Antonio Jorge Ferreira Melo é coronel da reserva da PMBA, professor e coordenador do Curso de Direito do Centro Universitário Estácio da Bahia e docente da Academia de Polícia Militar.
A arte imita a vida
Já existem rumores no mundo do espetáculo de que a atual crise política brasileira poderá servir de inspiração a uma nova série política da Netflix


Não é novidade que as semelhanças entre a crise política brasileira e a série do Netflix “House of Cards”, há muito, inspiram os noticiários da mídia nacional e internacional, além de inundar as redes sociais com analogias recheadas de sarcasmo que, em certos momentos, nos levam a questionar se a versão correta do ditado popular, “a vida imita arte”, em verdade, não deveria ser “a arte imita a vida”.
Não por acaso, aliás, nada por acaso, o jornal alemão Die Zeit já chegou a afirmar, fazendo uma comparação, que a realidade brasileira é bem melhor que a ficção da série americana, achando difícil entender os porquês de tantos brasileiros ainda se interessarem por “House of Cards”, mesmo “jurando de pés juntos” que não gostam de política.
Nesse sentido, na última quinta-feira (19), a morte do ministro Teori Zavascki, relator da Operação Lava Jato no Supremo Tribunal Federal, em um súbito e, para muitos, misterioso acidente aéreo na região de Paraty, no litoral do Rio de Janeiro, acrescentou mais uma variável que pode mudar, completamente, o deprimente roteiro do filme que está sendo rodado na política nacional e que, com certeza, cairia, como uma luva, em um seriado policial do tipo “Força Tarefa”.
Diante do nosso caótico e nebuloso cenário politico, onde as suspeitas valem mais que qualquer fato demonstrável, é natural que a morte do magistrado tenha dado azo ao surgimento de várias teorias conspiratórias, inspiradas e alimentadas pelo rol de episódios históricos em que políticos e autoridades brasileiras também perderam a vida, em circunstancias que ainda não são consideradas devidamente esclarecidas.
Da próxima vez em que a arte imitar a vida, não escarneça. Não é só mera coincidência!
Apesar das teorias conspiratórias em andamento, é importante lembrar o histórico de acidentes aéreos na região e que o sinistro será apurado pela aeronáutica, através do Cenipa (Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos), pelo Ministério Público Federal, pela Polícia Federal, pelo Ministério Público do Rio de Janeiro, sob o olhar atento e ávido por noticias da mídia nacional e internacional. Portanto, é prematuro antecipar o que ocorreu, pois, a queda de uma aeronave não pode ser atribuída a apenas uma causa, já que, normalmente, é uma serie de circunstâncias que leva ao desastre.
Conspiração ou não, o fato é que a trágica morte do ministro Teori Zavascki, chocou o mundo político, levando a opinião pública nacional a temer pelo futuro da operação Lava Jato e dos processos judiciais que vêm gerando desdobramentos surpreendentes, imprevisíveis e fora do normal até mesmo para os padrões brasileiros.
Teori Zavascki deixou a vida para entrar para a história. Afinal, por causa de sua centralidade na megainvestigação a cargo do STF, pelo menos na teoria, estariam em suas mãos dados e informações, colhidos na já denominada “delação do fim do mundo”, que poderiam transformar a república brasileira em um verdadeiro “castelo de cartas”.
O futuro da operação Lava Jato já está em novas mãos e, independentemente dos inevitáveis atrasos, à medida que o tempo passe, a tendência é que a situação se agudize, fazendo aparecer mais nitidamente, no enredo desse drama, o papel de protagonistas que, aos poucos, saem das sombras dos bastidores para as luzes do palco.
Com certeza, há algo de muito podre nos reinos fora da Dinamarca, sempre que uma serie cinematográfica se torna uma realidade fictícia mais desejável do que a própria realidade humana. Infelizmente, não é sem sentido que já existem rumores circulando no mundo do espetáculo de que a atual crise política brasileira poderá servir de inspiração a uma nova série política do Netflix. Portanto, da próxima vez em que a arte imitar a vida, não escarneça. Não é só mera coincidência!
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