‘Nomes já estavam há meses no tititi’, diz prefeito sobre Lava Jato
José Ronaldo evitou reconhecer gestor de Salvador como seu líder, negou interferência para Colbert Martins permanecer em Feira e admitiu pretensão de concorrer ao Senado
O prefeito de Feira de Santana, José Ronaldo de Carvalho (DEM), não se mostrou surpreso com a lista do ministro-relator da Operação Lava Jato no Supremo Tribunal Federal (STF), que colocou no rol de investigados 31 políticos da Bahia (veja aqui e aqui), alguns dos quais seus aliados. “Todos os nomes ventilados aí já estão há seis ou oito meses no tititi, todo mundo comentando”, afirmou, em entrevista exclusiva ao bahia.ba.
Entre os citados está justamente o seu vice, Colbert Martins (PMDB), suspeito de receber recursos via caixa 2 para sua campanha à Câmara Federal em 2014. “A versão que ele me deu é que o que ele recebeu está registrado na sua declaração de prestação de contas da campanha. Tem lá o valor estipulado. Um valor, inclusive, bem superior ao que dizem que entregaram a ele posteriormente”, disse o democrata.
Ainda sobre Colbert, Ronaldo negou ter influenciado na decisão do peemedebista, que preferiu o cargo no município em detrimento a ocupar o posto de suplente da deputada Tia Eron (PRB), que retornou ao posto de secretária de Promoção Social e Combate à Pobreza de Salvador. “Ele fez a opção de continuar vice-prefeito e foi uma decisão pessoal dele. Eu não tive interferência nenhuma. Apenas perguntei a ele: ‘e aí, você vai para onde?’ Ele respondeu: ‘Vou continuar sendo vice-prefeito. Fui eleito e vou continuar vice-prefeito’”, citou.
Sobre o gestor soteropolitano, ACM Neto (DEM), o chefe do Executivo feirense declarou ver potencial no correligionário para disputar o governo do Estado em 2018, mas refutou a tese de que ele é o principal líder do seu grupo político atualmente. “Eu diria que ele é um grande companheiro, entendeu? […] e acho que ele tem tudo para ser um líder político também. […] Para ele ser candidato a governador, só depende dele. Se ele realmente quer ser candidato a governador, ele tem partido, tem amigos, tem companheiros, tem tudo para ser. Sendo candidato a governador, ele tem tudo para se transformar em um líder político e eu não vejo dificuldades em fazer parte deste grupo onde ele será um líder”, argumentou.
Postulante derrotado ao Senado em 2010, o prefeito de Feira admite o interesse em novamente compor uma chapa majoritária: “Sim. Ninguém aqui pode ficar afirmando ‘dessa fruta não comerei’, não é, meu amigo? Política é uma coisa extremamente dinâmica. A vida é dinâmica, imagine política, né?”.
Confira abaixo a entrevista na íntegra:
bahia.ba – Sua relação é melhor com o senador Otto Alencar ou com o prefeito de Salvador ACM Neto?
José Ronaldo – Inegavelmente com ACM Neto. Ele é do meu partido e fizemos as últimas campanhas juntos. De vez em quando a gente senta para trocar uma conversinha sobre política. Conversamos muito sobre política. Otto foi meu colega desde quando eu cheguei na Assembleia Legislativa, nunca deixamos de nos cumprimentar. Depois que ele virou senador eu pouco o vejo, mas isso não quer dizer que a gente não tenha respeito, e acho que esse respeito é mútuo.
.ba – Antonio Carlos Magalhães era o seu líder e de Otto quando vocês eram deputados na Assembleia. Atualmente, você considera ACM Neto como o seu líder político?
JR – Eu acho que Neto é um jovem muito talentoso, inteligente e faz uma belíssima administração como prefeito. Foi um parlamentar de muita visibilidade, como deputado federal foi líder, sem dúvida um grande parlamentar. Acho que tem um futuro bom pela frente. Acho que tem competência para exercer qualquer cargo político. Amadureceu muito, embora seja jovem. Tem todos os predicados para disputar qualquer cargo que deseje e está sabendo lidar no mundo da política. Quem tem estas qualidades, também tem poder para liderar.
.ba – Então ele é o seu líder político…
JR – Eu diria que ele é um grande companheiro, entendeu? Eu estou falando aqui com toda sinceridade. É um grande companheiro e acho que ele tem tudo para ser um líder político também. Não há a menor dúvida de que ele tem tudo para se transformar em um líder político, não é? Um líder político em nível estadual. Ele está em um momento importante para isso, está na estrada. Porque, para ele ser candidato a governador, só depende dele. Se ele realmente quer ser candidato a governador, ele tem partido, tem amigos, tem companheiros, tem tudo para ser. Sendo candidato a governador, ele tem tudo para se transformar em um líder político e eu não vejo dificuldades em fazer parte deste grupo onde ele será um líder.
“Para ele [ACM Neto] ser candidato a governador, só depende dele. Ele tem partido, tem amigos, tem companheiros, tem tudo para ser.”
.ba – Houve um caso, recentemente, que uniu as prefeituras de Salvador e Feira de Santana em relação a Colbert Martins. Tia Eron foi chamada de volta por ACM Neto para reassumir a Secretaria de Promoção Social e Combate à Pobreza (Semps) e a vaga dela na Câmara dos Deputados seria do seu atual vice-prefeito, mas ele não topou ir para Brasília. Houve alguma participação sua nesta decisão?
JR – Essa foi uma decisão dele, pessoal. Ele foi eleito vice-prefeito e tem quatro anos para exercer a função, ou, quem sabe, alguma coisa no futuro político. Ninguém pode ficar aqui sendo “madame Beatriz”, não é?
.ba – Ou o senhor pode ser candidato ao Senado…
JR – Sim. Ninguém aqui pode ficar afirmando “dessa fruta não comerei”, não é, meu amigo? Política é uma coisa extremamente dinâmica. A vida é dinâmica, imagine política, né? Então, ele fez a opção de continuar vice-prefeito e foi uma decisão pessoal dele. Eu não tive interferência nenhuma. Apenas perguntei a ele: “e aí, você vai para onde?” Ele respondeu: “Vou continuar sendo vice-prefeito. Fui eleito e vou continuar vice-prefeito”. É uma decisão dele. Colbert tem suas opiniões próprias, sempre teve e vai continuar tendo. Não há a menor dúvida disso.
.ba – O fato de ele estar entre os citados nas delações da Lava Jato, inclusive, em uma das petições enviadas pelo Supremo Tribunal Federal (STF) para a Justiça Federal da Bahia, atrapalha de alguma forma a administração de Feira de Santana? O senhor fica preocupado com o fato de Colbert Martins ser um dos políticos baianos citados?
JR – Eu tenho certeza de que ele vai ter oportunidade, quando for convocado, de se explicar e dar a sua versão. A versão que ele me deu é que o que ele recebeu está registrado na sua declaração de prestação de contas da campanha. Tem lá o valor estipulado. Um valor, inclusive, bem superior ao que dizem que entregaram a ele posteriormente. Então, ele confirma que recebeu, que fez a declaração, e ele nega que recebeu este outro valor. Ele, com certeza, ao ser citado, vai ser intimado e, no momento apropriado, vai dar as explicações.
“A versão que ele [Colbert] me deu é que o que ele recebeu está registrado na sua declaração de prestação de contas da campanha. Um valor, inclusive, bem superior ao que dizem que entregaram a ele posteriormente.”
.ba – Como o senhor vê a questão da Lava Jato, como político e líder de grupo, considerando que há citados da maioria dos partidos, inclusive o DEM e o PSDB?
JR – Eu acho que a Lava Jato está fazendo uma revolução política no país. Houve o “Mensalão” e quando as investigações estavam em andamento nós acreditávamos que ele faria uma revolução política no Brasil. Tempos depois apareceu o “Petrolão”, esse negócio aí da Lava Jato, né? Sincera e honestamente, eu achava que depois do Mensalão não iria ter mais isso. Infelizmente aconteceu e eu acho que o povo brasileiro tem a grande oportunidade de passar tudo isso a limpo. Eu não estou aqui para condenar ninguém, não tenho esse direito, nem jamais farei isso. Eu acho que todas as pessoas que estão sendo citadas terão direito à defesa. Apenas é uma citação, um pedido de abertura de inquérito. Ou seja, todos terão direito a defesa e todos vão fazer suas defesas. Mas esta questão toda aí, evidentemente, eu enxergo que na próxima eleição, do ano que vem, deverá haver uma boa renovação no mundo da política do Brasil. Ninguém em sã consciência vai ter ideia de saber quem serão os candidatos à Presidência da República. Então, para você fazer uma campanha no estado para governador e senador, eu acho que é extremamente importante saber quem são os candidatos a presidente. Você não vai fazer uma campanha no estado divorciada da campanha para presidente da República. Tem de ser uma coisa casada: a coligação, os partidos, os grupos políticos. Eu acho que nestes próximos quatro ou cinco meses este assunto vai dominar muito. Mesmo porque, ainda tem muita gente fazendo acordo de delação, não é? Vai tomar muito tempo ainda. Vamos ver o que acontece.
.ba – Sem citar nomes, se sentiu decepcionado com alguns dos nomes suspeitos?
JR – Olha, essas coisas já vêm há tanto tempo se comentando na própria imprensa… Todos os nomes ventilados aí já estavam há seis ou oito meses no tititi, todo mundo comentando. Eu acho que a gente precisa separar determinadas coisas. Se você fez um acordo com uma empresa para usar dinheiro público, pagar um débito que o poder público tem com esta empresa, para poder receber algo em troca, eu acho isso gravíssimo. Agora, se uma empresa chegou lá e entendeu que aquele deputado era uma pessoa influente ou era uma pessoa de futuro e oferece um recurso para ele fazer uma campanha, eu acho isso diferente. E está aparecendo muito esse tipo de coisa aí. O povo vai fazer o julgamento. Eu sou um político que não gosta de julgar o outro político. Eu posso julgar dentro do meu interesse partidário, ideológico, de eleição etc. Quem tem que fazer o julgamento do político é o povo. Hoje todo mundo sabe tudo. Hoje a divulgação é extremamente mais ampla, chega com facilidade a qualquer lugar do estado ou do país.
.ba – O senhor foi candidato a senador em 2010 e a prefeito em 2012 e 2016 e não está citado na Lava Jato, embora vários colegas seus de partido e coligação estejam. O senhor já chegou a ser assediado, teve alguma proposta indecorosa em relação a financiamento de campanha?
JR – Não.
.ba – Nunca fizeram nenhuma abordagem com o senhor sobre isso?
JR – Não. Eu não conheço essas pessoas. Poderia dizer que um ou dois eu conhecia de vista, mas nunca sentei com nenhuma dessas pessoas para conversar sobre assunto de empresa ou política.
“Eu não conheço essas pessoas [operadores da Odebrecht]. Poderia dizer que um ou dois eu conhecia de vista, mas nunca sentei com nenhuma dessas pessoas para conversar sobre assunto de empresa ou política.”
.ba – Em relação ao São João, já existe algum planejamento ou a festa vai sofrer algum impacto devido ao ano de crise?
JR – Antes do São João nós temos a Micareta de Feira, que neste ano será realizada entre 18 e 21 de maio. Nós estamos trabalhando desde 2014 procurando manter a tradição. Esta é a micareta de número 78. São 78 anos de história. Nós estamos trabalhando neste ano com o orçamento semelhante ao das festas anteriores e faremos da mesma forma o São João e o São Pedro. Nós estamos mantendo a tradição sem aumentar despesas. Estamos fazendo as licitações na infraestrutura necessária. Quanto às bandas, um [Wesley] Safadão, por exemplo, que custa R$ 500 mil, não vai.
.ba – Então Safadão não vai para Feira…
JR – Por esse preço ele não vai. Mas aí a gente coloca um que leve um grande público por um preço bem menor. A Micareta de Feira é a terceira maior festa em mobilização de público em rua do país, só perde para o Carnaval de Salvador e o Galo da Madrugada, em Pernambuco.
.ba – A maior preocupação do público em relação à Micareta de Feira é a violência. O que a prefeitura tem planejado junto ao governo do Estado para ajustar a segurança pública?
JR – Eu aproveito para convidar a todos porque não tem problema de insegurança. Eu posso assegurar que são dos dias mais tranquilos de Feira de Santana, durante a Micareta. A Polícia Militar comparece em massa e faz um excelente trabalho de segurança.
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