A Constituição de 1988 x ODS da ONU: um chamado à Inteligência Cidadã
Artigo de Paulo Cavalcanti
Há 36 anos, o Brasil deu um passo histórico com a promulgação de sua Constituição Federal de 1988, uma carta cidadã e solidária que já antecipava, de forma pioneira, os princípios consagrados anos depois pelos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e pela agenda ESG (ambiental, social e governança), hoje celebrados em todo planeta como um marco global.
Mas vamos refletir juntos: por que só enxergamos isso agora? Por que foi necessário que uma agenda internacional, criada em 2015, nos fizesse despertar o olhar para algo que já estava presente, há 27 anos, em nossos fundamentos constitucionais?
A resposta é simples: ao longo dessas décadas, não conseguimos reconhecer a riqueza e profundidade de nossos próprios fundamentos constitucionais, indispensável para a sua efetividade. Perdemos a oportunidade de compreender que, ao desenvolver a inteligência cidadã, estaríamos, como nação, mais preparados para alcançar uma sociedade justa, igualitária, próspera e sustentável.
Não se trata de minimizar a relevância do Pacto Global, mas de destacar que o Brasil, com sua Constituição, já havia apontado caminhos claros para a erradicação da pobreza e a promoção da igualdade de gênero, da proteção ambiental e do desenvolvimento sustentável. Contudo, sem a plena valorização e prática da inteligência cidadã, essas diretrizes se mantiveram distantes da realidade da maioria dos brasileiros.
A inteligência cidadã é tão essencial quanto a inteligência intelectual e emocional. Juntas, essas três dimensões formam a base para uma transformação cultural que nos leve de uma sociedade passiva a uma sociedade verdadeiramente consciente e participativa. A inteligência cidadã nos permite compreender nossos direitos e deveres, enxergar nosso papel no fortalecimento das instituições democráticas e agir em prol do bem comum. É ela que nos conecta à essência de nossa Constituição e nos capacita para sermos sujeitos ativos da transformação dos nossos ideais em ações concretas.
Precisamos resgatar o que é nosso, reconhecer a força e a visão de nossa Constituição de 1988 e utilizá-la como guia para um futuro mais promissor. Somente quando unirmos o aprendizado das inteligências intelectual, emocional e cidadã seremos capazes de superar os desafios históricos e culturais que ainda nos afastam da justiça social, da sustentabilidade e da verdadeira cidadania.
O futuro do Brasil está nas mãos de cidadãos conscientes, capazes de unir conhecimento, empatia e responsabilidade para desenvolver sentimentos de pertencimento e transformar a sociedade. A Constituição nos deu a base; cabe a nós amadurecermos a nossa inteligência cidadã para honrá-la e torná-la viva em nossas ações diárias. Afinal, a mudança começa em cada um de nós, mas só se concretiza com a união de todos.
Paulo Cavalcanti é presidente da Fundação Paulo Cavalcanti, que surgiu como uma via de transformação, voltada para o desenvolvimento político, social e econômico do nosso país. A Organização da Sociedade Civil (OSC), suprapartidária e sem fins lucrativos, criada em 2021, com sede na cidade de Salvador, Bahia.
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