerações iniciais que podem ultrapassar os R$ 13.900